Autor: Nuno Nepomuceno
Sinopse: A pacata cidade de Cambridge estremece, ao ser confrontada com os pormenores monstruosos do crime. Mas tudo piora quando uma criança desaparece a caminho da escola. O menino é encontrado numa mata, nu e estrangulado. Adam Immanuel, um escritor inglês, é visto a fugir do bosque. E todos, exceto uma jornalista e um professor universitário, acreditam que é culpado.
Simultaneamente, um cardeal chega à Cidade do Vaticano num ambiente de grande polémica. O novo Papa foi assassinado, o mundo prepara-se para mais um conclave e um delator continua a publicar informações comprometedoras sobre a Santa Sé. Todavia, será que o religioso recém-chegado veio para ficar? Porque esconde a associação a um assassino profissional? Será ele capaz de resistir à aproximação de uma bela, mas nada inocente, mulher?
No início do ano regresso sempre à companhia da escrita de Nuno Nepomuceno para mais um livro. O autor, que acompanho desde o primeiro livro, continua a melhorar o seu trabalho, sendo cada vez mais um autor que vai melhorando a sua forma de contar uma história, de nos prender às suas páginas e, em muitos casos, de nos surpreender.
Neste novo livro o autor tem uma obra que se liga bastante aos livros anteriores, mesmo que indiretamente. Claro que quem nunca tenha lido nenhum dos livros da saga Catalão conseguirá aproveitar bastante este livro, mas são aqueles que leram as aventuras anteriores que tirarão o máximo proveito de uma obra que explora cada vez mais os seus personagens enquanto nos vai apresentando outros.
O que mais aprecio no autor é a sua forma psicológica de escrever. Claro que o seu estilo é de leitura rápida, com vários capítulos onde cada um acaba de maneira a empurrar-nos para o seguinte, mas cada vez existe mais uma necessidade de entrar na mente dos personagens e, consequentemente, na mente dos leitores. E é isso que me agarra, porque quero conhecer os verdadeiros motivos, os medos, as crenças, os medos e traumas de cada um, e muitas vezes os autores de thrillers, querendo oferecer uma leitura tão rápida e intensa, esquecem-se disso.
Nuno Nepomuceno tem vindo a perceber cada vez melhor quando acelerar e quando abrandar para aprofundar algo. Neste livro isso nota-se claramente, tal como se nota que o autor continua a efetuar um excelente trabalho de pesquisa que são a base dos seus enredos.
Não querendo revelar nada sobre este livro, devo confessar que uma personagem nova agradou-me bastante, tal como me agradou o facto de o autor não se apoiar demasiado nas mesmas personagens de sempre. Nuno não cai na tentação de todos os seus livros serem "salvos" por um professor. São livros com uma linha narrativa que também é empurrada e manipulada por outros personagens. Claro que pelo meio existem alguns momentos mais óbvios, outros mais forçados, mas, no geral, este é um dos melhores livros do autor, independentemente se agarra mais ou menos do que outros, mas a qualidade é inegável dentro do seu estilo.
De salientar alguns diálogos muito bem criados e que, ao juntarem-se aos saltos entre cenas, tornam o livro muito viciante. O tema principal poderá não agradar a todos, por comparação com outros livros, mas confesso que foi dos que gostei mais. Não é, obviamente um livro perfeito, tal raramente existe, mas é uma leitura compulsiva, viciante, que nos faz pensar e que gostei bastante. Gostei, principalmente, do facto de o autor não inventar em tentar trazer algo demasiado diferente para tentar chocar ou tentar diferenciar este livro dos anteriores, algo que, infelizmente, muitos autor fazem, estragando sagas e personagens. Nepomuceno é coerente, é fiel a um estilo e capaz de melhorar a cada livro em vários pontos. Precisam de uma leitura para este confinamento ou para o próximo verão? Este é uma boa escolha!
Luís Pinto