segunda-feira, 1 de junho de 2015

TODA A LUZ QUE NÃO PODEMOS VER


Autor: Anthony Doerr

Título original: All the light we cannot see



Sinopse: Marie-Laure é uma jovem cega que vive com o pai, o encarregado das chaves do Museu Nacional de História Natural em Paris. Quando as tropas de Hitler ocupam a França, pai e filha refugiam-se na cidade fortificada de Saint-Malo, levando com eles uma joia valiosíssima do museu, que carrega uma maldição. Werner Pfenning é um órfão alemão com um fascínio por rádios, talento que não passou despercebido à temida escola militar da Juventude Hitleriana. Seguindo o exército alemão por uma Europa em guerra, Werner chega a Saint-Malo na véspera do Dia D, onde, inevitavelmente, o seu destino se cruza com o de Marie-Laure, numa comovente combinação de amizade, inocência e humanidade num tempo de ódio e de trevas.




Quando um livro começa a vender bastante, pode ser apenas moda... mas quando começa a ganhar muitos prémios, algo de especial tem de ter. Este é um desses casos, pois estamos perante um livro que "vergou" a crítica internacional e que realmente é especial, aliando boas vendas e prémios.

Sendo um grande apreciador de livros passados na Segunda Guerra Mundial, comecei este livro com enorme entusiasmo mas tentei que esse mesmo entusiasmo não destruísse a leitura. A verdade é que não precisamos de muitas páginas para perceber duas coisas: este é um livro lento, e é um grande livro. Com isto o que vos poso dizer é que o grande problema do livro é o seu ritmo. A grande maioria dos leitores ficará colado as estas páginas, mas existirá sempre a sensação de que o enredo demora a arrancar, porque a narrativa foca-se em pormenores do que rodeia as personagens e, principalmente, foca-se nessas personagens.

Se por um lado o ritmo é o que pode afastar alguma leitores no início da leitura, as personagens fazem o trabalho contrário, e a partir do momento em que existe uma ligação entre leitor e personagem será difícil parar de ler. O resultado é uma leitura bastante sentimental, principalmente porque o autor explora muito bem o estado emocional das suas personagens numa época em que apenas a esperança nos dá força para sobreviver.

Enquanto a leitura prossegue, começamos a adivinhar o final. Aliás, acredito que o autor não tenta surpreender com o final, mas sim com a forma como nos dá esse final. Quando acabei a leitura havia um sentimento de plenitude com esta leitura, como se o livro tivesse oferecido tudo o que era necessário para esta história. Forte e sentimental, este é um enredo que causa impacto no leitor, ou não fosse passado numa das fases mais marcantes da humanidade. Com uma narrativa que consegue ser forte quando precisa, o leitor cria ligações com facilidade. As duas personagens principais são o espelho de várias características que foram a base de algumas pessoas nesta época. A esperança é, provavelmente, o mais impressionante do que vai dentro de algumas das personagens que aqui lemos. É a esperança que dá força e os faz continuar num mundo de pernas para o ar. A humanidade está a matar-se e alguns apenas ambicionam sobreviver...

Este livro mostra-nos o melhor e o pior da humanidade. Nos livros desta época são muitos os que conseguem demonstrar como o Homem pode ser tão cruel, mas também tão capaz de ter compaixão. É essa montanha russa de personalidades e de momentos que nos leva a continuar a ler, querendo saber como estas duas crianças irão sobreviver. Cheio de momentos marcantes, este é uma obra completa numa narrativa que olha ao pormenor. A mistura de sentimentos torna o livro pesado mas também belo em alguns momentos, levando a que seja difícil esquecer esta leitura mesmo tendo algumas falhas e um ritmo que demorar a explodir. 

No meu caso, sinto que li algo coeso, cheio de significado, capaz de agradar à grande maioria dos leitores, e torna-se difícil explorar mais este enredo sem revelar momentos. Para mim, a personagem de Marie ficará na minha memória durante muito tempo, porque o "olhar" de uma pessoa cega sobre a guerra que rodeia é esmagadora em alguns momentos.

É, claramente, um dos livros do ano. Profundo, inteligente, capaz de nos transportar para o seu mundo e sofrer com as personagens. Os vários prémios que ganhou são a prova e eu sou apenas mais um leitor rendido a esta obra e que no fim do ano fará, de certeza, parte do meu top. 

Luís Pinto

2 comentários:

  1. Convencido a comprar nos próximos tempos. Continua com este género sff!

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  2. Parabéns pelo texto. Como sempre muito bom e vê-se que gostaste bastante do livro. Já o meti na lista de comprar da feira mas vou ver se o apanho com uma promoção fixe. Bjs

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