domingo, 30 de março de 2014

CONVERGENTE


Autor: Veronica Roth

Título original: Allegiant



3º e último livro da saga "Divergente", um dos maiores fenómenos literários dos últimos tempos e que agora também chega ao cinema. Após ter lido os dois anteriores livros, ficou a sensação que Veronica Roth tinha muito para explicar em relação ao que realmente sustentava este mundo, pois a natureza humana sempre nos levou a sermos curiosos e a querer saber mais. É algo genético  e que nos levou a evoluir e a saber cada vez mais sobre o nosso mundo.

E foi exatamente sobre a genética que Roth tentou sustentar este seu último livro. No fim fica uma sensação agridoce, pois existem pormenores muito interessantes neste livro, e que oferecem uma boa dose de qualidade, mas também existem outros momentos que simplesmente não fazem sentido, porque não são explicadas E é esse o problema neste livro: Roth não consegue sustentar algumas das suas decisões para este enredo. Reparem que muitas destas decisões são boas, bem planeadas e que ajudam a dar ao livro um toque de realismo, mas tais decisões, deveras importantes para o fecho da saga, têm de ser sustentadas.

Mas antes de continuarmos com os problemas de sustentabilidade, falamos do resto: Roth consegue dar mais um livro onde as suas personagens apresentam coerência dentro do que são, e o leitor, principalmente o leitor mais jovem, terá facilidade de aproximação. Este é um livro juvenil, e qualquer leitor deve perceber que é esse o público alvo e foi esse público que criou este fenómeno. Roth criou uma "química" entre Tris e Quatro que facilmente leva o leitor a continuar, e agora ao dividir os capítulos entre os pontos de vista destas duas personagens, as suas personalidades são mais exploradas. Esta estratégia de Roth está bem pensada e funciona bem dentro do enredo, ajudando ao suspense e também a conhecermos melhor estas duas personagens e a compreender as suas decisões. Claro que, olhando de um ponto de vista crítico, Roth falha porque as duas personalidades são demasiado parecidas, quer em termos de narrativa, quer na forma como são em tudo o que é a definição de personalidade, ao ponto de ser difícil distinguir qual das personagens está a narrar a história se não tivermos lido o nome inicial.

Mas esta similaridade também traz momentos bons ao livro e, em certos momentos, até ajudam a perceber o porquê de alguns acontecimentos, e por isso não é realmente um ponto negativo. No resto o livro está fiel ao que os anteriores foram, e se gostaram dos primeiros dois livros, então também gostarão deste e será, certamente, mais uma leitura compulsiva.

Esta é uma trilogia juvenil. Não é complexa nem o tenta ser. É antes sim, uma trilogia que entretém e que os leitores gostam facilmente. Na minha opinião o trunfo está no final, onde Roth arrisca, e bem, num final forte e marcante. O problema do livro está na forma como se chega a esse final. São vários os momentos que ficam por explicar e que retiram qualidade a uma trilogia que poderia ser mais do que realmente é. Mas, novamente, voltamos à questão do público alvo. É tudo uma questão de exigência do que realmente procuramos neste livro. Quando se escreve uma utopia, a base é sempre o porquê e o como funciona aquele mundo, e Roth consegue explicar vários conceitos, mas falha em explicar outros.

E por tudo isto, digo que se são fãs da série, gostarão deste livro, terão uma leitura sempre rápida e um final marcante que não esquecerão tão cedo. "Divergente" é uma trilogia bastante interessante para o público mais juvenil e que seja menos exigente. É simples, rápida e viciante. Poderia ter sido muito melhor se Roth tivesse explicado muito do que acontece? Sim, mas provavelmente deixaria de ser o fenómeno juvenil que é à escala mundial.

Luís Pinto


sábado, 22 de março de 2014

A PSICOLOGIA DO AMOR


Autor: Irvin D. Yalom

Título original: Love's Executioner



Em 2013 este autor espantou-me com o fantástico "A cura de Schopenhauer", que considerei o melhor livro que li nesse ano. Agora este "A psicologia do Amor" promete lutar por esse "prémio" no fim do ano. Ainda só estamos em Março e a pergunta é: irei, até ao fim do ano, ler um livro melhor do que este?

