domingo, 29 de julho de 2018

CHAMA-ME PELO TEU NOME


Autor: André Aciman

Título original: Call me by your name



Sinopse: Na idílica Riviera italiana nasce um romance intenso entre um rapaz de dezassete anos e o convidado dos pais, um estudante universitário que irá passar com eles umas semanas no verão.
A mansão sobre as falésias é povoada por um conjunto de personagens excêntricas, com um gosto especial pela boa vida. Mas nenhum dos jovens está preparado para as consequências da atração, que, durante essas apaixonadas semanas de calor, mar e vinho, faz crescer entre eles o fascínio e o desejo, sentimentos que não conseguem suprimir, apesar de todas as proibições e dos perigos.
Divididos entre o receio das consequências e o fascínio que não conseguem esconder, avançam e recuam movidos pela curiosidade, o desejo, a obsessão e o medo, até se deixarem levar por uma paixão arrebatadora e descobrirem uma intimidade rara que temem nunca mais encontrar.



Finalmente li o livro que deu origem a um dos filmes mais falados nos últimos meses. Este é um daqueles livros em que a sinopse nos consegue de imediato dar uma imagem bastante interessante e bastante global do que será o enredo, e a partir daí entramos numa leitura que surpreende e que nunca nos deixa indiferente, pois todo o enredo está criado para nos transmitir algo, quer seja alegria, tristeza, revolta, etc. 

Com dois personagens principais muito bem construídos, o grande trunfo do livro divide-se em dois fatores: a realidade da sociedade criada e o amor entre os personagens. Começando pela sociedade, o autor explora muito bem todo o ambiente de férias, festa e verão de um grupo de personagens excêntricas que estão a gozar as suas férias. A forma como o autor explora certos temas e conceitos e o coloca neste ambiente deve ser aplaudido, porque rapidamente o leitor entra no enredo e sente que está dentro do livro. Para isso muito ajuda o ritmo, leve e inteligente, e que acaba por se forcar em momentos chave para o desenrolar no romance. A seguir temos o romance em si, criado de forma intensa, e sempre envolto nos preconceitos, na proibição e nos perigos. Com esta sensação sempre presente o autor agarra-nos facilmente para percebermos como tudo irá acabar. É esta sensação de que algo irá correr mal que nos empurra a grande velocidade para o fim do livro.

Com um enredo muito bom, diálogos inteligentes e sem grandes momentos forçados, temos aqui um livro realista e com momentos de grande escrita. A forma como o autor conta esta história é soberba, aumentando ainda mais o impacto dos acontecimentos no leitor. Quer tenham ou não visto o filme, este é um livro que agradará a todos os que leiam esta sinopse e fiquem curiosos. Um livro marcante , com uma narrativa sábia e muito para nos ensinar.

Luís Pinto


sábado, 28 de julho de 2018

A LESTE DO PARAÍSO


Autor: John Steinbeck

Título original: East of Eden



Sinopse: Os solos férteis do vale de Salinas, na Califórnia, são o cenário deste grande fresco histórico que acompanha os destinos de duas famílias, os Trask e os Hamilton, desde os dias da Guerra Civil Americana ao pós-Primeira Guerra Mundial. 
 A inexplicabilidade do amor e as consequências criminosas da sua ausência estão no centro deste romance, publicado originalmente em 1952, onde John Steinbeck apresenta algumas das suas personagens mais cativantes. Enfrentando um percurso pejado de luta e de sofrimento que atravessa gerações, nas suas histórias ouve-se ecoar irremediavelmente a tragédia das palavras bíblicas e assiste-se a uma reencenação da queda de Adão e Eva e da rivalidade destrutiva entre Caim e Abel.


Se seguem o meu blog, sabem que sou um grande apreciador de Steinbeck, um escritor único e que me proporcionou leituras fascinantes. Este livro, o último grande livro que me faltava de Steinbeck, é mais uma obra prima do seu tempo, um livro que consegue sobreviver ao tempo para se tornar num livro que estará sempre atualizado pela forma como explora a natureza humana.

