quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Espaço Leitor: A FILHA DO BARÃO



O Espaço Leitor regressa com mais uma opinião. Como sabem, trata-se de um "espaço" onde qualquer leitor pode deixar uma opinião a um livro à sua escolha.

Desta vez recebemos mais um texto da Margarida Contreiras a quem agradeço a análise, desta vez feita a um livro que nunca li. 

Todos os que queiram enviar algum texto para ser publicado no blog, estejam A`vontade para usar o nosso e-mail de contacto!



Autor: Célia Correia Loureiro




Célia Correia Loureiro apresenta a terceira publicação num romance que vem confirmar a sua competência. Não que se possa comparar com grande ligeireza este romance histórico com os seus anteriores volumes, que tratam outras matérias. Porém, é possível validar a sua qualidade no notável aumento de complexidade, na expressividade que ganhou estilo e na elaboração lógica e surpreendente de uma trama bem composta.

A Filha do Barão é simultaneamente uma história romanceada e uma personagem cuja personalidade abraça todo o livro – que é a primeira semente da narrativa e que é também os seus frutos. Retrata uma história de amor passada no tempo das invasões francesas. E retrata bem! Verificamos uma ótima reprodução gráfica de locais, personagens e ambientes, feita geralmente nas entrelinhas para não aborrecer o leitor com parágrafos exclusivamente descritivos. São também estas descrições que nos mostram o que aparenta ser uma pesquisa histórica muito bem feita, já que chega ao pormenor da gastronomia, vestimentas e quotidianos, que enfiam o leitor numa máquina do tempo. A escritora mostra-nos em que momento histórico nos encontramos através de diálogos políticos que têm lugar no contexto masculino, entre copos de vinho do Porto e charutos, onde por vezes nos deparamos com uma ou outra ilustre figura da História de Portugal, o que realça ainda o realismo e a credibilidade da narrativa.

Três vivas à narração dos momentos de intimidade, atrevida mas elegante e muito empolgante. A propósito, Célia Loureiro traz-nos o tema pouco explorado nesta categoria literária da jovem que é forçada a casar com um homem mais velho. O patamar em que as duas personagens se encontram e desencontram, além dos desenvolvimentos intelectuais e físicos por que passam, não só complexificam esta história, como também a ornamentam com um encanto muito particular. No que diz respeito ao enredo, a autora já se mostrara bastante competente. Devemos, contudo, reconhecer que neste livro ela se supera com os climas de suspense que apimenta, deixando uma dúvida flutuante que quase nos faz crer que há um contra-senso – um erro de narrativa. Mas por pouco tempo nos deixa assim ficar pois que algumas páginas à frente chegamos à solução para a intriga. Esta história traz à convivência portugueses, franceses e ingleses que encarnam a omnisciência do narrador, mostrando-nos através das palavras de Célia Loureiro um Portugal visto aos olhos destas nacionalidades em diferentes aspectos – do político ao gastronómico – e que lhe deixam escapar um certo patriotismo.

Ainda assim, não podemos afirmar que estejamos perante o livro perfeito já que, embora as suas falhas não superem a sua qualidade, devemos apontar-lhe o dedo por se deixar alongar demasiado na descrição de alguns acontecimentos que, ao nos fazer perder o entusiasmo, comprovam que este livro não perderia qualidade se perdesse alguns milímetros de lombada. Alguns acontecimentos paralelos à história central poderiam ser dispensados ou eventualmente substituídos por ramificações da narrativa, já que neste livro praticamente só seguimos uma história central.



Por fim, é importante saber-se que Célia Loureiro não ficará por aqui no que respeita a esta história, já que nos poderemos permitir aguardar por uma sequela que há-de aparecer completar o primeiro volume. E ainda bem, já que, ao lermos o primeiro sabemos o que encontraremos no segundo e podemos prever que não nos proporcionará uma perda de tempo mas antes momentos de digressão divagadora em que nos deixaremos entrelaçar num novelo de personagens e histórias de nos pregar os olhos, descair o queixo e endurecer os dedos ao segurar a capa.



Uma vez mais, obrigado à Margarida Contreiras por esta análise muito interessante!

1 comentário:

  1. Ah obrigadíssima!
    A crítica tem tanta qualidade quanto um autêntico romance :)
    É sempre bom ver os meus livros descritos nas tuas palavras.
    Bj

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