domingo, 19 de maio de 2013

O GRANDE GATSBY



Autor: F. Scott Fitzgerald

Título original: The Great Gatsby




Considerado um dos melhores romances de sempre, O Grande Gatsby é, na minha opinião, dentro do que já li, uma das mais fortes e abrangentes críticas a uma específica sociedade. E mais do que uma história de amor ou de solidão, é esta crítica que torna a obra de Fitzgerald num dos livros mais marcantes dos últimos cem anos.

Num livro pequeno, com poucas personagens e sem grandes descrições, é fantástico como o autor consegue expor tão bem uma sociedade que é, na sua maioria, corrupta e invejosa. As personagens são, no global, pouco desenvolvidas e nota-se que o autor quis desvendar pouco, criando um suspense que poderá levar ao fascínio do leitor, o mesmo fascínio que grande parte da sociedade tem em relação aos ricos e à sua forma de vida.  

São poucos os que têm a sorte de nascer entre os ricos, mas esse aleatório momento condicionará toda a nossa vida, para o bem, ou para o mal. Nick, o nosso narrador e personagem interessante, está, tal como o leitor (que não seja imensamente rico), fora desta realidade, e passa grande parte da história entre o fascínio e as dúvidas. Esta semelhança torna Nick numa personagem que facilmente agrada, e mesmo com uma primeira parte do livro mais monótona, a leitura nunca me custou.

Gatsby é um homem de extravagâncias e isso nota-se nas suas festas. Cria (paga) fabulosos espectáculos sem se dar ao trabalho de estar presente ou de saber quem está convidado e nota-se a primeira crítica do autor. Está na valorização do dinheiro. No entanto, rapidamente nos apercebemos que Gatsby não é o alvo da crítica, pois este homem, que ninguém sabe porque é tão rico, tem motivos morais para as suas acções, ao contrário de muitos outros.

A crítica tem como alvo a ambição e a falta de moral da sociedade rica na década de 20 nos EUA. Conversas chatas em que ninguém é honesto, onde apenas se fala para desdenhar e encontrar fraquezas nas outras pessoas, misturam-se numa luta entre a honestidade de alguns e a mentira de muitos. E até a forma como as personagens falam, demonstra facilmente o seu estatuto social. Mas o autor não se fica por aqui, e mostra como muitos dos que nasceram ricos, não sabem o que a vida custa, não sentem as limitações e não sabem o que é a dignidade... pois aquilo que alguns adquirem com respeito e mérito, outros compram.

Interessante ainda, ver que uma pessoa que nasça rica, não desperta a atenção nem a inveja em comparação com um homem que ganhou essa riqueza por mérito. E porquê? Porque este homem fez o que os outros, que nasceram ricos, não tiveram de fazer, e como tal, apresenta um feito invejável. 

Gatsby é um personagem marcante, não pelo que mostra, mas pelos motivos que determinam as suas acções, e com este homem, o autor mostra-nos que para ter uma excelente vida, não basta ser rico. É aí que está a mentira instalada na mente das pessoas. No entanto, como disse antes, para mim este livro é mais do que uma história onde pessoas e sentimentos estão misturados. Existe uma história de amor, e existe amizade, e é isto que nos agarrará ao livro, mas é na crítica que está o soco dado ao leitor, e as primeiras páginas tornam-se a parte mais importante do livro ao vermos que será a partir dessa base, que irá crescer a crítica que torna esta obra tão marcante.

Sendo assim, torna-se fácil perceber o porquê de estarmos perante um livro tão conceituado. O Grande Gatsby não será, para a maioria, o mais viciante dos livros, nem será o favorito. Claro que muitos irão preferir a história de amor e a amizade, mas para mim, este livro ficará presente como uma das grandes críticas a um estilo de vida, ao que o poder faz às pessoas, e à imoralidade que ganha forma quando as barreiras (do dinheiro) desaparecem.

Para mais informações sobre o livro O Grande Gatsby, clique aqui!

Luís Pinto

9 comentários:

  1. Excelente texto. Parabéns. Livro a ler sem dúvida.

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    1. Obrigado Pereira. É mesmo para ler, sem dúvida!

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  2. Estou muito curioso com este filme e livro. Li a tua opinião com muita atenção e tentei perceber o significado escondido das tuas palavras. Obrigado por não falares sobre a história mas sim sobre o que faz o livro fantástico. Vou comprar de certeza.

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    1. Olá Pavio. Também quero ver o filme para ver se a adaptação está boa. Não será fácil.

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  3. Excelente análise como sempre! parabéns!

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  4. Grande livro e grande análise da tua parte mostrando realmente o que torna este livro memorável. Parabéns pelo trabalho.

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  5. Adorei este livro, li-o num ápice!
    Principalmente pela descrição social das classes abastadas dos anos 20.Reporta-nos às festas, à importância da imagem, aos círculos sociais, onde reina a falta de autenticidade, genuinidade e valores morais e sociais entre os elementos.O imperativo artificial e fútil do ser humano, é abordado pelo autor de forma exímia . Remete-nos à solidão que impera nas personagens.
    Ao nível da escrita, gostei bastante da estrutura que o autor aplica. Relativamente à história, a mesma ganha fôlego nos últimos capítulos, onde culmina num final inesperado.
    Sendo uma fiel seguidora deste belíssimo blog, congratulo-o pelas excelentes escolhas literárias, principalmente os clássicos, pelos quais nutro um fascínio incondicional, e após as suas criticas, torna-se impossível não correr para a biblioteca e comprar o livro!
    Bem haja pela sua existência blogosférica!!!!

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    1. Olá Ana Martins,

      Tudo o que indica é aquilo que me faz acreditar que se trata de uma obra que pode ser adaptado ao cinema mas nunca poderá estar ao nível do livro. As palavras deste autor têm uma força difícil de adaptar. O final inesperado é para mim o grande momento do livro e que se torna muito coerente, nós é que não o vemos aproximar-se.

      Obrigado pelos elogios. Tento criar um equilíbrio entre novidades e clássicos, mas tal não é fácil, umas vezes porque o preço dos clássicos é alto, outras vezes porque desapareceram do mercado.

      Fico à espera de mais opiniões!

      Boas leituras!

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