Autor: Dave Eggers
Título original: The Circle
Sinopse: No dia em que Mae Holland é contratada para trabalhar no Círculo, a empresa de internet mais influente do mundo, sabe que lhe concederam a oportunidade da sua vida. Através de um inovador sistema operativo, o Círculo unifica endereços de e-mail, perfis de redes sociais, transações bancárias e códigos de utilizador, construindo uma identidade virtual única no sentido da criação de uma nova era de transparência. Mae Holland entusiasma-se com a atividade da empresa, os amplos espaços para o desenho, as cafetarias envidraçadas e as acolhedoras instalações do campus. Todos os dias se organizam festas, concertos ao ar livre e, claro, atividades desportivas. E há diversos géneros de clubes e acesso a um aquário de peixes exóticos. Mae sente-se feliz por participar num turbilhão que parece fazer parte do centro do mundo, apesar de se distanciar cada vez mais da sua vida fora do campus. Mas o que começa como uma fascinante história de ambição profissional e idealismo depressa se transforma num romance de suspense que coloca algumas das mais candentes questões da atualidade: o papel da memória, o passado, a privacidade, a democracia e os limites do conhecimento.
Este é um dos livros mais famosos dos últimos tempos, apesar de em Portugal não ter tido o impacto que teve noutros países. A história de imediato me chamou a atenção, principalmente por ser um tema que tenho lido bastante e que se aproxima do fantástico livro 1984.
A base é simples: a nossa sociedade está a mudar a uma velocidade enorme. Estamos todos conectados e por normal iniciativa partilhamos cada vez mais tudo o que fazemos, onde estamos, com quem estamos. Com esta base social, o autor explora um conceito simples da psicologia e que tanto se tem falado no mundo da informática: as pessoas comportam-se melhor quando estão a ser observadas.
De um ponto de vista crítico, o livro tem algumas falhas, principalmente porque algumas personagens são demasiado estereotipadas e de imediato sabemos como são e não nos surpreendem. Alguns momentos são forçados ou previsíveis, mas não foi por isso que li mais devagar. É óbvio que algo está mal neste mundo que o autor cria. Percebe-se que aos poucos este enredo se tornará num thriller em que interesses e ganância se irão sobrepor a tudo o resto, e realmente é isso mesmo que o livro é. Um thriller que explora a nossa sociedade.
Por outro lado, e apesar de a maioria delas serem óbvias, gostei bastante das personagens, quer das boas, quer das más. O enredo é viciante desde o início, primeiro por criar uma imagem fantástica do futuro da nossa sociedade, e depois, aos poucos, por começar a revelar os perigos do que estamos agora a criar. Poucas invenções mudaram tão rapidamente a nossa vida de forma tão global como o computador e internet. A questão é se temos noção de todas as mudanças e das possibilidades. Sendo eu uma pessoa que trabalha nesta área, este tema torna-se fascinante e alvo de grande estudo.
O trunfo do livro é a crítica que faz e as questões morais que levanta. Se informação é poder, então muitas empresas estão a arrecadar poder com todas as nossas ações. O livro explora como estamos dependentes de certas tecnologias e do que estamos dispostos a sacrificar para termos outras coisas... e, acima de tudo, este livro explora o quanto poderíamos alcançar se trabalhássemos para um bem comum e não por ganância, interesses ou poder.
Enquanto crítico literário vejo que este livro não é fantástico. Tem falhas e não consegue ser genial apesar da sua fantástica base narrativa. No entanto, enquanto leitor, é impossível não gostar desta obra e que recomendo a todos os que se interessem por este tema, que será, cada vez mais, um tema de conversa por todos aqueles que estejam dispostos a questionar tudo o que nos rodeia.
Luís Pinto