Com personagens cativantes e brutalmente realistas, Steinbeck sempre teve a impressionante capacidade de explorar as personalidades das suas criações. Tal como aconteceu com outros livros, Steinbeck aprofunda de forma magistral as suas personagens, tornando-as realistas, coerentes e capazes de nos surpreender.

A seguir, tal como era esperado, o livro vagueia pela sociedade, levando a uma poderosa crítica social enquanto nos desvenda sonhos, medos, preconceitos, ideais ou crenças das pessoas mas também da comunidade enquanto um grupo de pessoas que vive junta e que se adapta ao que o mundo lhes dá. O facto de esta ser uma história entre duas grandes guerras não é acaso, pois com este cenário Steinbeck consegue explorar melhor as características mais importantes e que nos definem nos melhores e piores momentos.

Com uma escrita limpa e direta, Steinbeck explora como poucos o que nós somos. A história, forte, emotiva e inteligente, cativará qualquer leitor que aprecie o género e que aprecie qualidade. O facto de ser um livro com mais de setenta anos e que continua tão atual mesmo na forma como a sociedade interage é a demonstração da qualidade do autor. Um livro obrigatório e um dos grandes clássicos do século passado.

Luís Pinto

   

segunda-feira, 23 de julho de 2018

DO OUTRO LADO


Autor: Michael Connelly



Sinopse: O detetive Harry Bosch acaba de se reformar da LAPD, mas o seu meio-irmão, o advogado de defesa Mickey Haller, precisa da sua ajuda. Uma mulher foi brutalmente assassinada, o corpo encontrado na cama, e todas as provas apontam para o cliente de Haller, antigo membro de um gang de Los Angeles que diz há muito ter abandonado o mundo do crime. Embora a acusação de homicídio pareça perfeita, Mickey tem a certeza de que se trata de uma armadilha.
Bosch não quer atravessar a linha que opõe as forças de segurança à defesa de um criminoso. Sente que tal seria trair uma carreira lendária de trinta anos como detetive na Brigada de Homícidios. Mas Mickey garante não comprometer o seu trabalho: se Harry provar que o seu cliente é culpado, então a prova será entregue à acusação.
Desafiando todos os seus instintos, Bosch aceita o caso. A investigação tem, pura e simplesmente, demasiadas lacunas. Se o cliente de Haller é inocente, quem será o culpado? Todos os caminhos vão dar ao interior do Departamento da Polícia – e o assassino que Harry Bosch procura também o tem estado a procurar a ele. 



Michael Connelly, o mundialmente famoso escritor que tem em Harry Bosch o seu personagem de eleição, tem aqui um novo livro bastante interessante. Em primeiro lugar, este autor é sinónimo de qualidade e gostei bastante de alguns livros seus que li. No entanto o que me convenceu foi a sinopse, que de imediato cria a dúvida no leitor de forma interessante e inteligente.

Com o seu já habitual ritmo em montanha russa, o autor continua a explorar Harry e Mickey, dois dos seus personagens mais famosos e que aqui voltam a juntar-se para levar o leitor numa viagem que será um choque de crenças onde a dúvida está sempre no ar. Em termos de narrativa o autor tem como grande trunfo estar constantemente a criar novas dúvidas, quer para um lado, quer para o outro, levando o leitor e questionar tudo e a balançar entre os vários finais possíveis. O resultado é um livro que nos leva até ao último instante a questionar e a duvidar do que lemos e do que nos parece lógico, incluíndo do que os personagens mostram e dizem.

Em relação às personagens não há muito a acrescentar em relação a livros anteriores. Personagens coerentes, inteligentes e que ajudam a que os diálogos sejam bem conseguidos, sem grandes momentos forçados na investigação. Claro que pelo meio existem alguns momentos em que gostava de ter lido outras perguntas que levassem a investigação numa direção que poderia de alguma forma encurtar o enredo, mas percebo muitas das decisões do autor que assim conseguiu explorar vários temas atuais aproximando-se até de alguma crítica social. 

