Autor: Pierre Boulle
Título original: Le Planet des Singes
Quando há algum tempo me emprestaram este livro, comecei a lê-lo de imediato e as expectativas altas que tinha estavam ao nível da qualidade do livro. É na minha opinião um livro excelente, que levanta várias questões que encaixam na perfeição na história central, tornando este livro numa obra completa e coerente.
Seguindo a história de Ulysse somos brindados com uma realidade difícil de imaginar, onde os Homens são agora governados por Primatas (gorilas, macacos, chimpanzés, etc…). Este mundo é bem conseguido, principalmente na mentalidade que o envolve, com os Primatas a darem como seguro que o Homem não é inteligente, não pode, não será. Tal como nós fazemos agora em relação a eles.
Esta mentalidade forte, bem estruturada, leva os Primatas a serem cegos em relação a certos acontecimentos que não “querem” ver, mas conduz-nos também a um conjunto de situações que questionam o próprio comportamento Humano na realidade fora do livro.
Primeiro percebemos a diferença que serve de mensagem a todo o leitor, esta diferença é o facto de todos os Primatas conseguirem viver em harmonia, com direitos, deveres e respeito. A escrita de Boulle consegue, de forma muito subtil, enaltecer este facto enquanto critica o facto de o Homem não o conseguir.
O próprio comportamento dos Primatas em relação aos humanos pode ser vista como mais uma subtil crítica a uma espécie que estando no topo da cadeia alimentar, tem a capacidade de fazer o que quer com os recursos, natureza, etc… uma vez mais os Primatas não apresentam a mentalidade consumista e de produção sem limites que os humanos apresentam na realidade. Uma vez mais a subtil crítica, e que tal como as outras, se estivermos distraídos não as iremos notar de imediato.
Claro que ler um livro onde o Homem é tão inferior a uma espécie que nós conhecemos, leva-nos a questionar a própria condição humana e as consequências das nossas acções, a forma como olhamos para os animais e o que fazemos ao seu habitat. A questão que se levanta, apesar de improvável, é se um dia deixaremos de ser os donos do Planeta e acabaremos por precisar e ser dependentes daquilo que estamos agora a destruir, seja isso uma floresta, um lago, um simples sombra para nos arrefecer enquanto respiramos o quase inexistente ar puro. Claro que estas questões não estão presentes no livro, mas indirectamente obriga-nos a pensar nelas.
Não tendo uma personagem que se apresente a um patamar superior de qualidade, este livro vale pelo Universo criado, pelas questões, pela singularidade da posição em que coloca o Homem. É a luta pela sobrevivência, é a luta para ser respeitado, mas a troca é aquela que nós próprios costumamos dar e agora recebemos: a escravidão e aprisionamento de uma espécie que não queremos temer um dia. É isso que os Primatas fazem. Amedrontam-nos. No entanto é muito satisfatório ver como a personagem, tal como o leitor, ao "sentir na pele" a grande maioria dos acontecimentos do livro, quer tenham como base o racismo ou outros factores, a personagem Ulysse questiona-se, cada vez mais sobre a capacidade de governar um planeta, o que é necessário para o fazer, e a responsabilidade de quem tem tal poder nas mãos. Esta viagem até às respostas torna este livro ainda melhor, torna-o um livro adulto e maduro.
Realço ainda que o fim deste livro é soberbo, dos melhores que já li, por ser tão imprevisto, e principalmente por estar coerente com tudo aquilo que o livro constrói nas suas páginas. Uma verdadeira chapada na cara. Se viram a adaptação de Tim Burton para o cinema não pensem que conhecem o final deste livro, está longe do magnifico fim deste livro, muito bom e que nos deixa a olhar para o livro durante minutos depois de o acabarmos.
É um livro que não sendo um dos melhores livros de sempre de Ficção-Científica, é obrigatório pela sua singularidade e enorme qualdiade. É um livro melhor do que os filmes, mais completo, que passa melhor a mensagem base, que levanta questões de racismo, jogos de poder, intriga política, etc... No entanto há questões que ficam a pairar do ar, sem nunca serem explicadas. Claro que são questões que alguns nem notarão, outros arranjarão respostas a partir de teorias… eu gostava de as ver respondidas por Pierre Boulle.
Se gostam de livros de Ficção-científica com questões filosóficas, um mundo coerente e completo, uma boa escrita e a intriga política que quase não se nota a cada linha, então este livro é para lerem! Se gostam de ser surpreendidos no final, então é impossível de perder.
Uma última palavra para um facto e um pedido da minha parte. Há anos que tento comprar este livro em Português e nunca o consegui encontrar. Aliás, nem sei que editora o traduziu, e este imagem que coloco aqui não é sequer a capa do livro que eu li. Se alguém souber qual a editora ou onde posso comprar esta obra, diga-me, pois é um daqueles livros que vale a pena ter na estante para reler um dia. Pode ser que com o novo filme alguma editora faça este livro aparecer nas lojas!