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quarta-feira, 1 de maio de 2019

SAMITÉRIO DE ANIMAIS


Autor: Stephen King


Sinopse: Louis Creed, jovem médico de Chicago, acredita que encontrou o seu lugar naquela pequena cidade do Maine. Uma boa casa, o trabalho na universidade, a felicidade da esposa e dos filhos. Num dos primeiros passeios para explorar a região, descobre um cemitério de animais de estimação no bosque próximo da sua casa, ao qual se vê obrigado a recorrer depois de o seu gato ter sido morto por um camião num trágico acidente. Ali, gerações e gerações de crianças enterraram os seus animais de estimação.
Para além dos pequenos túmulos, onde uma caligrafia infantil regista o primeiro contato com a morte, há um outro cemitério. Uma terra maligna que atrai as pessoas com promessas sedutoras. Um universo dominado por forças estranhas, capazes de tornar realidade o que sempre pareceu impossível.
A princípio, Louis diverte-se com as histórias fantasmagóricas de Crandall, o vizinho de 80 anos. No entanto, aos poucos, começa a perceber que o poder da sua ciência tem limites.



Stephen King é o grande nome do género terror. Este é considerado o seu livro mais aterrador. Só por isto já deve ser recomendado, mas vamos por partes.

King é um autor de ideias originais e grande capacidade de se adaptar a vários estilos de narrativa. Neste livro o autor começa de forma suave, muito ao estilo de outros livros ou filmes de terror em que tudo parece normal no início. Depois as coisas começam a acontecer, mas nessa fase já o autor nos agarrou, pois os seus personagens facilmente criam uma ligação com qualquer leitor. Neste aspeto, tal como em quase todos os seus livros, King cria personagem bastante realistas e credíveis. Apesar de ser um autor onde a história e o ambiente tem sempre um grande peso, a verdade é que o trunfo de King está na forma como cria e explora as suas personagens.

Sendo as personagens de King o seu trunfo, a narrativa aprofunda com mestria cada uma delas, explorando o seus medos, objetivos, crenças, sonhos, etc... esta é a base para o desenrolar da história e para os perigos e decisões que cada personagem irá enfrentar.

Com uma história interessante, o autor começa depois a adensar o ambiente, e é nessa altura que o livro acelera e o nosso coração também. Neste livro, King foca-se muito, mesmo que indiretamente, na mentalidade das crianças, na forma como veem o mundo, como o enfrentam, como fogem. King aproxima-se aqui de livros como "O Deus das Moscas", ou o seu próprio livro "A coisa", onde a mentalidade das crianças é explorada com mestria. Aqui, mesmo que mais indiretamente, as crianças têm um peso enorme, e King não falha. 

A isto junta-se uma sociedade que deixa-nos sem respirar, com momentos de grande tensão que só os grandes autores conseguem criar. Graças a isto, ler é uma experiência mista, entre e necessidade de continuar a ler e a necessidade de parar um momento para respirar. É um livro que após acelerar, atropela o leitor, não pelo seu ritmo em si, mas pelo ambiente que é criado. King é um mestre nisto!

Após acabar o livro a sensação que fica é que este é provavelmente o livro mais intenso de King em termos visuais. É um livro de ambiente brutalmente forte, cru, e visual. É um livro que puxa pelos nossos medos, pelos nossos receios do que não compreendemos. Não é o melhor livro de King, longe disso, mas é um bom livro, que marca qualquer leitor e que irá agradar a todos os fãs do autor e deste género de terror. Se querem uma leitura intensa com boas personagens, este é o livro a comprar.

Luís Pinto




terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A COISA


Autor: Stephen King

Título original: It



Sinopse: O clássico de King sobre sete adultos que regressam ao lugar onde cresceram para enfrentar um pesadelo que todos eles lá viveram… algo maléfico e sem nome: a Coisa.
Bem-vindos a Derry, no Maine. Uma cidade vulgar: familiar, ordeira e, na maior parte das vezes, um bom sítio para viver. 
Mas há um grupo de crianças que sabe que há algo de tremendamente errado com Derry. É nos esgotos da cidade que a Coisa se esconde, à espreita, à espera… e às vezes sobe ao solo, tomando a forma de todos os pesadelos, do maior medo que se encerra dentro de cada um de nós. 
O tempo passa, as crianças crescem e esquecem. Mas a promessa que fizeram há vinte e oito anos exige-lhes que voltem à cidade da infância para enfrentarem o mal que se agita bem no fundo da memória de todos e emerge agora, uma vez mais, trazendo novamente o pesadelo e o terror ao presente.


Aquele que é uma das melhores obras de Stephen King chegou a Portugal e tem de ser lido por qualquer fã do autor, mas não só.

King é um grande escritor a explorar os medos, traumas e preconceitos das suas personagens, e com "A coisa", King explora a mente de adolescentes como poucos escritores conseguiram, e é aí que está parte do trunfo deste livro.

Com um grupo interessante de personagens principais, o grupo de adolescentes e amigos que King cria são a base para uma obra de grande nível. A forma como explora os medos mais infantis, a forma como os criamos, como os enfrentamos ou tentamos esquecer é o que King aprofunda aqui com mestria. Pelo meio, uma escrita forte, pesada, tensa, que leva o nosso coração a acelerar enquanto imaginamos o que estamos a ler. É um livro de angústia em certos momentos, tal a forma como mergulhamos nestas páginas. Mas é mais do que isso. É, inevitavelmente, um livro sobre amizades. Somos como nos unimos, como protegemos os nossos amigos, como os ajudamos. E é por isso que este livro não é apenas para os fãs de King, mas sim para quem procura um livro que aprofunda como poucos os medos de adolescente, mas também a força, os desejos e a coragem que por vezes temos nessas idades.

Nunca é fácil ler King. É um autor com um estilo próprio, capaz de escrever em qualquer género, com ritmos, formas e força diferentes. Este livro é uma das suas obras primas, um livro que fica connosco durante muito tempo, que nos leva a questionar a força da amizade, dos medos, dos sonhos e da necessidade de sobreviver. Foi uma leitura intensa, que adorei, e irei ler o segundo nos próximos tempos.

Se a sinopse vos deixou curiosos, este é um livro a ler!

