quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ANNA KARENINA


Autor:  Léon Tolstói

Título original: Anna Karenina


Ana Karenina é uma obra-prima e mais não precisaria ser dito. Por outro lado, fazer uma crítica completa sobre este livro, daria um texto enorme, tal é a variedade de temas que Tolstói "toca" nesta sua obra. 

Tentando dar uma opinião pequena, começo por dizer que a leitura não será fácil, mas valeu a pena. As páginas são mais que muitas, e o ritmo é lento, mas toda a experiência de leitura se torna melhor quando percebemos um simples facto: Ana Karenina não é uma história de amor, é um retrato fantástico e exaustivo da sociedade russa do séc. XIX, devendo ser encarado como tal.

 Apesar de não estarmos limitados ao olhar de Ana, pois seguiremos também a ação de outras personagens, o romance de Ana Karenina é o catalisador de toda a história, e é "a partir daqui" que o autor desenvolve os temas mais importantes: cinismo, fidelidade e inveja estão presentes nas personagens, na forma como vivem e sobrevivem numa sociedade que Tolstói critica com fervor ao mostrar também um ambiente que explora as diferenças dentro de um país que poderia, e deveria, ser muito mais do que é.

Tolstói, tal como em outras obras suas, aproveita para criticar a sociedade russa, colocando, indiretamente, as suas opiniões religiosas e tendências políticas em algumas personagens. Para além disso, também se nota alguma desilusão em relação às sociedades dos países mais ocidentais, e supostamente, mais desenvolvidos, justos e equilibrados... mas tal não existe. É notório que o equilíbrio nunca existirá.

Para além da história base, Tolstói insere vários acontecimentos e temas importantes do seu país naquela época. Os direitos das mulheres ou a preponderância que o povo tem na sociedade, sustentando-a com salários miseráveis, são temas explorados e que ajudam todo o livro a ganhar uma dimensão que poucas obras alcançam.
Mas é o adultério o grande tema deste livro, com todas as suas condicionantes religiosas, sociais e políticas... e é aqui que esta obra é superior às outras. Agarrando num tema muito usado, o autor mostra-nos toda uma sociedade e descreve-a de forma sublime. Devemos nós moldar a nossa vida consoante o que outros pensam? A verdade é que estas correntes que nos agarram, sempre prenderam a sociedade, e quanto mais alto o "posto" de uma pessoa, mais limitado está para seguir a sua felicidade. A nossa condição social prende-nos, limitando a nossa felicidade, e Ana Karenina é o espelho dessa infelicidade. Mas porque teremos nós de viver consoante a opinião daqueles que serão os primeiros a apontar-nos o dedo perante a nossa falha?

As personagens são bem construídas, como era de esperar, e cheias de certezas ou incertezas. Algumas apresentam toques geniais e uma profundidade marcante, mas para mim, nenhuma conseguiu alcançar a qualidade de Levin, personagem que apresenta uma fascinante relação com a morte.

Com um final que adorei, Ana Karenina é um jogo moral, entre felicidade e apatia, entre o socialmente correto e a concretização pessoal. Tolstói é um forte acusador sobre muitos temas, principalmente sobre a condição humana e as decisões que nos tornam presos a algo que no fim não terá valor, levando o leitor a questionar as ações das suas personagens, mostrando a batalha no interior de cada uma. No entanto é interessante reparar que Tolstói não dá um moral definitivo a cada tema, e por isso digo que este livro não basta ser lido, tem de ser pensado e compreendido à nossa maneira.

No geral, Ana Karenina não é um livro fácil de ler. Realista como poucos, apresenta um ritmo lento, que nos faz pensar e sentir, enquanto nos mostra os detalhes que tornam esta obra imortal. Não foi dos livros que mais prazer me deu, nem dos que mais me viciou, mas a sua qualidade é inegável, e como tal, recomendo-o sem hesitações a todos os que gostem de ler. 

É, sem qualquer dúvida, uma obra imortal... uma obra-prima.

12 comentários:

  1. adquiri-o recentemente e estou louca por lê-lo!

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    1. Olá Célia.

      Demora tempo, mas vale a pena. Depois quero saber essa opinião!

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  2. Anna Karénina só poderia ter aquele fim!
    É sem dúvida um livro enorme e de leitura morosa, mas Tolstói acabou por imortalizá-la quando a escreveu. Na minha opinião, o autor só cansa o leitor ao debruçar-se excessivamente na vertente campo versus cidade. O humanismo dos personagens é o seu ponto alto, sendo Levine o meu personagem preferido.
    Agora aguardo pela nova versão cinematográfica que está quase a chegar. ;)

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    1. Olá tonsdezul.

      Também gostei muito do Levine. Um personagem diferente, mas mesmo muito bom, com pensamentos fortes.
      Também quero ver se o filme é bom. Não será fácil adaptar tantas páginas.

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    2. Olá Luís,
      Uma das versões que já tive oportunidade de ver, com a Sophie Marceau no papel de Anna Karénina, é um pouco fraca. Não gostei propriamente e por isso é que ainda tenho mais curiosidade em relação a esta nova adaptação.
      Na minha perspectiva, a versão que vi, falha por essa mesma razão, por não conseguir colocar tudo o que é importante na história e depois acabar por centrar-se só na história entre a Anna e o Conde Vronski. E quem não leu o livro acaba por achar que esta obra de Tolstói é só mais um romance de amor trágico...

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  3. Uma crítica muito completa da tua parte. Eu não apreciei muito o final mas admito que seja o melhor e o que dá mais qualidade ao livro. Agora também quero muito ver o filme. Parabéns pelo texto. Está mesmo muito bom:)

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  4. Sempre fugi a este livro por ser muito grande e a literatura russa por vezes não é fácil mas agora vou dar-lhe uma oportunidade!

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  5. Eu tb ando a fugir um pouco deste livro mas adorei a tua opinião. Vai ficar na lista e agora não sei se vejo o filme primeiro ou o livro.

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  6. A facilidade com que analisas e escreves sobre qualquer coisa é algo que deves sempre preservar.

    Este livro é fantástico, já o li duas vezes. Concordo contigo em toda a análise e também o considero dificil de ler. Não tenho grande esperança no filme porque será muito complicado adaptar tamanho livro. Ficará muito por adaptar.

    Parabéns.

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    1. Obrigado Cardoso. Também acho que ficará muito por adaptar, mas pode ser que o melhor esteja presente.

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  7. Já está na lista!

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  8. Uma vez mais, obrigado a todos pelos vossos comentários!

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