A evolução que a humanidade tem assistido ao nível do conhecimento é incrível. A cada instante há algo mais que descobrimos, que verificamos, que compreendemos. Provavelmente, um dia o nosso conhecimento, sobre nós e o que nos rodeia neste universo, será bastante vasto... mas acredito que nunca iremos perceber o que é o amor.

O amor, seja ele o que for, é "aquilo" que faz o nosso cérebro descontrolar-se. É o que nos faz sonhar e encontrar forças onde não existem. É o que nos faz voar, mas também cair. É o que nos faz levantar, mas também desistir. O amor é o essencial, é o invisível, e é a razão por cima de qualquer razão. É isto, e muito mais. É aquilo que já foi dito, e aquilo que se dirá. Yalom não tem como objetivo definir o amor nem compreender de forma científica o que acontece no nosso cérebro para que todos aqueles neurónios comecem a trabalhar de forma diferente e imprevisível. O que Yalom mostra no seu livro é o que o amor nos pode dar ou tirar, e como devemos enfrentar tudo o que daí advém.

Com este livro, Yalom mostra-nos dez casos de pacientes seus, e é perturbador os diferentes problemas que este homem irá enfrentar, tentando ajudar aqueles que no início são sempre desconhecidos. Esta obra é, ao mesmo tempo, um grito de esperança e uma imagem aterradora do que o amor nos pode fazer. Explorando estas dez histórias, Yalom toca em vários temas diferentes que são a base de cada caso, passando pelo luto do qual não se consegue sair, a insegurança que nos afasta de quem amamos ou o desespero de não conseguirmos esquecer quem nos deixou.

Com uma escrita objetiva e acessível, Yalom desvenda bastante sobre a relação que tem com os seus pacientes e a forma como estrutura a sua aproximação, sendo essencial conseguir descobrir se o paciente está realmente disposto a ser ajudado e, mais importante, se acredita que o poderá ser. Aliás, olhando para estes dez casos como um todo, acredito que a grande mensagem que este livro nos deixa é que somos nós a peça principal para nos curarmos. Somos nós quem deve dar o primeiro passo para melhorar e acreditar que tal é possível, e só assim alcançaremos o sucesso.  

É curioso como nos ligamos rapidamente as estes casos, sentido alguma da dor destas pessoas e ganhando uma preocupação, que é a mesma de Yalom, e o autor consegue passá-la facilmente ao leitor, principalmente porque sentimos que estamos a ler algo real, algo que já aconteceu e voltará a acontecer com outras pessoas. O amor tem os seus riscos, tal como tudo, e saber enfrentá-lo, para o bem ou para o mal, é um dos objetivos deste livro. Em vários aspetos, este é um dos livros mais fascinante que já li, e fazer uma análise mais profunda sobre cada caso só iria estragar a surpresa que os leitores devem ter. No entanto, esta é uma obra tão rica em relação a ideias sobre amor e relações, que poderia estar várias horas a escrever sobre ele. E são estas visões singulares, que cada paciente tem, em oposição às de Yalom, que devem ser lidas e analisadas, pois este é um livro que pede para ser estudado e interiorizado. 

Não querendo alongar-me mais nesta análise, devo concluir dizendo que este livro é fantástico ao ponto de o recomendar a todos os leitores que, de alguma forma, estejam interessados no tema. Yalom oferece-nos um livro que deve ser lido e relido alguns anos depois, e acredito que continue a ser fascinante e, provavelmente, interpretado de forma diferente. No fim do ano estará, certamente, no topo dos melhores que li em 2014 e acabo esta crítica acreditando que qualquer coisa que escreva, não demonstra, nem de perto, a qualidade do livro, porque o amor é algo que cada um de nós irá sentir de maneira diferente. Irá levar-nos por caminhos únicos e faz-nos rir ou chorar de formas que nunca antes tínhamos feito, e Yalom dá-nos uma visão impressionante com estes dez casos. Totalmente recomendado.

Luís Pinto




Notícia: Convergente - já à venda!

Convergente, o último livro da trilogia Divergente, de Veronica Roth, já está à venda.