Luís Pinto



sexta-feira, 7 de setembro de 2018

FIM DE TURNO


Autor: Stephen King

Título original: End of watch




Sinopse: Bill Hodges, que agora gere uma agência com a colega Holly Gibney, fica intrigado com a letra Z escrita a marcador na cena de um crime para que são chamados.

À medida que se vão acumulando casos idênticos, Hodges fica espantado ao perceber que as pistas apontam para Brady Hartsfield, o célebre «assassino do Mercedes» que eles ajudaram a condenar. Devia ser impossível: Brady está confinado a um quarto de hospital num estado aparentemente vegetativo.



Mas Brady Hartsfield tem novos poderes letais. E planeia uma vingança, não só contra Hodges e os seus amigos, mas contra a cidade inteira. 
O relógio bate de formas inesperadas…



Aqui está o fim da trilogia de Bill Hodges que começou com Mr. Mercedes. Sendo um grande fã de Stephen King, esperava ansiosamente pelo fim desta trilogia. Stephen King é um dos escritores mais versáteis do nosso tempo e aqui, uma vez mais, surpreendeu-me. Toda a trilogia foi sempre a crescer, com um bom primeiro livro, um segundo livro que elevou a qualidade e agora um terceiro livro que melhora os dois anteriores e oferece um excelente final.

King é um escritor que raramente faz o que se espera. Aqui, é exatamente isso que acontece: uma mistura de acontecimentos inesperados que nos leva a um final alucinante e surpreendente. O livro começa bem, num ritmo moderado, mostrando-nos Bill a começar mais um caso enquanto se aprofunda a sua nova vida. Gostei do caminho que King deu ao seu personagem para este novo livro, acabando por ser bastante coerente com a personagem e com os acontecimentos dos livros anteriores. 

Com o seu talento, King agarra-nos facilmente a um enredo que numa primeira fase quase parece banal, mas que não é. King vai avançando por caminhos imprevisíveis, explorando algumas personagens importantes enquanto liga este livro aos dois anteriores. E talvez tenha sido este facto que mais me surpreendeu: a da constante, mesmo que indireta e suave, ligação aos livros anteriores. Afinal tudo está ligado tal como dá para perceber pela sinopse. No entanto, no trunfo do livro está, uma vez mais, na mente dos personagens. O grande trunfo de King durante todos estes anos está, obviamente, aqui presente: a forma como explora a mente humana, como aprofunda sonhos, medos, traumas, ideais, revoltas, arrependimentos. Este é um livro sobre dúvidas, sobre a forma como as personagens vêem a história e se confundem com ela, levando ao receio de estarem certas ou erradas, de cometerem erros. E com esse nevoeiro de dúvidas, o próprio leitor começa a desconfiar de tudo o que lê, acreditando que algo falha (o que é normal neste tipo de livros, mas que King aumenta de forma considerável).

Tal como a grande maioria dos livros de King, esta narrativa é um jogo psicológico, um thriller no verdadeiro sentido da palavra pela forma como nos conduz por situações, mistérios e dúvidas. é, para minha surpresa, o melhor livro da trilogia e um final muito bem conseguido. Se gostam de King, se gostam de thrillers, esta trilogia é totalmente recomendável. 

Luís Pinto


terça-feira, 3 de abril de 2018

PERDIDO E ACHADO


Autor: Stephen King

Título original: Finders Keepers




Sinopse:
1978:
Morris Bellamy está tão obcecado por John Rothstein, um icónico autor norte-americano, que era capaz de matar para conseguir um livro inédito do escritor.
2009:
Pete Saubers, um rapaz cujo pai foi brutalmente ferido por um Mercedes roubado, descobre uma mala cheia de dinheiro e os cadernos de Rothstein.
2014:
Depois de trinta e cinco anos na prisão, Morris sai em liberdade condicional. E está determinado a recuperar o seu tesouro.
Cabe agora a Bill Hodges, detetive reformado que gere uma empresa de investigação chamada Finders Keepers, salvar Pete de um Morris cada vez mais desvairado e com sede de vingança...



Como muitos de vós devem saber, sou fã de Stephen King. Neste livro, o segundo da trilogia de Bill Hodges, Stephen King consegue criar um livro ainda melhor do que o anterior Mr. Mercedes (livro de enorme sucesso e já adaptado para série televisiva).

Aqui, King continua com algumas das personagens que conhecemos dos livros anteriores, e mesmo sendo uma continuação, não senti uma necessidade obrigatória de se ler o livro anterior. Claro que se puderem, leiam-no antes deste. Vale a pena!

Com um personagem principal que aprecio bastante, King continua a explorar aquilo em que é melhor: criação de personagens, e com elas o ambiente. King é conhecido pelo seu ambiente, pelo suspense, pela atmosfera que cria, mas todos esses trunfos são sustentados pelas personagens, boas, más, sãs, doidas... Aqui, como sempre, King começa devagar, sem pressas, sem criar aqueles capítulos iniciais rápidos e com acontecimentos fortes. King, por vezes usa esses truques, mas não necessita disso para agarrar o leitor. O seu foco é levar-nos a questionar as personagens, querer saber mais sobre elas, avançando na história, na investigação, para se saber os porquês, os sonhos, os traumas.

Como é normal na sua escrita, King foca-se, mesmo que muito indiretamente em alguns casos, no vilão. Aqui voltamos a sentir a obsessão do personagem e a sua forma de ver o mundo. É bastante interessante ver como King leva os vilões a questionarem-se e também a concluírem que estão a fazer o correto. O resultado final deste livro é uma leitura cheia de suspense e que aprofunda a demência humana, a obsessão, e o idolatrar de alguém. O que nos leva a querer ser igual a outra pessoa? Porque desejamos o que outros têm? Porque precisamos da atenção e reconhecimento das pessoas que admiramos?

Gostei bastante deste livro. É, em vários aspetos, superior ao livro anterior Mr.Mercedes. Stephen King não é um escritor que todos os leitores apreciem e aqui continua no mesmo estilo. Focado no que melhor e pior o ser humano consegue fazer, esta é uma viagem alucinante a um mundo que existirá sempre.

Luís Pinto

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A TORRE NEGRA

 
Autor: Stephen King
 
Título original: The Dark Tower
 
 
 
 
Sinopse: Roland Deschain e o seu ka-tet viajaram juntos e separadamente, espalhados por múltiplas camadas de mundos, inúmeros quandos e ondes. O destino de Roland, Susannah, Jake, do padre Callahan, Oy e Eddie prende-se com a própria Torre, que agora os puxa para mais perto de si, para fim de todos e novos inícios… e para um turbilhão de emoções, violência e descoberta.
 
