sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O CÍRCULO


Autor: Dave Eggers

Título original: The Circle





Sinopse: No dia em que Mae Holland é contratada para trabalhar no Círculo, a empresa de internet mais influente do mundo, sabe que lhe concederam a oportunidade da sua vida. Através de um inovador sistema operativo, o Círculo unifica endereços de e-mail, perfis de redes sociais, transações bancárias e códigos de utilizador, construindo uma identidade virtual única no sentido da criação de uma nova era de transparência. Mae Holland entusiasma-se com a atividade da empresa, os amplos espaços para o desenho, as cafetarias envidraçadas e as acolhedoras instalações do campus. Todos os dias se organizam festas, concertos ao ar livre e, claro, atividades desportivas. E há diversos géneros de clubes e acesso a um aquário de peixes exóticos. Mae sente-se feliz por participar num turbilhão que parece fazer parte do centro do mundo, apesar de se distanciar cada vez mais da sua vida fora do campus. Mas o que começa como uma fascinante história de ambição profissional e idealismo depressa se transforma num romance de suspense que coloca algumas das mais candentes questões da atualidade: o papel da memória, o passado, a privacidade, a democracia e os limites do conhecimento.



Este é um dos livros mais famosos dos últimos tempos, apesar de em Portugal não ter tido o impacto que teve noutros países. A história de imediato me chamou a atenção, principalmente por ser um tema que tenho lido bastante e que se aproxima do fantástico livro 1984.

A base é simples: a nossa sociedade está a mudar a uma velocidade enorme. Estamos todos conectados e por normal iniciativa partilhamos cada vez mais tudo o que fazemos, onde estamos, com quem estamos. Com esta base social, o autor explora um conceito simples da psicologia e que tanto se tem falado no mundo da informática: as pessoas comportam-se melhor quando estão a ser observadas. 

De um ponto de vista crítico, o livro tem algumas falhas, principalmente porque algumas personagens são demasiado estereotipadas e de imediato sabemos como são e não nos surpreendem. Alguns momentos são forçados ou previsíveis, mas  não foi por isso que li mais devagar. É óbvio que algo está mal neste mundo que o autor cria. Percebe-se que aos poucos este enredo se tornará num thriller em que interesses e ganância se irão sobrepor a tudo o resto, e realmente é isso mesmo que o livro é.  Um thriller que explora a nossa sociedade.

Por outro lado, e apesar de a maioria delas serem óbvias, gostei bastante das personagens, quer das boas, quer das más. O enredo é viciante desde o início, primeiro por criar uma imagem fantástica do futuro da nossa sociedade, e depois, aos poucos, por começar a revelar os perigos do que estamos agora a criar. Poucas invenções mudaram tão rapidamente a nossa vida de forma tão global como o computador e internet. A questão é se temos noção de todas as mudanças e das possibilidades. Sendo eu uma pessoa que trabalha nesta área, este tema torna-se fascinante e alvo de grande estudo.

O trunfo do livro é a crítica que faz e as questões morais que levanta. Se informação é poder, então muitas empresas estão a arrecadar poder com todas as nossas ações. O livro explora como estamos dependentes de certas tecnologias e do que estamos dispostos a sacrificar para termos outras coisas... e, acima de tudo, este livro explora o quanto poderíamos alcançar se trabalhássemos para um bem comum e não por ganância, interesses ou poder.

Enquanto crítico literário vejo que este livro não é fantástico. Tem falhas e não consegue ser genial apesar da sua fantástica base narrativa. No entanto, enquanto leitor, é impossível não gostar desta obra e que recomendo a todos os que se interessem por este tema, que será, cada vez mais, um tema de conversa por todos aqueles que estejam dispostos a questionar tudo o que nos rodeia.

Luís Pinto  

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O ASSASSINO DO BOBO


Autor: Robin Hobb

Título original: Fool's Assassin





Sinopse: Tomé Texugo tem levado uma vida pacífica há anos, retirado no campo na companhia da sua amada Moli, numa vasta propriedade que lhe foi agraciada por serviços leais à coroa. Mas por detrás da sua respeitável fachada de homem de meia-idade, esconde-se um passado turbulento e de violência. Na verdade, ele é
FitzCavalaria Visionário, um bastardo real, utilizador de estranhas magias e assassino. Um homem que tudo arriscou pelo seu rei, com grandes perdas pessoais.
Até que, numa noite fatídica, um mensageiro chega com uma mensagem que irá transformar o seu mundo. O passado arranja sempre forma de se intrometer no presente, e os acontecimentos prodigiosos de que foi protagonista na companhia do seu grande amigo, o Bobo, vão voltar a enredá-lo. Se conseguirem, nada na sua vida ficará igual…



Todos nós temos autores que de imediato nos fazem sentir algo diferente. A forma como entramos nos seus mundos, como nos levam a visitar locais imaginários, a sentir algo por certas personagens, a vibrar e sofrer. Entre os autores que me oferecem estas sensações, está Robin Hobb, autora da qual já li tantos livros, e que durante tantas horas me fez viajar nas aventuras de Fitz sem conseguir parar de ler.