Globalmente, voltei a gostar deste novo livro de Connelly. Este é um autor que sabe como agarrar o leitor com inteligência mantendo sempre a dúvida até ao último momento, sempre sem certezas de nada. Se apreciam thrillers policiais então Connelly tem de ser uma referência, e este é mais um livro que o comprova.

Luís Pinto


terça-feira, 17 de julho de 2018

PEDIDO DE AMIZADE

 
Autor: Laura Marshall
 
Título original: Friend Request
 
 
 
Sinopse: Um pedido de amizade no Facebook…
É a coisa mais normal do mundo. Certo?
Maria Weston morreu durante a sua festa de finalistas do liceu. Era uma rapariga irreverente, autêntica e tinha a vida pela frente… O corpo nunca foi encontrado. Portanto, quando Louise Williams, 25 anos depois, recebe o seu pedido de amizade no Facebook, entra em pânico.
Depois do pedido, começam a chegar as mensagens. Inicialmente, parecem inofensivas. Memórias de um passado que Louise não quer relembrar, mas apenas isso.
Depois, começam a ser cada vez mais detalhadas, e as recordações aproximam-se perigosamente de um segredo que nunca deverá ser revelado. Louise nem imagina o que aconteceria se todos soubessem o que realmente aconteceu a Maria.
Mas, afinal, é apenas o Facebook, certo?
Mesmo quando Louise sente alguém a segui-la no metro. É tudo virtual, não é?
Até quando há objetos a desaparecer de casa. O que se passa nas redes sociais não é a vida real, certo?
Certo?
 
 
As redes sociais são uma parte bastante "importante" da vida da nossa atual sociedade se olharmos para o tempo que passamos nas mesmas, a importância que a sociedade lhes dá... este livro tenta explorar isso mesmo, a ligação, a dependência, e muito mais que não vou revelar. Foi, provavelmente, essa originalidade que me fez avançar.
 
Com um ritmo forte e sempre muitas dúvidas no ar, gostei da forma como a autora estruturou o suspense para me manter a ler sem parar. O grande motor desta leitura está na constante dúvida se estamos perante um thriller com um final inesperado mas realista, ou se será baseado em algo mais sobrenatural. Tirando esta questão que nos persegue até ao fim, o livro desenvolve-se bem, com personagens interessantes e alguns momentos que me surpreenderam. É verdade que pelo meio a autora força alguns acontecimentos mas nada que seja destruidor para o enredo.
 
Com personagens que ajudam a explorar a forma como vemos as redes sociais, os benefícios e os perigos que nos trazem, a autora conseguiu criar uma crítica social bastante competente que se mistura muito bem com o enredo.
 
Depois chegamos ao final, forte, coerente, surpreendente e com alguns contornos que não esperava. E é no final que o livro se revela, tornando-se mais coerente apesar dos momentos forçados que antes mencionei. O ritmo, as dúvidas, as personagens, os diálogos, tudo nos prepara para aquele momento. Globalmente, este é um livro bem pensado e um thriller que agradará aos que olharem para a sinopse e ficarem com vontade de ler algo envolto na questão das redes sociais e do "espaço" que existe entre o perfil e a verdadeira pessoa que poderá estar do outro lado do monitor. E é essa ideia perturbadora que aqui é explorada e que deveria estar sempre presente.
 
Luís Pinto
 
 
 
 

segunda-feira, 16 de julho de 2018

BREVE HISTÓRIA DA EUROPA

 
Autor: Raquel Varela
 
 
 
