Autor: Richard Zimler
Sinopse: Benjamin Zarco e o seu primo Shelly foram os únicos membros da família a escapar ao Holocausto. Cada um à sua maneira, ambos carregam o fardo de ter sobrevivido a todos os outros. Benjamin recusa-se a falar do passado, procurando as respostas na cabala, que estuda com avidez, em busca daquilo a que chama os fios invisíveis que tudo ligam. E Shelly refugia-se numa hipersexualidade, seu único subterfúgio para calar os fantasmas que o atormentam.
Construído como um mosaico e dividido em seis peças, Os dez espelhos de Benjamin Zarco entretecem-se entre 1944, com a história de Ewa Armbruster, professora de piano cristã que arrisca a vida para esconder Benni em sua casa, e 2018, com o testemunho do filho de Benjamin acerca do manuscrito de Berequias Zarco, herança do pai, talvez a chave para compreender a razão por que Benjamin e Shelly se salvaram e o vínculo único que os une.
Richard Zimler é um autor que aprecio imenso e, sempre que lança um livro, tento ler de imediato. Zimler tem uma capacidade rara de me ligar às personagens, com momentos emotivos, decisões impossíveis e questões morais que alimentam o livro e o seu avanço. Aqui, Zimler volta a surpreender com uma história que se prolonga por vários anos e que aprofunda brutalmente algumas personagens, com uma sensibilidade fantástica e que ficará para sempre na nossa memória.
Gostei bastante das personagens, profundas, muito diversificadas, principalmente no enorme contraste entre Benjamin e Shelly na forma como vivem, como se ligam a pessoas, como planeiam o futuro e como questionam a religião. São camadas e camadas de personalidade que vamos desvendando, como se fosse uma investigação sobre as personagens.
Com uma escrita, por vezes simples, por vezes complexa, mas sempre ideal para o momento em si, Zimler agarra o leitor com as suas personagens, com as suas decisões e, principalmente, pela forma como estruturou a narrativa. Vamos conhecendo estas personagens aos poucos enquanto fazemos as ligações que nos são dadas. É quase como um puzzle em que vamos conhecendo os medos, os objetivos, os traumas das personagens. Quais são os seus sonhos? Com um passado terrível, o Holocausto está sempre agarrado a estas personagens, e aos poucos este livro torna-se numa história de amizade, de procura por significado mas também pelo o que fazer na vida, o que procurar, o que tentar alcançar. É uma história sobre o quando o nosso passado nos muda, sempre presente, capaz de nos empurrar por caminhos diferentes mesmo muitos anos depois.
Este pode não ser o melhor livro de Zimler, mas uma coisa é certa: a qualidade está aqui presente numa história emocional, quase perturbadora, mas que é uma imagem realista e que deve ser observada. Se o tema vos interessa, então este é um livro a ter neste natal, e que vos fará olhar de forma diferente para a vida que se segue mas, principalmente, para o passado.
Luís Pinto
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