 
 
Aqueles que seguem o meu blog sabem que sou fã de Stephen King. No entanto, por mais estranho que possa parecer, não é o terror (o seu género de eleição) que mais aprecio. São os outros géneros, e King já escreveu de tudo um pouco. A saga A Torre Negra é, provavelmente, a sua saga mais marcante, com os seus oito livros sobre a demanda do Pistoleiro.
 
Como em qualquer outro livro de King, nem todos os leitores irão gostar. King tem um estilo único, uma imaginação "especial" que deu origem a livros como The Shinning, It ou ao conto que originou o filme Os condenados de Shawshank, um dos melhores filmes de sempre. Aqui, King termina a sua épica saga de forma estrondosa e marcante. É um daqueles finais que não se esquecem tão cedo. Surpreendente e escrito de forma perfeita, enquanto lemos percebemos o quanto King nos preparou para este momento nos livros anteriores. É a forma como King junta vários momentos dos livros anteriores e lhes dá um novo sgnificado que nos deixa sem resposta.
 
No entanto, uma vez mais, o grande trunfo de King são as suas personagens. Claro que a sua imaginação para criar momentos de tensão e para criar este mundo tão diferente e ao mesmo tempo tão igual ao nosso é algo que se deve elogiar, mas é ao explorar as personagens que todos estes livros fazem sentido. King aprofunda o passado de todos, explora traumas, objetivos, desejos, medos e sentimentos, para criar um turbilhão de momentos marcantes enquanto tudo é revelado. Para trás, ficam outros sete livros sobre um mundo fantástico e uma demanda que nem sempre foi possível compreender, mas que acaba por fazer todo o sentido.
 
É difícil falar sobre este livro sem revelar nada do que acontece nestas páginas ou até nas dos livros anteriores. Apesar de não ter falado aqui de todos os livros da série, fui lendo com paixão, e depois de o livro anterior ter sido o mais fraco de todos, este último livro surpreende, tornando toda a saga ainda melhor. Uma saga apaixonante e que merece a brutal legião de fãs que tem por todo o mundo. Esqueçam o filme, leiam estes livros! Muito bom!
 
Luís Pinto 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

A HISTÓRIA DE LISEY

 
Autor: Stephen King
 
Título original: Lisey's story
 
 
 
 
Sinopse: Uma mulher que vive um casamento feliz com um escritor de renome, o seu mundo desaba com a sua morte. Quando arranja coragem para mexer nas coisas do marido, Lisey começa a descobrir factos perturbadores que começam a deixá-la preocupada e, começa a perceber que afinal não conhecia a pessoa com quem tinha casado.
 
 
 
Uma vez mais regresso aos livros de Stephen King. King é para mim um daqueles casos raros de um escritor que consegue escrever muitos livros e sempre com qualidade. Este, sobre Lisey, é mais um bom livro, mas que claramente irá dividir os seus leitores, mas vamos lá por partes.
 
King tem aqui um livro que numa fase inicial parece muito longe do seu estilo. É verdade que certos aspetos da sua escrita estão aqui, mas o enredo tem uma identidade que não se aproxima de King. No entanto é fácil ver que a qualidade está lá, até porque desde o início se percebe que King volta a usar o seu grande trunfo: a construção das personagens e a viagem do leitor ao interior das mesmas, explorando o que melhor e pior cada personagem consegue realizar. E é assim que a história avança, avançando cada vez mais ao interior da personalidade de Lisey e também do seu marido.
 
Com muitas revelações à mistura e sentido que no fim a história faz sentido e é coerente, este livro divide-se entre uma poderosa história de amor e um thriller psicológico. Mas, a base será sempre as personagens. King explora como poucos os traumas, os medos, os sonhos e os segredos de cada personagem. O que escondem, o que desejam. É este o trunfo de King e que aqui é exposto enquanto desenterra o passado destas personagens com boas revelações e diálogos inteligentes.
 
Do meu ponto de vista, e sem revelar nada sobre a história, apenas posso dizer que não olho para este livro como um típico livro de Stephen King. É forte e focado nas personagens, mas alguns fãs poderão sentir que lhe falta algo ou que foge ao estilo de suspense que King nos habituou. Globalmente, não é dos melhores livros de King, mas é um bom livro, capaz de surpreender qualquer leitor e com revelações que ficam na nossa memória durante muito tempo. King é um autor que sabe claramente o que faz.
 
Luís Pinto
 
 
 
 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

DESPERTAR

 
Autor: Stephen King
 
Título original: Revival
 
 
 
 
Sinopse: Numa pequena cidade da Nova Inglaterra, há mais de meio século, uma sombra desce sobre um rapazinho que brinca com os seus soldadinhos de chumbo. Jamie Morton ergue os olhos e vê um homem espantoso, o novo pastor. Charles Jacobs, juntamente com a sua bela mulher, vão transformar a igreja da comunidade. Todos os homens e rapazes estão um bocadinho apaixonados pela senhora Jacobs; as mulheres e as raparigas sentem o mesmo em relação ao reverendo Jacobs, incluindo a mãe e a irmã de Jamie.
O reverendo partilha um laço mais profundo com Jamie, que tem como base uma obsessão secreta. Quando a família Jacobs é assolada pela tragédia, o carismático pastor amaldiçoa Deus, apouca toda a crença religiosa e é banido de uma cidade em choque. Jamie tem os seus próprios demónios. Apaixonado pela guitarra desde os treze anos, toca em bandas pelos Estados Unidos, vivendo uma vida nómada de rocker em fuga da família e da sua terrível perda.
Aos trinta anos, viciado em heroína e desesperado, volta a encontrar Charles Jacobs, e as consequências deste encontro serão profundas para os dois homens. A sua ligação torna-se um pacto para lá do diabólico e Jamie descobre os vários sentidos de «despertar». Um romance rico e perturbador que se estende por cinco décadas até o desfecho mais aterrador, que um dos melhores de King alguma vez escreveu.
 
 
 
Stephen King é um autor com leva a reações extremas. Uns leitores adoram, outros não conseguem ler. King é, quer se goste, quer não, um dos grandes contadores de histórias do nosso tempo, tendo escrito em vários géneros, sempre com qualidade, sendo autor, não só de bons livros, mas também de argumentos de bons filmes.
 