 
Sinopse: Breve História da Europa - Da Grande Guerra aos nossos dias é um ensaio histórico sobre os principais acontecimentos que marcaram o continente entre 1917 e 2017, num olhar aguçado sobre as dinâmicas sociais de um século. Do militarismo imperialista à Revolução Russa, da crise de 1929 à Segunda Guerra Mundial, do fim do pacto social à crise da União Europeia, passando pelas descrições empolgantes do Maio de 68 e da Primavera de Praga, Raquel Varela coloca o trabalho e as suas relações políticas e sociais no centro das grandes mudanças que ocorreram nos últimos 100 anos.
Este é um livro que levanta questões provocadoras e nos dá respostas sérias e rigorosas.
Terá sido o apocalipse da Segunda Guerra Mundial - o episódio mais brutal da história da Humanidade, com a perda de 80 milhões de pessoas - a resposta de uma classe suicidária à crise de 1929? E o século XX, que começou (ainda que não oficialmente) em 1917, terá terminado em 1989 com a queda do Muro de Berlim, ou em 2008, com o fim do pacto social europeu?
 
 
 
Sempre fui apreciador de bons livros que conseguem percorrer uma época, explorando acontecimentos e ensinando ao leitor o que realmente é importante dentro de uma certa área. Neste caso, temos aqui um livro que olha para a Europa e, com grande foco nas questões políticas, sociais e económicas, explora os grande acontecimentos dos últimos cem anos.
 
Acima de tudo, gostei da forma como a autora estruturou o livro, levando a que cada página estivesse de alguma forma ligada à seguinte, quer fosse direta ou indiretamente. O livro avança com suavidade apesar de a escrita ser lenta para percebermos os detalhes necessários para a compreensão do livro como um todo. Quando acabamos o livro é fácil perceber como a autora quis desde o início explorar as ligações existentes durante todos estes anos e como acontecimentos de há muito tempo ainda influenciam os acontecimentos de hoje. Claro que tudo isto é bastante óbvio, mas a forma como o livro explora essas ligações faz a diferença.
 
Outro aspeto positivo deste livro, e talvez o mais importante para que qualquer leitor o aprecie, está no facto de a autora conseguir oferecer o conhecimento necessário para que um leitor nunca esteja fora do contexto. Apesar de já ter lido vários livros sobre o tema, tentei constantemente perceber como seria se este fosse o primeiro livro lido dentro do tema, e acho que nunca me sentiria deslocado, sendo este facto muito importante para percebermos tudo. 
 
Globalmente, o que é atrativo neste livro é o facto de abordar vários temas, várias nações, dando uma visão bastante global. Todos nós podemos ler um pouco mais sobre um ou outro tema dentro da História da Europa, mas este livro consegue ser bastante amplo, abordando as várias nações, vários acontecimentos e, claro, os fatores externos à europa e que muita importância tiveram. Pelo meio, muitas perguntas respondidas, outras sem resposta para que o leitor questione e tire as suas conclusões e quem sabe, perceber alguns sinais que poderemos ter no futuro.
 
Luís Pinto
 
 
 
 

quarta-feira, 11 de julho de 2018

BEREN E LÚTHIEN



Autor: J. R. R. Tolkien



Sinopse: 100 anos depois, uma obra única: a história de amor de Beren e Lúthien escrita por J.R.R. Tolkien, nunca antes publicada de forma independente, chega a Portugal editada pela Editorial Planeta.
O destino dos dois amantes Beren e Lúthien, um homem mortal e uma elfo imortal que, juntos tentam roubar uma Silmaril ao mais poderoso de todos os representantes do mal: Melkor.
Uma obra fundamental para os amantes de Tolkien e de literatura fantástica e que nenhum fã da Terra Média pode perder!
O livro inclui 9 extratextos ilustrados a cores e desenhados especialmente para esta edição por Alan Lee.
Assim como ilustrações a preto e branco ao longo do texto.




Quando vi este livro, acreditei que o seu grande trunfo estaria na qualidade dos materiais, na capa, nos desenhos, porque eu já conhecia o enredo, já o tinha lido, e não esperava algo de novo. E foi aí que me enganei. O que temos aqui é o aprofundar de uma fantástica história, umas das melhores que Tolkien escreveu.
 