Este livro sucede a Divergente e Insurgente, obras que garantiram a uma muito jovem autora (tinha 23 anos aquando da publicação do primeiro livro) um sucesso à escala global e muitos fãs em Portugal.
As aventuras desta saga desenrolam-se em cenário futurista, verosímil e
sem figuras sobrenaturais. Figuraram em várias listas de melhores do ano – Amazon, Publishers Weekly, Goodreads, Barnes & Nobles – e
chegaram a número um do top do The New York Times.
Convergente chega às livrarias poucos dias antes de estrear nos cinemas portugueses, a 3 de abril, o filme Divergente, produzido pela Summit Entertainment/Lionsgate, estúdio conhecido pela saga Crepúsculo.




SINOPSE
A sociedade de fações em que Tris Prior acreditava está destruída – dilacerada por atos de violência e lutas de poder, e marcada para sempre pela perda e pela traição. Assim, quando lhe é oferecida a oportunidade de explorar o mundo para além dos limites que conhece, Tris aceita o desafio. Talvez ela e Tobias possam encontrar, do outro lado da barreira, uma vida mais simples, livre de mentiras complicadas, lealdades confusas e memórias dolorosas. Mas a nova realidade de Tris é ainda mais assustadora do que a que deixou para trás. As descobertas recentes revelam-se vazias de sentido, e a angústia que geram altera as vontades daqueles que mais ama. Uma vez mais, Tris tem de lutar para compreender as complexidades da natureza humana ao mesmo tempo que enfrenta escolhas impossíveis de coragem, lealdade, sacrifício e amor. Convergente encerra de forma poderosa a série que cativou milhões de leitores, revelando os segredos do universo Divergente.

segunda-feira, 17 de março de 2014

A ÁGUIA DE SANGUE


Autor: Simon Scarrow

Título original: The Eagle's Prey


Este é o 5º livro da saga e mais um que se lê a grande velocidade. Scarrow mantém os pontos fortes e fracos dos livros anteriores e começa a ser difícil fazer uma análise com algo de novo para dizer, a menos que queira começar a revelar a história.

O forte deste livro continua a ser a forma como o autor descreve as batalhas, as tácticas e a vida dos soldados quando estão em território inimigo, esperando o momento para atacar. As batalhas continuam sangrentas e a baixar ligeiramente o ritmo do livro, com o autor a levar-nos a sentir que estamos a ver realmente uma batalha, e é interessante ver que ao fim de cinco livros o autor continua a surpreender com situações diferentes em batalha e tácticas bem explicadas que nunca me deixaram confuso. Existem detalhes muito interessantes e, como sempre, o livro nunca se torna monótono, pois o autor usa sempre uma linguagem acessível e que por vezes até pode parecer demasiado simples nos diálogos usados se tivermos em conta a época em que o enredo está inserido. No entanto penso que é esta simplicidade, em alguns aspetos, que ajudam a tornar o livro viciante.

Um aspeto que se nota na saga é a tendência cada vez maior de levar a narrativa para um ponto em que seja possível ver os dois lados da guerra. Nos primeiros livros notava-se que o autor nos restringia a nossa visão apenas ao lado romano, onde Roma é a luz num mundo bárbaro e negro. Mas aos poucos essa visão perde fulgor para dar origem ao conflito de formas de ver a invasão romana, e tal como o leitor começa a receber o ponto de vista dos invadidos, também as personagens principais começam a criar as dúvidas que as levarão a questionar o sentido da invasão e, mesmo que de forma indireta, o autor tenta "vergar" a mentalidade de alguns soldados, dando ao leitor a noção que muitos combatiam porque era a única oportunidade que tinham de ganhar dinheiro, mas que não acreditavam plenamente no que faziam. 

Este terá sido, certamente, uma realidade: quantos não terão sido os soldados que lutaram (e ainda hoje lutam) por algo que não acreditam? Este livro explora tal ideia de forma mais direta do que qualquer outro da saga, e acredito que seja algo que continue a evoluir. Em termos de enredo, este é um livro mais focado nas personagens e menos na intriga. Esta é uma estratégia bastante comum nas sagas mais longas, em que o autor leva o livro a criar uma ligação mais forte entre personagem e leitor e neste caso acredito que o consiga, pois foi o que eu senti. 

