Autor: Adam Johnson
Título original: The Orphan Master's Son
Sinopse: Vida Roubada segue a vida de Pak Jun Do, um jovem no país com a ditadura mais sombria do mundo: a Coreia do Norte.
Jun
Do é o filho atormentado de uma cantora misteriosa e de um pai
dominante que gere um orfanato. É nesse orfanato que tem as suas
primeiras experiências de poder, escolhendo os órfãos que comem primeiro
e os que são enviados para trabalhos forçados. Reconhecido pela sua
lealdade, Jun Do inicia a ascensão na hierarquia do Estado e envereda
por uma estrada da qual não terá retorno. Considerando-se “um cidadão
humilde da maior nação do mundo”, Jun Do torna-se raptor profissional e
terá de resistir à violência arbitrária dos seus líderes para poder
sobreviver. Mas é então que, levado ao limite, ousa assumir o papel do
maior rival do Querido Líder Kim Jon Il, numa tentativa de salvar a
mulher que ama, a lendária atriz Sun Moon.
Em parte
thriller, em parte história de amor, Vida Roubada é um retrato cruel de
uma Coreia do Norte dominada pela fome, corrupção e violência. Mas onde,
estranhamente, também encontramos beleza e amor.
O que é "liberdade"? Um conceito? Um ideal? Um direito? Uma realidade ou uma miragem? Este é um livro sobre a liberdade que alguns nunca terão, simplesmente porque não nasceram no sítio certo. Este é um livro que demonstra, de forma atroz, o quanto estamos cego e a facilidade com que nos esquecemos. Nós vemos, transtornados, o que outros povos sofrem... comentamos, achamos injusto, questionamos como certas coisas ainda podem acontecer no nosso tempo, e depois, esquecemos. Outras pessoas não esquecem, porque vivem nesses locais.
Com uma linguagem que consegue ser, simultaneamente, bela e aterradora, o autor mostra-nos uma realidade inquietante sobre um país que não conhecemos. A forma como a manipulação de massas é feita, é, na realidade, apenas uma parte do problema, e aqui fica bem exposto como se consegue convencer as pessoas, usando uma teia demasiado vasta para ser explicada em poucas palavras. Expondo um pouco esta realidade, o autor cria um livro que vence por ser ambicioso e audaz, enquanto nos envolve num romance que demonstra o poder que o amor tem... capaz de vergar o que parece inquebrável.
Apresentando-se com uma primeira metade mais próxima da mente do personagem principal, vemos como governo e povo se ajudam, de forma natural e automática, a sustentar esta forma de vida, como se fosse natural, talvez por desconhecimento do que está para lá da fronteira, talvez por resignação, certamente por medo. A nossa personagem principal é mais um dos que vive, sem na realidade viver mais do que o lhe é permitido, e é pelos seus olhos, que lentamente se abrem, que vemos as barreiras levantadas à volta de uma nação, que não deixam espaço para sonhar.
No entanto, podemos sempre questionar até que ponto certos acontecimentos podem ser reais, mas a forma segura com que Johnson as descreve leva-nos a aceitar a realidade deste livro, porque, aos poucos, tudo faz sentido neste enredo inteligentemente sustentado e coerente. E pelo meio, enquanto nos sentimos rodeados por uma narrativa que vai crescendo de intensidade, quase nos esquecemos que esta obra tem um objetivo que é mais forte do que expor um regime, e esse objetivo é mostrar o melhor e o pior de quem habita o mesmo mundo que nós. E no fim, os dois extremos tocam-se neste enredo, mostrando o ódio e o amor que o ser humano pode sentir, e talvez seja isso que nos faz humanos.
Adam Johnson criou um dos melhores livros dos últimos anos e os prémios que venceu são a prova. A forma detalhada com que descreve os vários locais e etapas da vida da sua personagem leva-nos a perceber a escala da máquina que controla um país, e, simultaneamente, a enorme discrepância entre os que controlam e os que são controlados, mesmo sem terem essa noção. No início pode existir alguma confusão, devido aos saltos que a narrativa dá entre narradores e espaço temporal, mas a escrita é simples o suficiente para nos canalizar a atenção para o que é importante, e a partir do momento que nos agarra, é difícil resistir a este livro que deve ser lido.
Tentando não falar nem uma linha sobre a história, pois este é um enredo que deve ser lido sem qualquer revelação, tudo o que eu possa enumerar não é mais do que pequenos detalhes num livro que respira qualidade em todas as suas páginas. Ainda é cedo para dizer se será o melhor livro de 2014 lido por mim, mas
será, certamente, um dos melhores do ano. Vencedor do Prémio Pulitzer
em 2013, este livro é mesmo muito bom. Inteligente, forte, marcante, revelador... totalmente recomendado.
Luís Pinto
Luís Pinto
Podem saber mais sobre o livro no site da editora, aqui.
Mais uma fantástica crítica. Parabéns! Já o vi há vendas e pela capa não me chamou a atenção, mas agora estou totalmente convencido.
ResponderEliminarBoa tarde, Luís. Com sempre, não me canso de dizer, um texto fantástico. Quando o livro é bom nota-se na escrita das suas análises que estamos perante algo que devemos comprar. Irei adquiri-lo sem falta nos próximos tempos e depois dou-lhe uma opinião. Parabéns pela análise.
ResponderEliminarJá o comprei mas ainda não comecei a ler. Agora fiquei maravilhada com a tua crítica e tenho de ir começar a leitura. Obrigada por nunca revelares nada. Tenho a certeza que vou adorar esta leitura e sou capaz de procurar por outros livros do autor.
ResponderEliminarBjs e boas leituras
A sinopse deixou-me bastante curioso com este livro apesar de a capa não me ter chamado a atenção quando o vi nas lojas. A tua opinião está fantástico como sempre e penso comprá-lo para também perceber um pouco mais do que se passa naquele país que não sabemos nada.
ResponderEliminarAbraço
Mais um texto impressionante e mais um livro a comprar. Quando o vi na montra da bertrand pensava que era um livro mais romance cor de rosa, e afinal é uma surpresa ver uma opinião tão marcante feita por ti. As always lá terei de comprar uma recomendação tua.
ResponderEliminarBoas leituras e continuação de bom trabalho
Comecei ontem a ler este livro e não consegui resistir a ler a tua opinião mesmo estando no início. Acho que vou perto da página 50. Com esta opinião o meu entusiasmo ainda mais e estou convicto de que é mesmo um livro fantástico.
ResponderEliminarParabéns pela crítica, soberba como sempre que tens pela frente um grande livro.
Abraços.
H
Viva Luís,
ResponderEliminarTenho em lista de espera para ler é só acabar Dan Simmons e Feist e vou ler este sem duvida mais a mais depois de ler este comentário ;)
Abraço e boas leituras
Que grande crítica. Estou em crer que é um livro obrigatório para sabermos um pouco mais sobre este país. E com o Pulitzer no bolso só pode ser um grande trabalho de investigação. Abraço
ResponderEliminarParabéns pela análise. Está mesmo muito boa e também me convenceste a ler este. Se for assim tão bom então é um dos livros do ano. Quando o acabar digo-te a minha opinião.
ResponderEliminarOlá, estou a ler este livro e as expectativas estão altíssimas. Acho que vou adorar e horrorizar-me.
ResponderEliminarSerá, certamente, um dos livros do ano
Boas leituras