Em alguns aspetos este não é um típico livro de King. Apresenta uma escrita mais simples, mais direta, acelerando em alguns momentos em que não explora tanto os detalhes como noutros livros. No entanto, a seguir desacelera para explorar questões sociais, medos, preconceitos, ideais religiosos, para depois voltar a acelerar com reviravoltas e surpresas. É um livro que nos dá uma sensação de montanha russa.
 
King avança com mestria, desenvolve as personagens com uma profundidade única, num estilo diferente. Poucos escritores exploram os medos e os vícios de uma personagem como King faz. E com isso, explora os medos dos leitores. Este é um daqueles livros que nos arrepia. É um daqueles livros que nos faz acelerar se ouvirmos um barulho em casa enquanto o lêmos. É esta a envolvência que King consegue. Apesar de a história ser interessante e de os personagens serem o grande catalisador, a verdade é que a genialidade está no ambiente. E é por esse ambiente que uns leitores adoram, outros odeiam.
 
Quando acabei a leitura, o final ficou na minha mente. Não interessa se era ou não previsível. A verdade é que a forma como King o criou e descreveu fez a diferença. É uma forma diferente de contar um acontecimento, deixando o leitor sem reação, apesar a assimilar a informação sabendo que nada pode fazer para alterar o que está a ler.
 
Não é o melhor livro de King. Este homem já fez umas obras-primas. Mas, é um bom livro que muitos leitores irão adorar e dificilmente esquecer. Não agradará a todos, mas a qualidade é inegável, mesmo tendo em conta que este livro, devido ao seu ritmo, não tem a qualidade linguística de outras obras do autor. Forte, direto, perturbador e com personagens que são a base da história, este é um livro que os fãs de King devem ter em casa. Muito bom, como sempre.
 
Luís Pinto

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

BEM-VINDOS A JOYLAND


Autor: Stephen King

Título original: Joyland



Sinopse: Por detrás do brilho das luzes, escondem-se as trevas… Devin Jones, estudante universitário, aceitou o trabalho de verão em Joyland na esperança de esquecer a rapariga que lhe partiu o coração. Mas acaba por se deparar com algo muito mais terrível: o legado de um homicídio perverso, o destino de uma criança moribunda e verdades obscuras acerca da vida, e do que se lhe segue, que irão mudar para sempre a sua vida.
Uma história intensa de amor e perda, acerca de crescer e de envelhecer - e daqueles que não chegam a ter tempo para uma coisa nem para outra por serem ceifados pela morte antes disso. Com todo o impacto emocional das grandes obras de Stehen King JOYLAND é ao mesmo tempo um policial, uma história de terror e um romance de formação que deixará o leitor profundamente comovido.



Stephen King é um autor que aprecio bastante pela sua capacidade de escrever em vários géneros literários alterando a sua escrita para a encaixar de forma impressionante no enredo que nos está a oferecer. Mais famoso pelos seus livros de terror, Stephen King tem ainda na sua série Torre Negra uma trunfo dentro do mundo fantástico. Pelo meio, thrillers, sobrenatural, etc...

Este Joyland, que agora acabei de ler, é uma mistura entre toques de sobrenatural e um romance psicológico em que as personagens têm o grande destaque. Aliás, apesar de no início ficar a ideia de que este livro poderia ser focado numa investigação de um crime, que daria ao livro um ar quase policial/thriller, a verdade é que estamos perante um livro que tem como base o desenvolvimento das suas personagens e a forma como enfrentamos a morte.

King oferece um conjunto muito interessante de personagens, com uma capacidade impressionante para nos surpreenderem, sem deixarem de ser coerentes e, principalmente, para nos emocionarem. King mistura vários temas e conceitos para nos perguntar, indiretamente, sobre várias questões morais, que vão desde o lugar de cada um numa sociedade implacável e cheia de preconceitos, passando pela vida de quem sabe que está quase a morrer. A forma como alguns personagens encaram a vida neste livro leva-nos a perceber aos poucos o quanto este livro é uma metáfora para algo maior e que pode escapar ao leitor mais desatento.

Com um ritmo que empurra o leitor a continuar a ler, e com uma pitada de suspense, King volta a demonstrar o seu talento para contar histórias e para nos dar emoções fortes, seja medo, alegria ou tristeza. E este livro, um dos mais pequenos que li escritos por si, é mais uma prova do quanto King sabe agarrar o leitor em qualquer género. O único ponto que não me convenceu totalmente foi a forma como King demonstrou a lide diária de alguns funcionários, e fiquei sem perceber se o autor não quis explorar muito o tema ou se o fez de propósito para nos sentirmos perdidos com a investigação e consequentes revelações.

Apesar da capa da edição portuguesa, que gostei bastante, dar a ideia que podemos estar perante um livro de terror, a verdade é que tal não acontece. King criou um bom romance, com boas personagens, uma investigação interessante e mistérios envoltos em possibilidades sobrenaturais que nos levam a continuar a ler. Mas acima de tudo é um livro sobre a vida e a morte de uma qualquer pessoa. Se esta mistura é algo que vos pode agradar, então este é um livro a ter em casa.

Luís Pinto

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

22/11/63


Autor: Stephen King

Título original: 11/22/63





Sinopse: Quando o seu amigo lhe propõe que atravesse uma porta do tempo para regressar ao passado com uma missão especial, Jake fica completamente arrebatado. A ideia é impedir que Oswald mate o presidente Kennedy. Jake regressa a uma América apaixonante e começa uma nova vida no tempo de Elvis, dos grandes automóveis americanos e de gente a fumar.
O curso da História está prestes a mudar…



Mas que livro... Stephen King voltou a escrever um livro fantástico demonstrando que qualquer que seja o género, King é um fantástico escritor. Digo-o muitas vez: King não é um escritor que agrade a todos. A sua escrita é diferente, a sua forma de explorar as personagens também. Aqui, neste enredo que no início parece forçado e com um personagem principal que parece cheio de clichés, King demora a convencer, mas quando me convenceu foi para me levar numa viagem incrível de ficção científica onde viagens no tempo e romance estavam de mãos dadas.

