quinta-feira, 20 de setembro de 2018

ISTO VAI DOER


Autor: Adam Kay

Título original: This Is Going to Hurt




Sinopse: Isto Vai Doer é um relato emocionante, cómico, e assustador de quem esteve na linha da frente no Serviço Nacional de Saúde britânico, numa profissão na qual as horas semanais de trabalho podem chegar a noventa e sete, em que diariamente é necessário tomar decisões de vida ou morte e a vida pessoal é relegada para segundo plano, não existindo tempo para os amigos e para relações duradouras.
Esta é a história pessoal de Adam Kay, que utilizou o seu extraordinário sentido de humor para contar a sua experiência enquanto médico interno no Serviço Nacional de Saúde britânico. Em 2010, após seis anos de formação e outros seis como médico, abdicou da profissão por sentir que as condições impostas pelo sistema eram extremas e irracionais, nomeadamente remuneração mal ajustada em relação ao nível de responsabilidade exigido, que tiveram um forte impacto na sua vida profissional e pessoal.



Este tem sido um dos livros mais falados dos últimos tempos e depois de se ler, percebe-se porquê. Existem dois fatores que rapidamente saltam à vista e que tornam o livro num bestseller. Em primeiro lugar o facto de tudo parecer muito realista e de ser um mundo que não se conhece em detalhe e, em segundo, por se tratar de um livro muito divertido e inteligente.

Olhando para estes dois ponto, começamos pelo mais simples: o humor. Com uma escrita interessante, bem estruturada e bastante cómica quando é preciso, o autor consegue aliviar bastante a tensão que os momentos narrados impõem ao leitor. Basicamente esta é uma narrativa sobre um homem que todos os dias teve de lidar com situações limite, decisões complicadas e ainda a frustração de não lhe ser dado os meios com os quais o seu trabalho teria mais frutos. Claro que muitas profissões sofrem do mesmo, mas o facto de aqui estarmos a falar de saúde e, no limite, da diferença entre estar vivo ou morto, então o livro causa um grande impacto a quem está a ler, sentindo-se frustração, admiração, tensão, etc... é por tudo isto que o sentido de humor do autor é tão refrescante, porque consegue fazer-nos rir num livro que deveria ser claramente tenso e alarmante mas que no final acaba por ser mais divertido do tenso.

O primeiro ponto, o facto de ser realista que mencionei antes, está totalmente ligado ao ponto acima. Este é um livro de histórias reais e o leitor sente o peso por saber que está a ler algo realista. São vários os momentos em que criamos uma ligação emocional com o personagem principal porque enfrentamos esta narrativa como algo real. Perante tal noção, quer direta ou indiretamente, o enredo acaba por ter um peso maior, levando a maior emoção, quer seja de revolta, alegria ou tristeza. 

O livro, que está bem montado para que o leitor não consiga parar de ler, oferece uma imagem interessante sobre a profissão do autor, por vezes quase angustiante, não só pela forma como o autor tem de lidar com alguns momentos mas também pela força de alguns momentos e também pela injustiça que iremos presenciar. 

Com toda esta narrativa torna-se fácil perceber o enorme impacto que esta profissão teve no autor, quer em termos psicológicos, mas também na vida profissional e pessoal. Mas, é refrescante ver este sentido de humor. Talvez seja assim que tudo deve ser enfrentado, com humor, com um sorriso. E este livro oferece isso mesmo, um sorriso.

Luís Pinto

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