Não vale a pena explicar aqui a base do livro, pois basta lerem a sinopse para perceberem um pouco mesmo que não sejam conhecedores profundos do universo de Tolkien. Tendo em conta que "O Silmarillion" é um dos meus livros favoritos, e para mim um dos melhores livros de sempre, sabia que iria gostar deste livro, e foi ainda melhor do que esperava, muito graças às ilustrações que melhoram a leitura. 
 
Começo por aplaudir a edição do livro, com capa dura e ilustrações pelo livro que nos ajudam a navegar pela fantástica imaginação de Tolkien. Depois o que devemos fazer é absorver este livro, estas personagens, esta história. E a partir daqui não há muito mais que possa dizer. As personagens estão muito bem criadas, sendo este casal uma das melhores criações de Tolkien em termos de qualidade de personagens. Pelo meio junta-se Melkor, um vilão com uma aura que melhora o livro a cada instante por tudo aquilo que vamos lendo sobre ele.
 
O enredo é muito interessante e bastante emotivo, levando o leitor a passar por um conjunto de emoções que nos fará questionar as aproximações entre o enredo e a realidade e, principalmente, que sentimento é este a que chamamos amor. Muitas das obras de Tolkien exploram a força do amor, da amizade, da natureza, e este livro explora tudo isso em medidas coerentes e que tornam o livro inteligente e capaz de agarrar qualquer leitor que aprecie o género. Claro que Tolkien tem uma escrita muito peculiar e por isso não agradará a todos, mas a qualidade é inegável.
 
Para tornar o livro ainda melhor, este enredo aproveita muito bem o universo criado por Tolkien, com grande simbolismo, um peso enorme na criação do mundo e na sua História, levando-nos a sentir que tudo faz sentido, tudo é coerente, tudo é real. É este peso que o universo de Tolkien tem, capaz de parecer real, vivo, ali ao nosso lado.
 
Mesmo para quem já tenha lido esta história, ter este livro, navegar nestas páginas, ver estas ilustração, é um luxo. Este é uma das melhores histórias de amor que já li, e recomendo o livro a todos os fãs de Tolkien, mas não só, pois os fãs de fantasia e de romances têm aqui uma obra-prima.
 
Luís Pinto

 

segunda-feira, 9 de julho de 2018

QUANDO A LUZ SE APAGA

 
Autor: Nick Clark Windo
 
Título original: The Feed
 
 
 
 
Sinopse: Bem-vindo ao incrível mundo do Feed!
Com apenas um pequeno chip, implantado no cérebro dos bebés ainda antes de nascerem, todos os problemas da sociedade podem ser resolvidos. Crimes violentos? Fraude? Impossível, tudo o que vemos é registado no Feed. Desaparecimentos? Faltas? Já não existem, o Feed põe-nos a todos em contacto. Esquecimentos? Distrações? Coisa do passado, o Feed não se esquece de nada.
Até ao dia em que o Feed é desligado.
Nesse dia, o Presidente dos Estados Unidos é assassinado, em direto, para todo o mundo. Pouco depois, o Feed cai. Já não há livros. Já ninguém tem computadores. Já ninguém se lembra, sequer, de como consertar as coisas mais simples. Toda a informação estava guardada no Feed. Sem ele, a civilização desaba.
 
 
 
A nossa vida é depende de muita coisa. Coisas que damos como garantidas, que provavelmente nem sabemos como funcionam, nem o que é preciso para a podermos usar. Água, luz, usamos sem pensar, e só lhes damos valor quando nos faltam. A nossa vida a mudar porque durante umas horas a água falta em casa. E se fosse a internet? E fosse o combustível? A sociedade leva-nos a depender de algo, sem questionar... Este livro fala sobre isso, e foi por isso que decidi lê-lo. Porque se certos alicerces da sociedade falharem, como poderemos adaptar-nos?
 
Coerente e inteligente, este livro tem um ritmo muito próprio, que muda entre algo mais rápido para aumentar a intensidade e os momentos mais lentos que ajudam a estruturar a sociedade do enredo. Não é, por vários motivos, um livro para qualquer leitor. É preciso gostar do género, é preciso estar atento, é preciso aceitar a nossa natureza animal que é moldada pela sociedade. É preciso aceitar que tudo pode mudar de repente.
 
