Autor: Margaret Weis & Tracy Hickman
Título original: Dragon of Spring Dawning
Antes de começar a minha opinião sobre este livro e fim de saga, pensemos no seguinte: o que é um bom livro de fantasia? Será um conceito universal o que é ser "um bom livro de fantasia"? Na verdade cada leitor terá o seu conceito. Uns dirão que precisa de inovar, outros dirão que precisa de ser vasto, ou maduro, ou mágico, ou divertido de ler. Em teoria todos estão certos?
Bem, não continuarei esta discussão aqui, mas deixo a questão porque este é um livro que não trazendo nada de novo ao género, consegue dar prazer a quem o lê, ser coerente, agarrar o leitor até ao fim e surpreender com alguns momentos e personagens. E claro, esta saga tem Raistlin.
Este é o último livro da trilogia DragonLance e deixou-me uma mistura de sentimentos. Em primeiro lugar devo dizer que apesar de este não ser, em termos qualitativos, o melhor livro da saga, é verdade que é o mais viciante. Passo a explicar...
Este livro sofre imenso com o elevado número de personagens importantes que tem, e fica a noção que o livro teria de ser muito maior para conseguir explorar essas mesmas personagens e as suas ações neste fim de guerra. Neste aspeto o livro perde qualidade pois sentimos buracos na narrativa e ficamos sem saber o que se passa com algumas personagens durante várias páginas. No entanto, percebe-se o porquê de os autores terem apostado nestes saltos narrativos, pois o ritmo poderia baixar bastante e talvez saturar o leitor que está habituado ao elevado ritmo da saga.
Por outro lado, os acontecimentos tornam este livro mais maduro que os anteriores, e apesar de existirem alguns momentos previsíveis, também existiram outros que me surpreenderam bastante. Esta é uma saga que vive das suas personagens, pois como já disse anteriormente nas opiniões aos primeiros dois livros, em termos de mundo este livro não traz grandes "novidades" à fantasia, nem o tenta fazer. Esta é a fantasia "básica" de elfos, anões e homens, e é no enredo e personagens que está a diferença para outras sagas.
Olhando para as personagens, é difícil esquecer algumas, que por algum motivo em específico, conseguem ser os catalisadores da história. Em primeiro lugar Tas é a personagem que mais evolui (continua a ser quem dá a sensação mais cómica ao livro) ao mostrar o que até agora não tínhamos visto. A sua evolução/alteração não a irei descrever, mas levanta várias questões morais e que se enquadram com a nossa atualidade. Tanis é outra personagem que demonstra o que até agora ainda não se tinha visto e novamente várias questões se levantam, principalmente sobre a liderança de uma pessoa sobre um grupo. Mas é, novamente, em Raistlin que esta história assenta. Mesmo que muito menos presente neste livro, Raistlin é a personagem que faz o leitor continuar e as suas perguntas e respostas serão o ponto alto do livro. O que torna esta personagem bem construída é, essencialmente, o facto de toda ela ter sido coerente desde a primeira página, dando a noção que o seu destino sempre esteve traçado pelas autores.
Com Raistlin, e de forma indireta, vemos o livro a levar-nos a questionar até onde as nossas ações podem fazer diferença no futuro. Somos muitos neste mundo, e todos nós temos alguma influência na vida dos que nos rodeiam (e agora não só), mas alguns conseguem mudar o mundo e a questão passa a ser : como o fazemos e se o devemos fazer. É, ou não, uma obrigação de cada um tentar mudar o mundo?
Todavia, como disse antes, o livro deixou-me uma mistura de sensações simplesmente porque não é um final definitivo. Sente-se que a história tem mais para dar e que está a preparar a próxima trilogia. Claro que quem apenas ler estes três livros, terá uma conclusão (aproveito para dizer que é muito boa) mas há pequenos detalhes que, certamente, servirão de "ponte" para os próximos livros.
Agora que li toda a trilogia, posso dizer que não sendo um marco de inovação no género, e não tendo a profundidade que outras famosas sagas apresentam, Dragonlance é muito viciante e fácil de ler, dando-me a certeza que será uma excelente saga para quem queira começar a ler fantasia. Quem "domine" a literatura fantástica tem aqui um ritmo elevado, personagens muito interessantes e uma história que faz sentido agora que acabou. Não é uma obra-prima mas aconselho-a pela sua "face" mais leve, divertida e que vai amadurecendo, acabando muito melhor do que começou. E já agora, não podemos esquecer Fizban, outra grande personagem! Enquanto leitor de literatura fantástica, dou grande valor a uma história que me "agarra" e que nunca se torna um esforço, e por isso, gostei bastante desta trilogia.
Luís Pinto