terça-feira, 1 de julho de 2014

O LADRÃO DA ETERNIDADE


Autor: Clive Barker

Título original: Thief of Always



Sinopse: Tem cuidado com o que desejas, pois pode tornar-se realidade...Quando, nos longos meses de Inverno, um rapaz chamado Harvey se sente a morrer de tédio, eis que surge um homem que o conduz para uma estranha e fascinante casa onde em cada dia passam as quatro estações do ano e não há regras, apenas divertimento e milagres. A casa de férias do Senhor Hood existe há mais de 1000 anos, oferecendo as boas-vindas a todas as crianças e satisfazendo todos os seus desejos. Mas quando Harvey encontra um lago povoado por criaturas que eram, outrora, crianças como ele, descobre que há um preço a pagar pela sua estadia na casa, e o que era um sonho tornado realidade, cedo se transforma num pesadelo...



O que é a eternidade? Podemos roubá-la? De forma lógica, não, mas a verdade é que a todos nós nos é roubada quando, com o amadurecer da nossa personalidade, percebemos que um dia iremos morrer, e tudo irá acabar. Não somos imortais. Esta é a história de um rapaz que, tal como qualquer criança, não pensa no facto de um dia tudo acabar. Esta é a história de um rapaz que, tal como qualquer criança, deseja estar de férias para sempre, e brincar sem preocupações. Esta é uma história, uma pequena história, que todos devíamos ler, e pensar sobre ela.

Este é o primeiro livro que leio deste autor e confesso que no início não consegui ter a exata noção se estaria a ler algo realmente bom. O livro conquistou-me aos poucos, sempre numa mistura entre conto infantil e algo mais maduro e que exige ao leitor que pense sobre o que está a ler, revelando-me os possíveis significados do que estamos a ler e do que o autor preparou para nós. É uma viagem que nos leva a pensar sobre quem tudo quer, e tudo pode perder, e talvez seja esta a grande mensagem do livro. 

Com uma escrita suave e que apresenta alguns significados escondidos pelo meio, Barker tenta hipnotizar-nos com um mundo ideal para sentirmos o mesmo que a personagem principal deseja. É fácil desejar essa liberdade, esse mundo sem preocupações onde as possibilidades são infinitas, e quando a personagem menos espera, a verdade revela-se, tal como na própria vida. No entanto, o autor sempre nos deixou pistas sobre o facto de algo estar mal, quer seja em pequenos acontecimentos ou nos diálogos de personagens secundárias, onde sentimos a malícia e as segundas intenções.

O que mais gostei neste livro foi a forma como o autor conseguiu expor o melhor e o pior do que a nossa mente pode desejar ou temer. O autor utiliza uma narrativa direta e objetiva nos momentos mais importantes, sendo frio e cru para nos atingir com a realidade que o rapaz não esperava encontrar. A vida é isto, maravilhosa e cruel, cada momento a seu tempo... e é por isso que este livro é tão interessante, porque num contexto totalmente diferente nos relata vários aspetos da vida e que cada leitor interpretará à sua maneira, consoante as suas vivências. 

Pelo meio, Barker criou um mundo interessante e duas personagens que cativam à sua maneira, quer o rapaz, quer o vilão, mas são as secundárias que se sustentam a base deste mundo e o enredo avança com elas. Este mundo, cheio de criaturas mágicas, apresenta significados que demorei a perceber, mas que no fim fazem todo o sentido, e fica a sensação que existiu, por parte do autor, um grande detalhe que podemos não perceber à primeira vista. 

Resumindo, este é um livro com muita qualidade e que deve ser lido seja qual for a vossa idade. Devemos ler e pensar sobre o que nos está a ser transmitido, e certamente encontraremos semelhanças com acontecimentos nossos. Todavia, este não é um livro que agradará a todos. É preciso aceitar a mensagem e ver para lá do que é óbvio no início, e a mensagem é que o tempo não volta atrás. Eu não irei recuperar o tempo que perdi a ler esta crítica... vocês não vão recuperar o tempo que perderam a lê-la. Aqueles momentos em que tivemos chateados, não vamos recuperar, nem aqueles em que não dissemos o que devia ser dito, e é isso que torna tudo trágico e belo. A morte é o fator mais importante da nossa vida, porque é ela que nos rouba a eternidade e tudo condiciona.

Luís Pinto

5 comentários:

  1. Viva Luis,

    Pior livro que li da coleção BANG, muito infantil e logo um escritor que tem tantos livros bons, enfim

    Abraço

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  2. Sou fã deste autor e este livro é dos meus favoritos. A profundidade da mensagem é esmagadora mesmo admitindo que o livro é infantil.

    Também sou cada vez mais fã do Luís que é capaz de textos realmente impressionantes.

    Parabéns.

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  3. Fiquei curiosa para ler porque não conheço e achei o teu texto muito lindo.

    Bjs

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  4. Li o ano passado e dentro do género é do melhor que já li. Claro que é infantil, mas acho que está muito bem pensado e agora ao ler a tua crítica acho que ainda percebi melhor toda a mensagem. Parabéns.

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  5. É quando menos se espera que o Luís cria um texto fantástico. Nos temas mais fortes o Luís eleva mesmo o nível. Fiquei muito agradado.

    Agora falando sobre o livro. Li-o quando foi lançado. Chamou-me a atenção e gostei bastante. Sendo um livro infantil e que no início não parece ser tão bom, aos poucos revela-se e a mensagem é muito boa e acho que o Luís conseguiu captá-la totalmente.

    Bolas leituras,
    César

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