Claro que para tornar o livro mais forte e para ter maior impacto no leitor, o autor explora, de forma dura, uma realidade que até poderá não fazer sentido aos nossos olhos, mas que dentro deste mundo, faz, e com coerência. Aceitando esta realidade, vemos como tudo encaixa muito bem, mesmo perante um final que nos deixa a pensar, mas que desde o início nos deu pistas para o que estava para vir.
 
Com personagens interessantes e uma estrutura que é um dos trunfos do livro, o autor conseguiu agarrar-me porque, ao contrário de muitas distopias lançadas no mercado, rapidamente se percebe que este livro foi pensado com pés e cabeça.
 
Devido à sua ideia base e também ao seu final, nem todos os leitores irão apreciar este livro, mas a qualidade está aqui, com uma ideia que vai a um extremo para questionar a nossa atual sociedade, passando uma crítica e uma lição que devemos questionar e aprofundar.
 
Se gostam do género, é claramente um livro a ler. Uma leitura a reler, daqui a uns anos, para perceber se estamos mais próximos ou mais longe da dependência e pânico que este livro conseguiu recriar.
 
Luís Pinto
 
 

sexta-feira, 6 de julho de 2018

MERIDIANO 28


Autor: Joel Neto



Sinopse: Em 1939, o mundo entrou em guerra. Foi o conflito mais mortífero da história da humanidade. Mas, na pequena ilha açoriana do Faial, ingleses e alemães conviveram em paz durante mais três anos. Eram os loucos dos cabos telegráficos.
Do mar em frente emergiam os periscópios de Hitler. Dezenas de navios britânicos eram afundados todos os meses. Já em terra, as crianças inglesas continuavam a aprender na escola alemã, dividindo as carteiras com meninos adornados de suásticas. As famílias juntavam-se para bailes e piqueniques.
Os hidroaviões da Pan American faziam desembarcar estrelas do cinema e da música, estadistas e campeões de boxe. Recolhiam-se autógrafos. Jogava-se ao ténis e ao croquet. Dançava-se o jazz.
Viviam-se as mais arrebatadoras histórias de amor.
Poderia um agente nazi ter-se escondido nos Açores, consumada a derrota de Hitler?
QUEM FOI HANSI ABKE?
QUE SOMBRA LANÇA HOJE SOBRE O DESTINO DE JOSÉ FILEMOM MARQUES, O SOBRINHO CRIADO NO BRASIL?






Se seguem o meu blog, então devem saber que gosto bastante de livros que abordem a Segunda Guerra Mundial. Já li muito e muitos livros sobre o tema, de ficção ou não, e por isso admito que já não é fácil um livro encher-me as medidas neste tema. No entanto, olhei para esta obra, li a sinopse e houve qualquer coisa que me chamou a atenção. Provavelmente foi a sua originalidade no ponto de vista que estavam naquelas palavras. Decidi que deveria lê-lo.
 
Meridiano 28 é uma história diferente que aborda o famoso conflito de forma suave, apenas como base para um romance que explora outros pontos de vista do conflito, num local que para o conflito tem tanto de importante como de insignificante, um local de que o conflito se pode esquecer, mas onde as pessoas não esquecem o conflito. Apenas o vivem de forma diferente.
 
E é com esta base, bem explorada na sinopse, que o autor vai criando o seu romance, aprofundando personagens credíveis num enredo interessante, bem montado e com um ritmo pausado para explorar, principalmente, a base social. O resultado é um livro que apesar de focado nas personagens, tem na sua base, e como trunfo, uma abordagem e um aprofundar muito interessante à sociedade. Ao olhar para esta sociedade, o autor explorar como as pessoas se adaptaram, o que mudou, como viam o conflito, que jogos de interesse existiam, que peso tinha aquela sociedade no conflito e que peso tinha o conflito nelas. Sendo a Segunda Guerra um choque de ideais (o normal na maioria dos conflitos) é interessante ver este ponto de vista claramente singular, e foi isso que mais gostei no livro.
 
