Sinopse: Quem é Benjamim Tormenta, o famoso detetive do oculto que se move na Lisboa do século XIX?
Benjamim Tormenta. Figura elegante e misteriosa, tanto é avistada nos salões luxuosos da capital como nas ruelas decadentes de Alfama, em palacetes de Sintra ou casas de ópio de Macau.
Cruzando-se com figuras como o rei D. Luís, Fontes Pereira de Melo ou Eça de Queiroz, ele usa as suas habilidades na Lisboa secreta: a dos deuses negros convocados por burgueses ociosos, das aberrações vindas do outro lado do Cosmos, dos livros amaldiçoados e da mais perigosa sociedade secreta do império português: a Irmandade da Serpente Verde.
O que poucos sabem é que também Tormenta esconde um segredo tenebroso. Preso no seu corpo pela magia de muitas tatuagens está um demónio milenar que se quer soltar e espalhar a destruição, primeiro em Lisboa e depois no mundo.
Nos últimos meses tive de tirar umas é férias do blog, mas a paixão de ler não desapareceu. O resultado, tal como já esperava, é que tenho vários livros que já li e que tenho de analisar aqui no blog. Vamos lá ver se consigo recuperar o atraso que tenho.
Agora que regresso a este espaço, torna-se obrigatório que o primeiro livro a analisar seja este, por vários motivos. Porque é de fantasia, porque é português, e porque é escrito por Luís Corte Real, a pessoa que criou a editora Saída de Emergência e também a revista BANG!, um revista que qualquer fã de fantástico deverá conhecer. No post anterior neste blog até podem ver uma interessante conversa que tivemos no meu canal, espero que gostem!
Olhando agora para o livro, confesso que o nome do livro despertou-me a atenção e comecei a ler sem saber bem o que iria encontrar. Muitas vezes nas primeiras páginas de um livro percebemos logo o que o autor pretende ou qual o seu estilo. Aqui, não precisamos de mais do que duas ou três páginas para percebermos o quanto Corte Real quer que o leitor sinta que está naqueles locais, naquelas ruas à noite cheias de nevoeiro, do barulho dos coches, do cheiro de Lisboa, e não só... Luís Corte Real escreve com calma, com detalhe e, acima de tudo, com uma investigação como base que se nota rapidamente. Estava a ler estas páginas há poucos minutos e já me sentia em Macau, e depois em Lisboa. Este é um dos grandes trunfos do livro, a capacidade de nos transportar para aquela época, para aqueles locais.
E assim sentimos que o livro nos "dá uma imagem" de como era Lisboa no século XIX. Como eram as ruas, como as pessoas falavam e se vestiam, como eram as ruas da nossa capital, os transportes nas ruas, os barulhos que se ouviam. E tudo isto é algo que nunca encontrei num livro de fantasia, o toque da aura da sociedade portuguesa.
No entanto, confesso que o primeiro capítulo, apesar de muito bom na escrita e na forma como me transportou para este mundo, deixou-me com dúvidas sobre o caminho que a narrativa iria tomar. Trata-se de uma simples apresentação de personagem que marcava de imediato alguns limites da fantasia e deixava em aberto questões que eu queria respondidas logo a seguir. E é a partir do segundo capítulo que tudo se transforma, e porquê? Porque aparece uma personagem que dá o derradeiro toque de qualidade. Tal como está escrito na sinopse, Tormenta "partilha" o seu corpo com um demónio, e são os diálogos e a relação entre estes dois que faz a diferença. Adorei a forma como estes dois vivem, desprezando-se mas sabendo que um sem o outro não conseguiriam sobreviver a todas estas aventuras. Não vou revelar mais nada, mas acreditem que toda esta história é centrada nestes dois sem que existam momentos óbvios ou forçados e isso é refrescante para quem lê dezenas de livros por ano.
Olhando agora para a narrativa e história, o livro divide-se em vários contos, várias aventuras que terão uma ligação mais à frente e, enquanto vamos lendo, mais perguntas se vão criando, principalmente sobre as origens de algumas personagens e também quais as suas motivações e objetivos.
Não quero revelar nada sobre este livro, mas posso dizer-vos que quando acabou, queria mais, e isso é algo que sinto cada vez menos nos livros de fantasia, principalmente pela falta de originalidade. Claro que este livro tem claras influências de grandes autores de fantasia, como por exemplo Lovecraft ou Arthur Conan Doyle, mas é uma mistura de vários conceitos que está bem conseguida, sem parecer forçada, e que é original em vários aspetos. Este é um livro que vive do seu suspense, de dúvidas na mente do leitor e de um ambiente bem detalhado mas que não estraga o ritmo da narrativa e assim nos empurra para continuar a ler. E acredita que o livro acaba de forma muito bem conseguida e que liga várias linhas condutoras para que depois todo o livro se torne melhor.
Depois de tudo isto, digo-vos que se gostam do género, este é um livro a ter debaixo de olho. Da minha parte, terei debaixo de olho o próximo livro, que claramente terá de acontecer e que espero que traga a mesma fórmula ganhadora com os trunfos que mencionei. Quem diria que Lisboa do século XIX poderia ter tanta fantasia ainda por se descobrir? Recomendado!
Luís Pinto