Claro que o livro não é perfeito e houve alguns detalhes que não apreciei ou me pareceram forçados no início, mas aos poucos, enquanto vamos percebendo a mecânica da base do enredo, aceitamos a sua coerência e vemos como tudo bate certo. Todavia, quando menos esperava, King passa a parte da ficção científica para segundo plano, focando a nossa atenção numa relação amorosa que não esperava encontrar num livro de King.

O que salta de imediato à vista é a forma como Stephen King explora a sociedade americana da década de 60. King consegue sempre nos seus livros construir uma sociedade ou um mundo coerente, sendo esta é a sua grande base para qualquer enredo e aqui não é diferente, quer seja num mundo realista ou com toques mais fantásticos. Neste caso, Stephen King consegue expor a década de 60 pelos olhos de um homem do nosso tempo, capaz de encontrar as diferenças e confrontar o pensamento atual com o de há 50 anos.

No entanto, não me é fácil falar deste enredo sem revelar qualquer coisa. Jake foi um personagem com o qual não criei uma ligação imediata, mas a escrita de King, que nem todos os leitores apreciam, levou-me a continuar porque gostei bastante da ideia base, apesar de parecer algo forçada no início. Todavia, a grande surpresa foi a forma como o autor conseguiu colocar um enredo amoroso nesta base, impulsionando o livro para um nível em que ficção científica e filosofia se misturam de forma impressionante. O resultado final é um livro que começa com uma base de FC, com uma viagem no tempo, com um choque entre a sociedade atual e a de há 50 anos, e acaba por ser uma viagem filosófica sobre o poder do amor, o que é este sentimento e o que o faz sobreviver contra as leis do nosso universo.

Afinal, quem, ou o quê, nos colocou aqui? Até que ponto estaremos preparados, ou não, para mudar o nosso futuro, ou o nosso passado? King, questiona-nos indiretamente, argumenta indiretamente, mas algumas coisas não podemos ignorar, e a capacidade humana para amar é uma delas. A forma como alguns sentimentos atravessam o tempo, perdurando para sempre, é um dos temas que King explora aqui de uma forma que por vezes nos parece exagerada, noutras vezes é um verdadeiro murro no estômago, e que nos faz pensar se o amor é ainda algo que não somos capaz de compreender e que ultrapassa a paixão ou a necessidade de companhia, sendo algo mais que nós, humanos, temos a sorte de sentir, quer seja por outra pessoa, ou por um animal. 

Stephen King é um autor diferente, para o bem e para o mal. O que no início pode parecer apenas mais um livro sobre uma viagem no tempo para alterar o passado, torna-se muito mais do que isso. É complexo, é intenso, é inteligente e no fim, é, acima de tudo, sentimental. Não é para qualquer leitor mas é, sem qualquer dúvida, um dos melhores livros que li este ano. 

Luís Pinto

sábado, 10 de maio de 2014

A ESCOLHA DOS TRÊS


Autor: Stephen King

Título original: The Drawing of the Three



Este é o 2º livro da famosa e aclamada série "A Torre Negra", considerada por muitos uma das melhores sagas de sempre dentro do género fantástico.

Após um primeiro livro que não é fácil e que nos deixa com várias perguntas na mente, este 2º livro é mais violento, maior, e mais sólido no seu enredo, respondendo a várias perguntas, e deixando outras tantas para os próximos livros. No primeiro livro (podem ler a minha opinião aqui) temos uma apresentação do mundo, da personagem principal e do seu objetivo, mas tudo é uma enorme corrente de perguntas sem respostas, que agora começam a ser respondidas. Todavia, King leva-nos por um caminho tão estranho e singular que fica a noção que o autor se perdeu do seu objetivo ou está a criar demasiadas peças de um puzzle que não vai conseguir completar... mas estamos a falar de Stephen King, e visto que a crítica internacional aclamou esta saga e existe uma legião mundial de fãs que nos demonstra que King conseguiu juntar todas as peças, vamos avançando com a certeza que o melhor ainda está para vir.

King escreve como poucos. Forte, cru, objetivo, consegue captar a nossa atenção e chocar-nos ao mesmo tempo enquanto nos maravilha com um mundo que parece ser construído sem grande base, mas que aos poucos vemos que está lá, bem presente para explicar muitas das nossas dúvidas. Desde o início, que começa exatamente onde acaba o livro anterior, percebemos que o ritmo está mais forte, pois agora o enredo deixa de se focar tanto em Roland e começamos compreender a sua demanda e, principalmente, a conversa com o homem de negro que surpreende no fim do anterior livro.

E é aos poucos que vamos conhecendo as três novas personagens que Roland terá de conhecer. Neste campo, King consegue, como sempre, criar personagens únicas, com personalidades singulares e uma grande coerência.  São estes três novos personagens que se tornam a base que sustenta este livro e que nos surpreende em vários momentos. King começa, aos poucos, a criar várias cadeias de acontecimentos, em espaços temporais diferentes, mas que percebemos que estão ligados de uma forma que faz todo o sentido, e que nos demonstra que King não se limitou a escrever, mas sim a planear grande parte e apenas a escrever depois.

Esta é uma saga que desde o início adoramos ou odiamos. Para a grande maioria, não deverá existir meio termo. No meu caso, estou a adorar, mas de um ponto de vista crítico, é preciso salientar que King tem muito para explicar nos próximos livros, e acredito plenamente que o fará. Para quem, como eu, apenas tenha lido esta saga até este livro, fica a sensação que é aqui que muito se define, graças às três personagens e também ao facto de agora olharmos para Roland com outros olhos, pois o escritor facilmente altera a sua própria forma de escrita, do anterior livro para este, por forma a existir a sensação que este é um livro totalmente novo, muito mais objetivo mas igualmente enigmático. Quem ler este livro, perceberá o que digo. 

É difícil falar deste livro sem contar partes da história. O mundo criado por King consegue, ao mesmo tempo, fazer sentido, sem ter sentido nenhum. As suas personagens são muito bem construídas, mas nas suas ações ainda há muito por explicar. O final deixa-nos com uma enorme vontade de continuar a ler, principalmente porque aos poucos começam a aparecer as ligações que explicam o que já lemos, e queremos saber como tudo acaba. Até agora, fantástico! Espero que o próximo não demore muito a ser lançado!