Quando acabei estas páginas, senti que o trunfo está na escrita do autor, na abordagem escolhida e também no enredo simples, mas praticamente sem momentos forçados que nos tentam oferecer um ponto de vista realista. No entanto, aquilo que mais gostei foi a abordagem ao tema, o quanto este influenciou uma sociedade e várias gerações, tanto as que a viveram, como as futuras. Este é um livro simples, mas inteligente na sua essência e capaz de nos levar a pensar e a compreender mais um ponto de vista raramente abordado sobre este conflito.
 
Luís Pinto 

 

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Star Wars: Han Solo

 
Autor: Marjorie Liu
 
 
 
Sinopse: O charmoso e cínico Han Solo, uma das personagens mais queridas pelos fãs de Star Wars, estreia a sua aventura!
Uma aventura situada entre os filmes Uma nova Esperança e O Império contra-ataca, Han Solo é de novo um herói relutante que acede não muito convencido a fazer um favor a Leia procurando descobrir um traidor na Rebelião.
Apertem os cintos para a corrida definitiva! a nossa aposta é para Han e a Falcão Milenário… mas não é em vão, é a nave que ultrapassou o Corredor Kessel em menos doze parsecs!
 
 
 
 
 
A Disney continua a explorar o Universo Star Wars e tal como se esperava, o sucesso tem sido imenso na grande maioria dos casos. No entanto, confesso que o que mais me surpreendeu foi a qualidade nesta série de comics que junta Star Wars e Marvel para a criação de várias pequenas séries que exploram as aventuras dos personagens mais famosos.

Claro que nestes livros as sérias mais famosas são as de Darth Vader e também a principal que segue Luke, Han e Leia. No entanto, pelo meio têm aparecido alguns livros mais focados noutras personagens, como por exemplo este Han Solo. Sendo um livro que se situa após o Episódio IV, temos aqui Han Solo na fase em que ainda tem de ser convencido a ajudar os Rebeldes e gostei da forma como os autores abordaram esta questão a nível psicológico. Pelo meio continuamos a ver algumas personagens conhecidas e a perceber um pouco mais como toda esta guerra evoluiu, como era sustentada e até com alguns toques de espionagem, jogo de intrigas e muitas movimentações de bastidores.

Com a editora Planeta a continuar com o excelente nível de qualidade dos materiais, tanto no papel como na capa dura, as ilustrações estão muito boas, num estilo próprio e que encaixa muito bem na intensidade que Star Wars pede. O enredo está bem conseguido, fundamentalmente pela forma como explora Solo e como este vê a guerra, os Rebeldes e o Império. Se são fãs de Star Wars, tem de estar na vossa estante, até porque com os contínuos lançamentos da Planeta, faz cada vez mais uma estante muito bonita.
 
Luís Pinto
 
 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

HISTÓRIA DAS SEITAS E SOCIEDADES SECRETAS


Autor: Bernard Michal & Jean Renald




Sinopse:  O que é uma seita? E uma sociedade secreta?
Que mistérios e segredos as unem e as distinguem?
As seitas são apenas religiosas ou podem assumir um
cariz político ou filosófico?
A História das Seitas e Sociedades Secretas apresenta as mais importantes e influentes seitas e sociedades secretas que surgiram ao longo dos tempos, detalhando as suas origens e os enigmas que as envolvem, e analisando a sua importância no contexto histórico, social, político e religioso em que surgiram.
Das seitas da Cristandade antiga e medieval à Franco-Maçonaria, dos Carbonários à Máfia, este livro dá a conhecer os mais obscuros segredos de organizações que deixaram, e ainda deixam, uma marca no imaginário da História universal.
 

