quinta-feira, 28 de novembro de 2019

INSPEÇÃO


Autor: Josh Malerman



Sinopse: J é aluno de uma escola muito peculiar.
J está a ser treinado para se tornar um génio.
J não sabe, mas a sua vida é uma mentira.
Nas profundezas de uma floresta isolada, há uma escola restrita onde 26 rapazes são educados para se tornarem prodígios das artes, ciências e atletismo. Versões melhoradas do ser humano inspecionadas todos os dias, de modo a evitar qualquer tipo de mácula vinda do exterior.
Aos 12 anos, J e os seus irmãos desconhecem o mundo que existe para lá da redoma mantida pelos professores, guardas e disciplina do fundador da escola — que os rapazes conhecem como P.A.I. E enquanto a maioria dos alunos segue à risca as regras da única família que conhece, J começa a detetar pequenas falhas, que aguçam a sua curiosidade. Mas depois das advertências do P.A.I., que o proíbe terminantemente de explorar o que lhe é interdito, J sabe que o castigo para a desobediência é pesado: expulsão definitiva da família… ou pior.
Atormentado pela dúvida e pelo comportamento errático do fundador, J não consegue deixar de se questionar: por que razão os alunos não podem transpor os limites da escola? O que é que há lá fora que eles não podem ver? E, acima de tudo… o que pretende o P.A.I. fazer com os 26 rapazes?




Inspeção é um livro forte, que uns irão adorar, outros nem tanto. Começo por afirmar isto porque acredito que seja totalmente verdade. Tal como o seu livro mais famoso "Às cegas", que se tornou num fenómeno na Netflix com o filme Bird Box, também aqui Josh Malerman pega numa ideia forte e original e começa um livro que nos vai deixar angustiados, sedentos de saber mais e muitas vezes sem sabermos para onde vamos. 

A ideia, como podem ver na sinopse, mistura o controlo total de "1984" com a sociedade infantil de "O Deus das Moscas", dois dos meus livros favoritos. É, na realidade, parecido com outro livro que adoro "O jogo Final", mais conhecido por "Ender's Game". Se não leram algum destes livros, está na hora de o fazerem.

Voltando a este livro, o autor consegue criar todas as dúvidas necessárias para que qualquer leitor agarre estas páginas, fique sedento de respostas e continue. Não é um livro fácil porque, entre outras coisas, apresenta um ritmo lento na primeira metade. Trata-se de uma narrativa que avança com calma, criando a base necessária para explorar a psicologia infantil e o mundo que as envolve nestas páginas. 

As personagens estão bem criadas, principalmente na forma como os adolescentes interagem, com toda a dinâmica, entusiasmo e medos que os adolescentes têm. O autor explora muito bem certos conceitos base da adolescência mas não os torna em clichés, algo que poderia ter destruído o livro. Gostei dos diálogos e da forma como o autor nos dá lentamente, mas nos momentos certos, as revelações que nos empurram para um final bem pensado, bem criado e que torna todo o livro mais inteligente e coerente. Existem, obviamente, alguns momentos mais forçados ou alguns diálogos que poderiam ter ido numa direção que pareceria mais lógica, mas que não vão para manterem o suspense e a incapacidade de percebermos o que está a acontecer. Mas estes pequenos problemas não mancham um livro que gostei bastante, principalmente na segunda metade.

É um livro duro, cru, capaz de nos dar um murro no estômago no seu final surpreendente. Devido ao seu ritmo, não será para qualquer leitor, tal como "1984" e "O Deus das Moscas" também não será o livro favorito de todos os leitores que o leram, mas a qualidade é inegável. Não, não o comparo às obras-primas que mencionei, mas é um livro que ganha o seu espaço e que é das melhores distopias que li nos últimos tempos. Se este é o vosso género, então devem ter este livro. Muito recomendado a quem apreciar uma boa distopia.

Luís Pinto


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