Luís Pinto

sábado, 25 de janeiro de 2014

A CÚPULA - Livro II


Autor: Stephen King

Título original: Under the dome



Esta 2ª parte de "A Cúpula" é forte, mesmo muito forte, quer seja em termos visuais, psicológicos ou até de um ponto de vista crítico em relação a alguns temas, como a política, religião ou natureza humana e a sua capacidade para sobreviver.

Posto isto, Stephen King cria um grande livro, que não será, provavelmente, dos mais amados que escreverá, mas que tem uma qualidade inegável, capaz de nos transtornar ao ver o que podemos fazer para sobreviver, mas que também nos pode encher de esperança ao ver o que outros farão para que os que amam sobrevivam. E aos poucos, o livro de ficção-científica torna-se em algo mais do que isso... torna-se no melhor e no pior que a humanidade nos pode dar, torna-se nos extremos que nunca queremos experenciar, torna-se no ódio e no amor, no desprezo e no respeito.

E é por isso que este é um livro perturbador. King sabe contar uma história como poucos, dando-nos pequenas pistas, nunca revelando mais do que o necessário para nos levar a continuar a ler e questionar, enquanto nos vemos rodeados por um ritmo narrativo sempre alto, pronto para nos surpreender à mesma velocidade que a própria vida nos surpreende. 

Outro aspeto onde King consegue sempre ter grande qualidade, é nas personagens, e aqui volta a não falhar. Não querendo divulgar nomes, para que o leitor que comece a ler o livro não saiba de imediato a importância que alguma personagem possa ter, a verdade é que algumas são memoráveis, pelas suas personalidades, pelas decisões que têm de tomar, e pelas suas ações, quer sejam boas ou más. Os diálogos estão muito bons, ajudando à construção de algumas personagens e sociedade, mas também a criar o suspense que nos fará continuar a ler, procurando a verdade do que está a acontecer.

O enredo é bom, bem construído, muito graças à criação de uma sociedade coesa e realista, cheia de detalhes interessantes que nos ajudam a criar na nossa mente a globalidade que o autor tenta atingir dentro de uma cúpula tão pequena. E com todos estes aspetos que realço aqui, quase nos esquecemos, enquanto estamos a ler, que existe uma cúpula, um efeito sobrenatural para o qual queremos respostas.

Há muito mais para dizer sobre estes dois livros, mas desvendar o quer que seja, seria um crime. A cúpula é um livro que não agradará a todos, mas dificilmente não nos marcará. Política, religião e sociedade misturam-se no amor e no querer sobreviver, levando-nos a questionar interesses, poder, ou o que devemos fazer com o pouco tempo que a vida nos dá, e até que ponto estamos preparados para abdicar de algo ou alguém. 

Luís Pinto

sábado, 18 de janeiro de 2014

A CÚPULA - Livro I


Autor: Stephen King

Título original: Under the Dome



Sinopse: Num bonito dia de outono, um dia perfeitamente normal, uma pequena cidade é súbita e inexplicavelmente isolada do resto do mundo por uma força invisível. Quando chocam contra ela, os aviões despenham-se, os carros explodem, as pessoas ficam feridas. As famílias são separadas e o pânico instala-se. Ninguém consegue compreender que barreira é aquela, de onde vem ou quando (se é que algum dia) desaparecerá. 
Agora, um grupo de cidadãos intrépidos, liderado por um veterano da guerra do Iraque, toma as rédeas do poder no interior da cúpula. Mas o seu principal inimigo é a própria redoma. E o tempo está a esgotar-se…


Stephen King é um autor que tenho lido bastante nos últimos meses. A sua escrita, dura e crua, é fantástica e a forma como nos prende ao enredo é algo digno de assinalar.
Sendo o primeiro de dois livros (divisão do original), não me irei adiantar muito mas há temas sobre os quais devo falar já no início da história. Em primeiro lugar estão as personagens. Novamente, King consegue criar um leque fantástico de personagens que nos prendem, surpreendem e oferecem uma qualidade inegável ao livro. O livro ganha muito com algumas personagens e a diversidade é o fator que devo realçar: King cria uma sociedade diversificada e coesa, quase real tal é o detalhe presente em alguns momentos. Este é um dos pontos mais fortes desta obra: a sociedade onde a história se desenrola respira qualidade e realismo.

Para tal King cria várias profissões, essenciais a uma sociedade e a essas profissões junta as personalidades marcantes de algumas personagens, umas estereotipadas, outras não. Mas, inevitavelmente, King cria o suspense que o tornou famoso, surpreende de forma brutal e foca a violência do ser humano. 

A história prima pela originalidade mas que tem como principal objetivo, não surpreender-nos com essa originalidade, mas sim levar-nos ao massacre psicológico que King quer implementar na sua história. King, exímio a criação de suspense e dúvidas no leitor, cria várias "sub-histórias" dentro do enredo principal, levando a momentos fortes, sangrentos e marcantes para o leitor.

Ainda falando sobre esta sociedade, os detalhes estão presentes a cada instante e senti que existe uma ligação entre todas as personagens que torna todo o enredo consistente. A esta coesão junta-se uma história que nos leva aos extremos e a questionar quais são os alicerces da sociedade atual... seremos nós, ou as leis que nos regem? Se todas as regras da sociedade caírem e nos encontrarmos numa situação extrema, ficaremos unidos para sobreviver ou matamo-nos por poder e recursos? Em que ponto deixamos desaparecer a civilização para sobrevivermos?

Neste primeiro livro, sangrento mas que é uma introdução para o que virá, percebemos que estamos perante um excelente thriller onde se discute o que é o conceito de humanidade e onde cada leitor se poderá identificar com uma personagem. Não desvendando mais, deixarei a opinião ao 2º livro dentro de dias. Para já, muito bom, muito forte... e perturbador.

Luís Pinto

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A LENDA DO VENTO


Autor: Stephen King

Título original: The wind through the Keyhole


Após ter lido o 1º livro desta saga, O Pistoleiro (opinião aqui), seria impossível não regressar a este universo. Este livro, situa-se cronologicamente entre o 4º e o 5º livro da saga, mas apenas para contar uma lenda muito anterior ao 1º livro da saga. Com isto não existe a necessidade de ler os primeiros 4 livros da saga para se perceber este enredo, sendo quase uma leitura independente que não necessita de outros livros.