 
Este livro chamou-me a atenção porque me pareceu um livro focado em factos históricos e não em teorias da conspiração e outras especulações. E a verdade é exatamente essa. Apesar de ter sempre alguma especulação, até porque o próprio tema e algum desconhecimento assim o obriga, este livro consegue focar-se nos factos, explorar muito do que foi escrito, analisando documentos e a partir daí fazer as ligações necessárias.
 
Por ser um livro que aborda várias seitas e sociedades secretas, não existe aqui uma sensação de tema esgotado, ou de uma leitura pesada ou enfadonha, pois a forma como o autor vai explorando cada caso ajuda a que o livro seja sempre diferente e até com ligações entre seitas e/ou sociedades que numa fase inicial não pareciam existir.
 
Para além desta capacidade do autor de ligar vários temas, também da escrita e da forma como o autor aborda o essencial em cada caso, dando o contexto necessário, quer histórico, social ou político, para que o leitor perceba os contextos em que estas seitas foram criadas, como e onde atuaram, quais os seus objetivos e como foram evoluindo, atrás, ou à frente da sociedade que os envolve.
 
Com isto o autor aborda bastante o que eu procurava neste livro, uma abordagem histórica e muito focada nas questões religiosa, filosóficas ou políticas que levaram à criação e atuação destas seitas e sociedades. E foi graças a isto que o livro nunca se tornou numa leitura difícil, porque caminhou nos caminhos que eu procurava, sem grandes especulações e com uma base consistente e coerente que me fez avançar e continuar a ter vontade de ler mais.
 
É, contudo, um livro acessível, não sendo o livro mais completo dentro do tema, mas conseguindo, sem se tornar demasiado académico, ensinar bastante ao leitor. Se procuram uma leitura sobre este tema que seja uma boa introdução, bem estruturado e consistente, este é um livro a ter.
 
Luís Pinto
 
 

terça-feira, 3 de julho de 2018

LAMENTÁVEL MUNDO NOVO


Autor: Stephen D. King




Sinopse: Porque está a globalização a ser rejeitada? Como será um mundo governado por Estados rivais com objetivos incompatíveis? E a que becos sem saída nos conduzirão as políticas nacionalistas? Nesta obra provocadora, o reputado economista Stephen D. King responde a estas e outras perguntas ao mesmo tempo que analisa o significado do fim da globalização para a prosperidade, a paz e a ordem económica global.




O fim da globalização é um tema cada vez mais falado, principalmente porque a estatísticas diz-nos que deverá acontecer. Decidi ler este livro para ter um melhor conhecimento sobre este tema, sobre esta teoria e os factos em que se sustenta.

Stephen D. King tem uma escrita direta, quase crua, que nos leva a grande velocidade para o contexto do livro. O leitor rapidamente começa a perceber a base que sustenta esta teoria com exemplos passados e também com os sinais atuais que já se podem encontrar. Claro que este é um livro que levará o leitor a pensar e a procurar as suas próprias teorias, e, provavelmente, esse é o objetivo do livro, o de nos preparar para os possíveis sinais que iremos encontrar nos próximos anos.

Gostei da forma como o autor abordou o tema. Direta, crua, por vezes com o claro intuito de chocar para nos levar a questionar e a perceber melhor esta teoria. No entanto, o livro nunca parece forçado porque está bem sustentado nos exemplos que o autor vai explorando e que fazem parte da nossa História. Com a economia a ser um já comprovado ciclo, o autor baseia-a nas leis do mercado e da micro e macro economia para nos levar por um caminho perturbador. Claro que sendo um livro para qualquer leitor ver, o autor não perde tempo a explicar de forma pormenorizada essas leis que regem a economia mundial, mas explica o suficiente para percebermos como tudo se mantém, quais os próximos passos políticos esperados e o que podemos esperar dos próximos anos se continuarmos neste caminho.

Obviamente, os mercados não são uma ciência exata, e por isso este livro baseia-se numa teoria. No entanto, esta é uma teoria bastante aceite e com grandes possibilidades de se concretizar. Se apreciam o tema e querem explorar um pouco mais as questões da globalização económica, então este é um livro a ler.

Luís Pinto