Autor: Veronica Roth
Título original: Allegiant
3º e último livro da saga "Divergente", um dos maiores fenómenos literários dos últimos tempos e que agora também chega ao cinema. Após ter lido os dois anteriores livros, ficou a sensação que Veronica Roth tinha muito para explicar em relação ao que realmente sustentava este mundo, pois a natureza humana sempre nos levou a sermos curiosos e a querer saber mais. É algo genético e que nos levou a evoluir e a saber cada vez mais sobre o nosso mundo.
E foi exatamente sobre a genética que Roth tentou sustentar este seu último livro. No fim fica uma sensação agridoce, pois existem pormenores muito interessantes neste livro, e que oferecem uma boa dose de qualidade, mas também existem outros momentos que simplesmente não fazem sentido, porque não são explicadas E é esse o problema neste livro: Roth não consegue sustentar algumas das suas decisões para este enredo. Reparem que muitas destas decisões são boas, bem planeadas e que ajudam a dar ao livro um toque de realismo, mas tais decisões, deveras importantes para o fecho da saga, têm de ser sustentadas.
Mas antes de continuarmos com os problemas de sustentabilidade, falamos do resto: Roth consegue dar mais um livro onde as suas personagens apresentam coerência dentro do que são, e o leitor, principalmente o leitor mais jovem, terá facilidade de aproximação. Este é um livro juvenil, e qualquer leitor deve perceber que é esse o público alvo e foi esse público que criou este fenómeno. Roth criou uma "química" entre Tris e Quatro que facilmente leva o leitor a continuar, e agora ao dividir os capítulos entre os pontos de vista destas duas personagens, as suas personalidades são mais exploradas. Esta estratégia de Roth está bem pensada e funciona bem dentro do enredo, ajudando ao suspense e também a conhecermos melhor estas duas personagens e a compreender as suas decisões. Claro que, olhando de um ponto de vista crítico, Roth falha porque as duas personalidades são demasiado parecidas, quer em termos de narrativa, quer na forma como são em tudo o que é a definição de personalidade, ao ponto de ser difícil distinguir qual das personagens está a narrar a história se não tivermos lido o nome inicial.
Mas esta similaridade também traz momentos bons ao livro e, em certos momentos, até ajudam a perceber o porquê de alguns acontecimentos, e por isso não é realmente um ponto negativo. No resto o livro está fiel ao que os anteriores foram, e se gostaram dos primeiros dois livros, então também gostarão deste e será, certamente, mais uma leitura compulsiva.
Esta é uma trilogia juvenil. Não é complexa nem o tenta ser. É antes sim, uma trilogia que entretém e que os leitores gostam facilmente. Na minha opinião o trunfo está no final, onde Roth arrisca, e bem, num final forte e marcante. O problema do livro está na forma como se chega a esse final. São vários os momentos que ficam por explicar e que retiram qualidade a uma trilogia que poderia ser mais do que realmente é. Mas, novamente, voltamos à questão do público alvo. É tudo uma questão de exigência do que realmente procuramos neste livro. Quando se escreve uma utopia, a base é sempre o porquê e o como funciona aquele mundo, e Roth consegue explicar vários conceitos, mas falha em explicar outros.
E por tudo isto, digo que se são fãs da série, gostarão deste livro, terão uma leitura sempre rápida e um final marcante que não esquecerão tão cedo. "Divergente" é uma trilogia bastante interessante para o público mais juvenil e que seja menos exigente. É simples, rápida e viciante. Poderia ter sido muito melhor se Roth tivesse explicado muito do que acontece? Sim, mas provavelmente deixaria de ser o fenómeno juvenil que é à escala mundial.
Luís Pinto