Agora Fitz está de volta, a expectativa era enorme, mas não tive qualquer momento de desilusão. Robin Hobb criou um grande livro! De um ponto de vista crítico, este é, talvez, o melhor livrode toda a saga de Fitz, mas já lá vamos. O que temos aqui é um livro extremamente completo e capaz de iniciar uma nova trama com detalhes que certamente farão a diferença nos livros seguintes.

Em primeiro lugar, a autora continua a explorar Fitz, mas não só. Aliás, uma vez mais, a autora consegue desenvolver as suas personagens de forma coerente com o que já conhecemos delas, mas também com uma forte ligação ao que está a acontecer. Motivos, medos, traumas, a autora explora tudo com mestria para que nada pareça fora do lugar.

Pelo meio, o mundo criado por Hobb continua a mostrar que ainda tem muito para ser explorado e raramente senti algo forçado. A isto junta-se um bom enredo, bem pensado, bem estruturado e que não só oferece momentos que não se esquecem, como prepara toda a trilogia nestas páginas. Diálogos inteligentes e uma narrativa bem sustentada nos motivos e objetivos de Fitz, levam-nos a não conseguir parar de ler, principalmente pela intriga e pelas questões morais que levanta.

Em muitos aspetos este é um dos melhores livros de Fitz. Nota-se que a autora continua a evoluir e que criou uma boa base que justifique ao leitor regressar e aos personagens continuarem. Acredito plenamente que está aqui o início de uma fantástica trilogia.

Luís Pinto

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

DINASTIA


Autor: Tom Holland

Título original: Dynasty - The Rise and Fall of the House of Caesar




Sinopse: Primeiro governada por reis, Roma tornar-se-ia uma república. Mas no fim, após conquistar o mundo, a república desmoronou-se. Roma afogou-se em sangue. As guerras civis foram tão terríveis, que o povo romano acolheu de bom grado o governo de um autocrata que lhes poderia dar a paz. «Augusto», o seu novo senhor, intitulava-se O Divino Favorito.
O fantástico esplendor da dinastia fundada por Augusto nunca esmoreceu. Nenhuma outra família se compara em fascínio com a sua galeria de personagens: Tibério, o grande general que acabou os seus dias como um recluso amargurado, célebre pelas suas perversões; Calígula, o mestre da crueldade e humilhação; Agripina, a mãe de Nero, cujas manobras levaram o filho ao poder, e que acabaria por morrer por ordem dele; Nero, que pontapeou a mulher grávida até à morte, que se casou com um eunuco, e que ergueu um palácio de prazer no centro dos escombros de uma Roma destruída pelo fogo.



O Império Romano, um dos mais incríveis que já existiu, é um tema que sempre gostei de ler. Neste livro, Tom Holland explora uma parte da História de Roma, focando-se numa dinastia que tem tanto para contar que só um livro tão grande conseguiria explorar com detalhe.

Holland, um escritor várias vezes premiado, tem aqui um livro muito bom. Sustentado numa rigorosa e claramente prolongada investigação, a narrativa explora de forma inteligente os acontecimentos mais importantes desta dinastia, sempre com foco não só no que se passava em Roma, mas também com noções básicas do que a rodeava para percebermos o próprio avançar do império.

Bastante focado numa dezena de personagens, o autor explora aqueles que tiveram mais influência nesta época de Roma, para o bem e para o mal. Cheio de detalhes e muitas curiosidades, o autor monta bem a sua narrativa para que o leitor não se perca, e a verdade é que aprendi bastante com este livro. 

O que mais apreciei nestas páginas foi a forma como o autor explora as personalidades dos nomes mais famosos desta época. Holland tenta explorar medos, objetivos, traumas, demências, sonhos de cada um dos imperadores e não só. Destaque para a mãe de Nero que tem neste livro muitos dos melhores momentos e que ajudam a que este livro seja realmente bastante bom.

Globalmente foi das melhores leituras que tive sobre o tema. É um livro académico em alguns momentos mas que consegue ser simples na maioria das páginas. Facilita a aprendizagem inicial do leitor, mesmo que este não tenha conhecimentos sobre Roma, o que é bastante bom. Com uma escrita direta e bastante sustentada em factos, Holland tem aqui um livro que agradará a todos os que apreciem o tema. Pode ser uma leitura lenta em alguns momentos, mas foi sempre bastante boa!