No entanto, tal como seria de esperar, existe algum desconforto, primeiro porque algumas personagens não são apresentadas, depois porque a complexidade deste mundo também não tem grande explicação, sendo que tudo isto está nos outros livros da saga. Tirando este fator, é notório que estamos perante algo mesmo muito bom, e isso sente-se logo nas primeiras páginas. Aqui, o que King faz é oferecer uma história dentro de uma história, dentro de uma história. Roland, situado cronologicamente entre o 4º e 5º livro, conta uma história passada antes do início da saga, e dentro dessa história, será contada outra história anterior.

A partir desta base somos brindados por um excelente conjunto de personagens, distintas, coerentes e onde algumas evoluções nos irão surpreender. Roland, personagem fascinante que já me deixara de boca aberta no 1º livro da saga, aqui volta a demonstrar uma personalidade marcante e que contrasta com a do rapaz do passado na história que vai contando. Outro aspeto importante, e um dos mais impressionantes, é todo o mundo que King cria e que aqui desenvolve em algumas vertentes. Sente-se que certos aspetos deste mundo já nos deviam ser familiares para uma melhor compreensão, mas, novamente, não existe uma necessidade de conhecimento anterior.

A mistura que King molda neste mundo torna todo este ambiente único, quase apetecível de ler, sempre cheio de suspense, de dúvidas e oferecendo vontade para continuarmos a ler. Aliás, este é um livro que me agarrou facilmente, em primeiro lugar graças à complexidade das várias histórias misturadas, e também pela escrita de King. Começando pelas histórias, a forma como a narrativa salta entre espaços temporais está simplesmente sublime. Tudo parece estar no sítio certo e encaixar de forma perfeita a levar-nos a ler um pouco mais, e no fim muito fará sentido.

O outro grande fator é a escrita de King. Já li vários livros do autor e em cada um me surpreende a forma como o autor escreve. É forte, cru, objetivo e dissimulado ao mesmo tempo, capaz de nos marcar com uma descrição forte, para de seguida nos deixar a pensar com um toque de suspense onde percebemos que muito fica por dizer. É uma qualidade rara, difícil de se superar, e que me leva a ler mais livros do autor.

Sendo um livro que está, ao mesmo tempo, a meio da saga e fora dela, tento não revelar nada do enredo, mas devo mencionar o ritmo nos momentos de ação: simplesmente frenético, e olhando globalmente, "A lenda do vento" torna-se num livro imprescindível para quem queira saber mais sobre Roland e este sublime universo criado por um dos grandes autores do nosso tempo. Destaque final para os diálogos, sempre em grande nível e onde fica a sensação que nenhuma palavra está presente apenas por estar. Tudo parece pensado, e, talvez, esteja aí um dos segredos deste grande escritor. 

Ainda falta muito para acabar esta saga, mas a sua qualidade já é palpável. Com dois livros, King convenceu-me a ler todos os restantes. Muito bom!

Luís Pinto 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CARRIE


Autor: Stephen King

Título original: Carrie


Sinopse: Não é que fosse diferente das outras. Um pouco estranha, sim. E antipática. Talvez por isso, na objecto da chacota e do riso de toda a turma. Ou talvez a sua antipatia fosse antes o resultado de se ver sempre constituída em alvo da troça de todas…
Mas, quanto ao resto não. Carrie era uma moça normal. Como todas as outras. E mais como todas as outras seria se não fosse aquela incrível mulher que era sua mãe.
Mas isso não explica tudo. Sobretudo, não explica que naquela noite, a noite do baile, uma cidade inteira tenha sido arrasada por Carrie, sem que ela precisasse de mexer sequer um dedo.


Stephen King tem uma capacidade única de transmitir emoções nos seus livros. Talvez pela sua escrita forte e explícita, talvez pela complexidade da mesma, talvez por explorar a mente humana como poucos sem que nada disso seja o tema principal dos seus enredos. Com este livro, King leva-nos a odiar algumas personagens, a querer vingança, a sentir a necessidade de fazer algo, e transmitir tudo isto apenas com palavras, é fantástico. King é um escritor que não agrada a todos, talvez pelo seu género, talvez pela sua escrita, mas eu estou a tornar-me num grande fã e este é mais um bom livro para quem gostar do género.

Este não é o melhor livro que li de King, mas a sua qualidade é inegável dentro do género. O primeiro grande trunfo está, novamente, nas personagens que o autor cria. Fortes, credíveis, profundas, criadoras de diálogos marcantes e que definem, não só uma personalidade, mas todo um enredo. Carrie é a personagem mais marcante, mas, na minha opinião, a que consegue demonstrar uma qualidade invejável é a sua mãe, sendo ela o catalisador de muitas das emoções que este livro consegue transmitir.Desafio-vos a ler este livro e a não terem um sentimento especial em relação a esta mulher.

O cinismo e fanatismo são levados ao extremo com a narrativa de King a mostrar como o preconceito pode levar à cegueira ou à loucura. Mas não só. King explora, e bem, a mente juvenil, mostrando e moldando conceitos como beleza, popularidade, vingança, humilhação e amizade. Tudo isto num enredo que tem tanto de previsível como de surpreendente. Foram vários os momentos em que acreditei perceber até onde a história me iria levar sobre um determinado assunto, e depois King surpreende com um ou outro detalhe que não esperava.

Com um enredo forte e emotivo, este é um livro que nos faz sentir mais do que um livro normal nos consegue transmitir. Este livro agarra-nos e pede-nos para nos revoltarmos com ele. Não é uma obra prima, nem o melhor trabalho do escritor, mas é bom, muito bom, principalmente pelo seu final, do qual se podem tirar algumas conclusões e que vos deixará a pensar durante algum tempo. 

Se gostam de suspense, terror, e de sentirem o que a personagem principal está a sentir, este é um livro que devem ter em conta.

Luís Pinto

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

MISERY


Autor: Stephen King

Sinopse: Paul Sheldon é um famoso escritor de romances cor-de-rosa, tornado célebre pela personagem principal das suas obras, Misery Chastain. Porém, Sheldon entendeu que estava na hora de virar a página e decidiu «matar» Misery.
É então que sofre um terrível acidente de viação e é socorrido por Annie Wilkes, uma ex-enfermeira que o leva para sua casa para o tratar. O que Paul não sabe é que Annie, a sua salvadora, é também a sua maior fã, a mais fanática e obcecada de todas — e está furiosa com a morte de Misery.
Ferido e incapaz de andar, totalmente à mercê de Annie, Paul é obrigado a escrever um novo livro para «ressuscitar» Misery, como uma Xerazade dos tempos modernos nas mãos de uma psicopata tresloucada que há muito deixou de distinguir a realidade da ficção.
Repleto de complexos jogos psicológicos entre refém e captor, Misery é uma obra de suspense e terror no seu estado mais puro.