Cato é um excelente personagem, principalmente porque consegue ser o espelho no livro: inteligente e simples. A forma como questiona o que o rodeia, mas sem nunca deixar de executar as ordens que recebe, é a base de toda a saga, a acredito que a sua forma de pensar seja cada vez mais importante nos próximos livros. 

Como disse antes, este livro consegue manter a fórmula que me viciou. Até agora, ao fim de cinco livros, raramente Scarrow me espantou com um lance de génio, mas a forma como escreve, e o detalhe que dá a certos aspetos, leva-me a continuar a ler com prazer e a querer saber qual o futuro destes personagens aos quais vamos ganhando ligações. Falar mais deste livro seria revelar pormenores que o leitor deve descobrir por si mesmo numa saga que se lê facilmente e a grande velocidade.

Scarrow pode não ser o melhor no género, mas sabe agarrar um leitor a cada livro com truques simples e com um enredo de qualidade constante, e com isso acredito que quem tenha gostado do primeiro livro, leia toda a saga, porque ficar a meio não é opção.

Luís Pinto


Se quiserem saber mais sobre este livro, cliquem aqui.

domingo, 16 de março de 2014

Passatempo: Gordon Ramsay - Comida Caseira


PASSATEMPO

Comida Caseira
de Gordon Ramsay


É com enorme prazer que iniciamos mais um passatempo, desta vez com um género diferente: culinária.

Para se habilitarem a ganhar basta preencherem o formulário e serem fãs ou seguidores do blog.

Apenas é permitido uma participação por fã/seguidor.

O passatempo termina dia 31 de março.

A todos os participantes, boa sorte!

Sinopse
«As minhas regras são simples. A comida caseira tem de ser rápida, e tem de ser deliciosa. Se pensa que não tem tempo para isso, está muito enganado: vou ajudá-lo a preparar pratos magníficos. Só precisa das receitas deste livro.»
GORDON RAMSAY

Ao longo de mais de 120 novas receitas, esta obra traz-nos de volta o prazer de cozinhar e de partilhar com a família e os amigos o melhor da comida caseira, desde os pequenos-almoços quotidianos aos jantares de sábado.

Notícia: Convergente chega às livrarias dia 21 de março



Convergente, o último livro da trilogia Divergente, de Veronica Roth, é publicado em Portugal a 21 de março.

Este livro sucede a Divergente e Insurgente, obras que garantiram a uma muito jovem autora (tinha 23 anos aquando da publicação do primeiro livro) um sucesso à escala global e muitos fãs em Portugal.
As aventuras desta saga desenrolam-se em cenário futurista, verosímil e
sem figuras sobrenaturais. Figuraram em várias listas de melhores do ano – Amazon, Publishers Weekly, Goodreads, Barnes & Nobles – e
chegaram a número um do top do The New York Times.
Convergente chega às livrarias poucos dias antes de estrear nos cinemas portugueses, a 3 de abril, o filme Divergente, produzido pela Summit Entertainment/Lionsgate, estúdio conhecido pela saga Crepúsculo.



SINOPSE
A sociedade de fações em que Tris Prior acreditava está destruída – dilacerada por atos de violência e lutas de poder, e marcada para sempre pela perda e pela traição. Assim, quando lhe é oferecida a oportunidade de explorar o mundo para além dos limites que conhece, Tris aceita o desafio. Talvez ela e Tobias possam encontrar, do outro lado da barreira, uma vida mais simples, livre de mentiras complicadas, lealdades confusas e memórias dolorosas. Mas a nova realidade de Tris é ainda mais assustadora do que a que deixou para trás. As descobertas recentes revelam-se vazias de sentido, e a angústia que geram altera as vontades daqueles que mais ama. Uma vez mais, Tris tem de lutar para compreender as complexidades da natureza humana ao mesmo tempo que enfrenta escolhas impossíveis de coragem, lealdade, sacrifício e amor. Convergente encerra de forma poderosa a série que cativou milhões de leitores, revelando os segredos do universo Divergente.