Luís Pinto

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A HISTÓRIA DO MUNDO PARA PESSOAS COM PRESSA


Autor: Emma Marriott

Título original: The History of the World in Bite-Sized Chunks




Sinopse: Um guia conciso mas abrangente que cobre tudo o que é necessário saber sobre os acontecimentos mais importantes da História do mundo, desde as civilizações antigas até ao final da Segunda Guerra Mundial.
Fazendo uma abordagem a todos os factos e detalhes históricos essenciais, este livro proporciona-nos uma extraordinária viagem através dos tempos, desde o império de Alexandre, o Grande, à dinastia Tang, na China, ao Iluminismo, à Guerra Civil americana, e mais além.
A História do Mundo para Gente com Pressa é um guia precioso e indispensável sobre a história da Humanidade e que nos permite descobrir como se construiu o mundo moderno.



Após ter oferecido este livro num passatempo em parceria com a Editorial Presença, decidi lê-lo porque o conceito pareceu-me muito interessante. Ter tempo para ler nunca é fácil e raramente parece ser o suficiente. Com tantos livros que queremos ler, por vezes pode ser bom termos uma leitura que vá diretamente ao que é importante, fazendo um resumo de um tema sobre o qual podemos saber pouco ou que temos curiosidade e desejamos começar por algum lado.

Com isto em mente, a questão que se levanta é se este livro consegue realmente fazer um bom trabalho de reunir a História da humanidade em 200 páginas!

Gostei bastante deste livro. Claro que colocar aqui tudo seria impossível e a autora acaba por se focar apenas em alguns temas, mas seria impossível abranger tudo e parece-me que a escolha passou por mencionar aquilo que teve mais impacto em duas áreas: geografia e invenções. No entanto, e apesar de a autora explorar alguns invenções marcantes, o livro é, essencialmente, um resumo das principais civilizações que já existiram. Onde nasceram, o que inventaram, o que conquistaram, como desapareceram, quem as liderou, etc... Com isto em mente, o livro torna-se num guia cronológico sobre os diferentes povos que foram aparecendo nos últimos 5 mil anos, as batalhas mais importantes, que territórios dominaram e quais as principais causas para a queda das mesmas.

Apesar de não ser um livro que explore muito cada momento e ficar a sensação que adorava que existisse outro livro que abordasse toda a História mas no dobro das páginas, a verdade é que o livro consegue executar bastante bem o seu objetivo. Ao ser bastante abrangente, acabará por ensinar bastante a qualquer leitor que não seja um perito no tema. Bem estruturado, com linguagem acessível e alguns mapas para percebermos as dimensões de alguns impérios, este livro é uma excelente compra para todos aqueles que olhem para a capa e sintam curiosidade sobre o tema. Foi uma leitura bastante interessante e que certamente voltarei a ler um dia. Recomendado!

Luís Pinto

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

O HOMEM INVISÍVEL


Autor: H. G. Wells

Título original: The invisible man





Sinopse: Griffin — um homem com o rosto coberto por ligaduras, olhos ocultos por detrás de uns óculos escuros e mãos cobertas — é o novo hóspede em The Coach and Horses. Apesar de todos assumirem que o seu estado se deve a um acidente, a verdade é bastante mais estranha.
Griffin descobriu um processo de se tornar invisível, e está agora em busca do antídoto. Quando é expulso da aldeia e se vê impelido para o assassínio, Griffin procura a ajuda do seu amigo Kemp. Mas o destino que o aguarda afecta-lhe os pensamentos, e, quando Kemp se recusa a ajudá-lo, Griffin resolve planear a sua vingança.




Este é um dos grandes clássicos de H. G. Wells, um autor que revolucionou a literatura de ficção científica. Apesar de não ser um dos seus livros mais famosos, a verdade é que Wells tem aqui mais um fantástico livro que explora conceitos que até então não tinham sido totalmente explorados neste género. Apesar de numa fase inicial este parecer um livro de ficção-científica, rapidamente percebemos que é mais do que isso.

Numa escrita bastante simples e direta, mas sempre com qualidade, o autor começa o seu enredo de forma suave, sem grandes acelerações nos acontecimentos, mas aos poucos fiquei viciado devido à originalidade da base da história e também porque o personagem principal de imediato chama a atenção devido a algumas características que o autor começa a explorar de imediato e que o tornam único.

O que mais me espantou neste livro foi a forma como o autor conseguiu explorar certos conceitos sem que a história pareça arrastada ou forçada. A originalidade de algumas situações tornam este livro bastante original e inteligente enquanto levanta várias questões morais. Aos poucos o livro torna-se bastante psicológico ao começarmos a ver as fragilidades mas também as oportunidades que a condição de Griffin lhe proporcionam. A questão é o que nós faríamos nesta situação. A questão é o que certas pessoas fariam se conseguissem iludir aquele que é o sentido no qual mais confiamos.

Um livro único, intemporal, e que deve ser lido, questionado e analisado. Não é um livro que agrade a todos os leitores, mas a sua qualidade é inegável.

Luís Pinto