sexta-feira, 7 de novembro de 2014

UM, DÓ, LI, TÁ


Autor: M. J. Arlidge

Título original: Eeny Meeny



Sinopse: Uma jovem rapariga surge dos bosques após sobreviver a um rapto aterrador. Cada mórbido pormenor da sua história é verdadeiro, apesar de incrível. Dias mais tarde é descoberta outra vítima que sobreviveu a um rapto semelhante.
As investigações conduzem a um padrão: há alguém a raptar pares de pessoas que depois são encarcerados e confrontados com uma escolha terrível: matar para sobreviver, ou ser morto.
À medida que mais situações vão surgindo, a detetive encarregada deste caso, Helen Grace, percebe que a chave para capturar este monstro imparável está nos sobreviventes. Mas a não ser que descubra rapidamente o assassino, mais inocentes irão morrer?


Não será fácil, para mim, fazer uma análise a este livro sem revelar certos momentos, mas vamos tentar...

Este livro começa de forma intensa, rápido, inteligente. Estas três palavras acompanham-nos durante toda a leitura, tornando-o num thriller com qualidade mas que poderá não agradar a todos. Começando pela personagem principal, Grace, estamos perante uma personagem muito bem construída. É, sem qualquer dúvida, um dos pontos fortes do livro e é também um dos pontos em que o leitor não se ligará ao livro. Grace, apesar de ser a detetive e de querermos que tenha sucesso, apresenta uma personalidade com a qual não é fácil simpatizar. Este facto dá brilhantismo ao livro porque não nos afeiçoamos mas não conseguimos parar de ler, porque Grace tem a determinação para resolver o caso e somos contagiados por essa determinação.

Outro ponto que que agarra o leitor é a inteligência do vilão. Aqui é difícil analisar sem dar exemplos, mas a forma como o vilão atua está muito bem explorada e encaixa na montagem do enredo. Se olharmos para o enredo e para a narrativa, vemos capítulos curtos, com diferentes pontos de vista e que em certos momentos nos dão uma segunda visão do mesmo acontecimento. Esta montagem da narrativa parece que não convence no início, porque estarmos a ler, mesmo que apenas esporadicamente, o mesmo acontecimento, parecendo que quebra o ritmo da leitura, mas oferece uma compreensão que facilita no final em que é preciso compreender como tudo aconteceu.

Um dos melhores aspetos de um thriller é manter o equilíbrio entre não nos dar tempo para respirar, mas dar o tempo necessário para que também façamos a nossa investigação. Muito do prazer de ler um thriller é tentar adivinhar quem é o vilão ou como o conseguiremos apanhar. Este livro, de forma muito subtil, oferece este equilíbrio. O problema do enredo poderá estar no final, que não irá agradar a alguns leitores pela forma repentina como tudo é resolvido. Sinceramente, gostei da forma como tudo acaba, mesmo tendo em conta que ficaram no ar algumas perguntas menos importantes. A forma como o enredo para é um risco, mas é feito de forma inteligente. No entanto, como disse, não agradará a todos.

Todavia, as pequenas falhas que o livro tem conseguem ter esquecidas graças a um bom ritmo, a uma personagem principal muito boa e a uma montagem inteligente e diferente que nos leva a manter um ritmo mas sem perder o que é importante. Pelo meio o livro leva-nos, indiretamente, a questionar o que nós faríamos em certos momentos e até que ponto nos sacrificaríamos. Até onde poderá chegar o sacrifício que fazemos por alguém que amamos? E é nesses momentos, em que temos de decidir o que sacrificar, que o leitor se aproxima do livro, tornando a leitura muito melhor.

Um, Dó, Li, Tá não é uma obra prima nem revoluciona o género, mas tem tudo o que um fã de thrillers procura numa leitura. Enquanto leitor, agradou-me imenso a ténue linha moral que Grace constrói durante todo o livro e que nos oferece uma sensação mais realista, porque as personagens principais não têm de ser imaculadas para conseguirem prender os vilões. Se gostam do género, este livro é uma boa escolha e que não esquecerão tão cedo.

Luís Pinto 

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