segunda-feira, 10 de março de 2014

O MAGO - A serva do Império - vol.2


Autor: Raymond E. Feist & Janny Wurts

Título original: Servant of the Empire


Sinopse: Os tempos mudaram e as formas de poder são hoje mais subtis e traiçoeiras. Nenhum clã pode sobreviver sem conhecer as intrigas do Jogo do Conselho. E todos o sabem. Mara dos Acoma está mais implacável do que nunca. Com a vida do seu filho em perigo e a continuidade da sua Casa ameaçada, a Senhora dos Acoma usa de todos os meios para controlar a crueldade dos seus inimigos.
Dotada de uma destreza intelectual invulgar, Mara dos Acoma coloca em causa não só as tradições dos Tsurani, como as suas próprias convicções. Neste jogo de sentimentos e poder, poderá não haver um vencedor…



Mais um grande livro de Feist (em conjunto com Wurts) neste universo de O Mago. Depois dois livros nesta saga (saga Filha do Império) que exploraram bastante a intriga política, este consegue fazer melhor, pois expande essa intriga e aprofunda o mundo onde decorre, sem esquecer que são as personagens o núcleo do enredo. Sendo a 2ª metade do livro original, o enredo começa forte logo nas primeiras páginas e de imediato fiquei agarrado por um simples facto: este é o livro que mostra como ficou Kelewan desde o "show" feito por Pug antes de voltar a Midkemia. Há muito tempo que questionava quais teriam sido as mudanças na sociedade após tamanho evento e essa curiosidade aumentou ainda mais com os dois livros anteriores desta saga, onde comecei a perceber a magnitude do jogo político travado neste mundo. Valeu a pena esperar!

No entanto, apesar do enredo começar logo ao rubro, o ritmo da narrativa nunca é alto. Nunca o foi neste universo e o estilo mantém-se, com descrições fortes, inteligentes e essenciais para percebermos cada vez mais esta civilização. E aos poucos, o trabalho nota-se, pois sentimos que conhecemos mais de Kelewan do que, por exemplo, Midkemia. É esta a qualidade e a profundidade que os autores oferecem neste enredo, por forma a percebermos todas as ligações desta teia que é o jogo político. O livro está progressivamente a aprofundar costumes, religião, hábitos e formas de sobreviver usadas por este povo, e é este conhecimento global, e que nunca é o principal no livro, que torna tudo tão coeso, pois sem este conhecimento a complexidade do jogo político nunca seria compreendida pelo leitor.

Mas o principal do livro continua a ser Mara, uma personagem feminina única, muito bem criada, sendo ao mesmo tempo surpreendente e consistente. E é com Mara que o livro evolui, pois tal como Mara se torna mais influente, as suas decisões tornam-se complexas e com maiores responsabilidades, pois influenciam um universo muito maior... e por isso é preciso dizer que com a evolução de Mara o livro também evolui, aprofundando este mundo. E de mãos dadas, enredo e personagem principal, constroem uma base que nos obriga a continuar a ler.

É interessante ver como Mara agarra o leitor. A rapariga, que lemos nas primeiras páginas da trilogia, está agora longe de se reconhecer. Com ela, outras personagens ganham a nossa atenção, quer sejam os "bons" ou os "maus", e Feist sempre conseguiu criar bons vilões, mas também heróis marcantes, e Mara será, certamente, uma das suas maiores criações. Outra personagem interessante é Kevin, e aqui é preciso dizer o seguinte: Kevin é a personagem que faz o contraste entre os dois mundos, duas realidades diferentes, duas sociedades totalmente distintas. É com Kevin que duas mentalidades chocam e é com ele que vemos olhares diferentes sobre escravatura, honra e religião. Existe uma crítica escondida em vários diálogos e que também servem para aprofundar, novamente, este mundo.

Todavia, é impossível não olhar para este livro apenas como uma metade e quando juntamos os dois volumes e vemos o resultado, então estamos mesmo perante um grande livro e que tem uma fantástica base para acabar a saga em grande. Podia aqui mencionar personagens ou momentos marcantes, mas seria estragar o prazer que é ler estes livros. Feist é realmente um grande escritor porque sabe como envolver o leitor enquanto expande o enredo, e nunca ficamos saturados.