Forte, violento, assustador, psicológico. Este livro de Stephen King prende-nos ao seu mundo e faz o nosso coração acelerar. "Misery" pode não ser o melhor livro do autor, mas é muito bom e fica na nossa memória durante algum tempo.

O que torna esta obra tão boa é a forma como o autor escreve: forte, cruel, crua, atento ao detalhe e sempre com um esforço notório para nos agarrar ao livro e nos fazer sentir o que o personagem principal sente. É este jogo psicológico que vamos presenciando que nos deixa sem fôlego e a continuar até à página seguinte. O enredo, bem construído e inteligente, consegue ser sempre coerente e, novamente, a escrita do autor apresenta uma qualidade única com detalhes preciosos e surpresas que não esperamos. 

Mas, para além do ambiente, sempre pesado do livro, um dos grandes trunfos do livro são as personagens, e se com Paul vamos sentindo o seu desespero, com Annie estamos perante uma personagem verdadeiramente memorável, capaz de nos arrepiar com as suas falas, com as suas mudanças de humor. É quase como se ao ler, sentíssemos o seu olhar reprovador, maníaco. Annie é, sem dúvida, uma das melhores personagens que alguma vez li, sem qualquer falha, sendo ela todo o catalisador do ambiente e da qualidade do livro.

Também devo salientar outros aspetos, como por exemplo a forma como vamos vivendo o processo criativo do escritor Paul, e que me surpreendeu bastante. King cria todo um processo, explica-nos e deixa-nos perceber as decisões de Paul sobre o seu novo livro, algo muito raro de se ver numa leitura. É como se King nos estivesse a explicar como escrever um bom livro. Tais momentos fogem um pouco do enredo principal e do ambiente, para se tornarem em momentos onde sentimos a pressão do autor em escrever, em criar algo bom porque a sua vida depende disso. No fundo, trata-se de uma segunda forma de tortura psicológica para o próprio leitor.

Por fim, a violência. Este é um livro violento, gráfica e psicologicamente, que nos tenta colocar na cama de Paul, inválidos, impotentes, perante uma mulher que há muito deixou de distinguir realidade e ficção. E talvez, mais do que a violência, seja este o facto mais arrepiante do livro: estamos perante algo raro, mas real. O fanatismo, a incapacidade de separar as coisas e por fim a obsessão, a doença mental que não terá barreiras para os seus objetivos. O nosso cérebro, é, realmente, algo fantástico e que ainda estamos longe de perceber totalmente.

Não querendo desvendar o enredo, este livro vale pela atmosfera, pelas personagens e pela facilidade com que o autor nos mostra até onde pode ir o fanatismo de um lado, e do outro como o pensamento lógico pode ser morto pelo desespero e pela destruição da esperança. Um livro que não é para todos, mas que dentro do seu género é do melhor que já li, ou não estivesse perante Stephen King. Se gostam de leituras fortes, este é um excelente livro.

Luís Pinto

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O PISTOLEIRO


Autor: Stephen King

Título original: The Gunslinger



O homem de negro fugiu pelo deserto e o pistoleiro foi no seu encalço.

Por vezes existem livros, que por um ou outro motivo, nos deixam de boca aberta. O Pistoleiro é um desses casos.
Este primeiro livro da série "A Torre Negra" é um feito ímpar. Considerada uma das melhores sagas de sempre dentro da literatura fanática (a HBO já confirmou que irá fazer a série - o mesmo canal que neste momento faz A Guerra dos Tronos), e com uma personagem memorável,  Stephen King demonstra até onde vai o seu talento.

Sendo este o primeiro livro, Roland, personagem principal, ainda não demonstra o porquê de ser tão adorada pelo mundo literário, mas já lhe conseguimos sentir a sua obsessão, e principalmente a sua ignorância em relação a este mundo. Vemos o seu passado e começamos a perceber a forma como pensa, e é, curiosamente, das poucas coisas que ficamos a saber neste livro. E isso é o toque de génio que o autor dá ao livro: com uma escrita poderosa e inteligente, e que me hipnotizou, King consegue criar uma obra onde no fim percebemos que o livro está cheio de respostas mas nós não percebemos nada! Claro que muitas outras obra também não revelam nada, e nós percebemos como é forçado aquele momento ou um outro diálogo em que não são feitas as perguntas certas. Mas King é inteligente e de forma coerente, dá-nos apenas o que quer.

O autor demonstra ainda uma capacidade fantástica para descrever cenários, com uma imaginação visual bem definida e fácil de percebermos. O mundo parece (e digo "parece", porque para já não dou nada como garantido nesta saga) uma mistura de fantasia, Western e ficção-científica pós-apocalíptica. Mas para além disso não sabemos com o que estamos a lidar... viagens no tempo? Portais? Universos paralelos? Religião? Não dá para perceber e o autor consegue deixar tudo no ar com uma genialidade raramente vista.

O final, avassalador, é razão mais do que suficiente para voltarmos a ler este livro. É aqui que algumas respostas são dadas e muitas perguntas são construídas. King cria diálogos inteligentes, novamente baralha-nos os sentidos e acabei por falhar em todas as teorias que tinha. E desde que seja coerente, adoro quando isso acontece.

Quando acabei este livro fiquei com a mesma sensação que tive quando acabei de ver o filme "A Origem" (Inception, ver aqui o link da opinião ao livro), com a ligeira diferença de saber que aqui, um dia, saberei as respostas. Fico à espera, com muita vontade de ler os próximos e saber o porquê deste mundo, qual a ligação entre Roland e o rapaz, e muitas, muitas outras coisas. Se, como dizem, este é o mais fraco dos livros da saga, então logicamente começo a perceber o porquê de esta ser uma das sagas mais elogiadas de sempre. Não é um livro para todos, pois tenho a certeza que muitos não irão gostar, mas da minha parte, este livro parece-me ser o início de um toque de génio. Com sabem, nunca me adianto muito no início de uma saga, e por isso vou ficar à espera, mas para já digo: "Venham os próximos!"

Luís Pinto