Bem estruturado, com diálogos inteligentes, boas personagens e um excelente mundo, com uma cultura vibrante, este é um livro inteligente e complexo. É interessante ver as movimentações das personagens e tentar antever as suas decisões, muitas vezes falhamos e somos surpreendidos, e Feist/Wurts oferecem um livro que se lê rapidamente. Venha o próximo, e rápido, para acabarmos uma das sagas mais aclamadas deste universo que Feist criou!... Afinal, o que é preciso para se mudar a ideia base de toda uma cultura?

Luís Pinto


terça-feira, 4 de março de 2014

LISBOA - A Guerra nas sombras da Cidade da Luz, 1939 - 1945


Autor: Neil Lochery

Título original: Lisbon - War in the shadows of the City of Light, 1939 - 1945


Sinopse: Lisboa foi, durante a Segunda Guerra Mundial, o centro da espionagem e da intriga internacionais, e a única cidade europeia onde Aliados e potências do Eixo operavam à luz do dia e se vigiavam mutuamente. Era a Casablanca real, com todos os ingredientes de uma glamorosa intriga ficcional – manobras de bastidores, traições, um próspero mercado negro, romances tumultuados, espiões de ambos os lados da guerra, refugiados, banqueiros, diplomatas, elementos da realeza europeia exilada e da alta sociedade, escritores e artistas que se cruzavam nos hotéis e cafés do centro da cidade ou da idílica costa do Estoril. Sobre este cenário de filme noir dominam dois protagonistas – Salazar e a destreza política com que joga, no finíssimo fio da navalha, a neutralidade e a soberania portuguesas.


A espionagem sempre foi um dos temas que mais gostei de ler e quando se junta à 2ª Guerra Mundial, ainda melhor. Neste livro, que tenta desvendar um pouco sobre a espionagem feita em Lisboa durante a guerra, vemos a "ginástica" política de Salazar para se manter neutro enquanto várias nações tentam ganhar influência no nosso país.

Em primeiro lugar devo realçar o quanto o autor tenta sustentar o seu livro com factos documentados, criando uma ligação constante ao que o leitor já poderá saber. Pelo meio, o livro desvenda um pouco do jogo de interesses que foi criado em Portugal, país neutro e teoricamente seguro, numa fase em que a economia mundial estava em clara desordem devido aos custos da guerra. Temos uma Alemanha que olha para Portugal como um mercado fornecedor e os Aliados que tentam levar o nosso país para a guerra, quer seja para apoio na frente da batalha ou para fornecer o que for necessário. E se a questão é: como conseguiu Salazar manter este país neutral?, aqui tenta-se dar uma resposta.

Este não é um livro sobre o qual se deva fazer uma grande análise. O prazer deste livro está em saber um pouco mais sobre esta história e sobre a cidade que foi o centro da espionagem mundial e o local de onde muitos fugiam para o novo mundo, deixando uma Europa em chamas e ruínas. A acompanhar este excelente trabalho de pesquisa estão várias fotos de locais e personalidades que de alguma forma entraram neste jogo de sombras, onde economia e política eram a base das decisões que mudaram o mundo.

De enaltecer ainda a escrita do autor. Com um tema com tantos factos para explorar ao mesmo tempo, a escrita poderia ser algo confusa em alguns momentos, mas não o é, e nunca me senti perdido nem a achar que não estava a ver todas as ligações que o autor estava a fazer, pois existe uma montagem muito boa neste livro. Para quem não conheça muita da nossa capital, o livro apresenta ainda um mapa de como era Lisboa durante a guerra, assinalando os locais mais importantes para os acontecimentos do livro, quer seja uma praça importante ou um hotel onde muitas festas se faziam e onde se conspirava com o acompanhamento de um copo. 

Se gostam do tema e do género, este é um livro totalmente recomendado. Li-o sem parar, sempre procurando mais factos e ligações, aprendendo um pouco mais sobre a história desta cidade e do país, e escrever mais sobre este livro é revelar detalhes que o leitor deve descobrir durante a leitura. Destaque ainda para a forma como o autor descreve a nossa cidade, levando-me a imaginar como Lisboa era fantástica naquela época, com a sua luz única, criando um ambiente que por vezes esquecemos que ainda tem.

Luís Pinto

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.