quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

CAMARATE - SÁ CARNEIRO E AS ARMAS PARA O IRÃO


Autor: Frederico Duarte Carvalho




Sinopse: Ao fim de mais de 30 anos de investigações e de tantos livros publicados sobre Camarate, o que falta ainda conhecer sobre a morte de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa? E por que intitulo eu este livro Sá Carneiro e as Armas para o Irão?
A resposta à primeira pergunta poderia aparentemente ser respondida de forma lapidar: tudo. Acho que ainda falta conhecer tudo.
Quanto à segunda pergunta, espero que fique respondida de forma clara e inequívoca quando se perceber que este é um livro que vai explicar o contexto nacional e internacional que se vivia no dia 4 de Dezembro de 1980. Nesse dia, desapareceram da cena política portuguesa – e mundial – os estadistas Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. A revelação da ver‐ dade de Camarate, mesmo após mais de 30 anos, ainda hoje representa um perigo para a estabilidade das relações diplomáticas entre Portugal e os EUA e, por arrasto, para a paz no Médio Oriente. Será pretensioso da minha parte ter a opinião de que a «Caixa de Pandora» de Camarate encerra o perigo de causar revoltas populares e políticas em Portugal, EUA e Irão? Infelizmente, como se comprovará ao longo dos factos apresentados neste livro, não é nada pretensioso concluir isso.
É apenas uma possibilidade bem real.



Este é o segundo livro que leio deste autor, e novamente foi uma leitura muito boa. Tal como no outro livro, O Governo Bilderberg, também neste o autor foca-se nos factos e não na especulação, e é isso que me agrada. Tal como se pode esperar de um livro que é uma rigorosa investigação que apenas se baseia em factos, a leitura nunca será particularmente entusiasmante ou viciante, pois o autor explora com detalhe cada aspeto presente no livro para ajudar o leitor a ganhar uma melhor compreensão, não só da base narrativa do livro, mas também de outros conceitos necessários para uma melhor compreensão do enorme alcance que toda esta história tem. E é aí que ao autor tem o seu trunfo, ao conseguir ligar vários fatos importantes para criar uma narrativa que aos poucos ganha o efeito dominó onde muito começa a encaixar.

A escrita do autor é simples e direta, sem os floreados desnecessários a um livro que tem como objectivo informar e levar o leitor a questionar e a ganhar interesse. A verdade é que apesar de não ser um livro que agarre, ao lê-lo a minha atenção estava totalmente focada nestas páginas. Outro aspeto importante neste livro está no facto de o autor explorar o “como”, o “porquê” e o “quem”, pois bastaria um destes caminhos da investigação não estar bem explorado para o livro não ter o mesmo impacto. O autor rodeia-se de factos e documentos para basear uma teoria que aos poucos deixa de o ser, para se tornar em algo muito mais verídico do que poderia parecer no início do livro.

Apesar de não ser um livro muito grande, quem não estiver realmente interessado no tema acabará, provavelmente, por não encontrar uma narrativa que o prenda até ao fim. No entanto, caso este tema vos interesse, então esta obra é a escolha certa, sendo na minha opinião o livro mais completo sobre o tema, principalmente porque o autor não se foca apenas no tema base, abrindo a nossa visão para muitas ligações financeiras e políticas a este acontecimento. O livro é assim abrangente e de certeza que ensinará bastante a quem o ler. Uma leitura muito boa.

Luís Pinto


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

CENTURIÃO


Autor: Simon Scarrow

Título original: Centurion






Sinopse: No primeiro século d.C., o Império Romano enfrenta uma nova ameaça do seu inimigo de longa data, a Pártia. Os partos disputam com Roma o controlo por Palmira, um reino neutro e próspero. A casa real de Palmira encontra-se à beira da revolta, e Cato e Macro assumem o comando de uma missão perigosa para defender o rei e a sua guarda. Mas quando a Pártia descobre que as legiões romanas se preparam para um confronto, juntam os seus exércitos para a guerra. A coorte de Macro tem que marchar contra o inimigo e penetrar no coração do território traiçoeiro. Se querem evitar que Palmira caia nas mãos da Pártia, terão que derrotar números superiores num cerco desesperado. A conquista de paz nunca foi tão difícil, ou crítica, para o futuro do Império.


Uma vez mais regresso a esta enorme e viciante saga sobre o Império Romano, onde Cato e Macro são os personagens em destaque. O que me tem agradado nesta saga é a consistência do autor, apresentando novos desafios, ambientes e personagens que ajudam a que a saga nunca pareça demasiado repetitiva. O estilo permanece igual, com um ritmo elevado durante a grande maioria do tempo, com grande foco para a vida política de Roma mas também para o dia a dia dos soldados romanos. Esta mistura entre as duas classes sociais ajuda a que o autor continue a aumentar a sua visão sobre o império e o que o sustenta, sendo, inevitavelmente o que também o fará cair.

O autor continua a explorar de forma bem conseguida algumas personagens que não irei aqui revelar e que ajudam a que o enredo seja mais coeso, não sendo tão focado nas personagens principais como era no início da saga. A escrita mantém o seu estilo e agarra o leitor. Claro que é preciso gostar do tema e querer saber mais sobre a História deste império para se ler uma saga que no final terá mais de dez livros. No meu caso, ler esta saga de seguida acabaria por destruir a própria saga e o bom trabalho do autor, mas voltando aos poucos faz-me querer continua a ler e saber mais sobre como estas pessoas viviam, pois esse é um dos trunfos do autor, conseguir explorar a vida naquela época, como se viva nos acampamentos, como se preparavam as batalhas nos mais diferentes cenários de guerra.

Simon Scarrow tem aqui uma saga que é divertida mas que consegue ser pesada quando é preciso. A capacidade do autor de explorar os melhores e os piores aspectos de Roma é um grande trunfo que se mistura com o choque de culturas entre o império e os chamados povos bárbaros. Tudo isto, aliado a personagens cativantes, fazem-me continuar a ler. E é o que farei. Tal como já disse outras vezes, se gostam de histórias sobre o Império Romano, então esta saga deve ser lida.

Luís Pinto

Top Imprensa Awards 2016


TOP REVIEW AWARDS 2016 

Ler y Criticar nomeado para Melhor Blog de Literatura
 

O grupo Top Imprensa Awards está de regresso, como tem acontecido sempre no início de cada ano, com a iniciativa Top Review Awards 2016.

Como sempre trata-se de uma iniciativa que tem como objetivo promover o que se faz no mundo dos blogs em Portugal, nomeando os que consideram ser os melhores nas mais diversas categorias, pelos mais variados motivos.

Este ano o Ler y Criticar volta a estar nomeado e as votações já estão a decorrer. Para saberem tudo sobre esta iniciativa e votarem nos vossos blogs favoritos, deixo-vos aqui o link onde o podem fazer.

As votações estão abertas até ao fim do mês e todos os que votarem ficam habilitados a ganhar prémios.

Agora vá toca a votar nos vossos favoritos!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PRÍNCIPE DOS ESPINHOS


Autor: Mark Lawrence

Título original: Prince of Thorns






Sinopse: Com apenas 9 anos, numa emboscada planeada pelo inimigo para erradicar a descendência real, o príncipe Jorg Ancrath é atirado para dentro de um espinheiro, onde fica preso, com espinhos cravados na sua carne, a ver, impotente, a mãe e o irmão mais novo a serem brutalmente assassinados.
De alma destruída, sedento de sangue e de vingança, Jorg foge da sua vida luxuosa e junta-se a um bando de criminosos e mercenários, a quem passa a chamar de irmãos. Na sua mente há apenas um pensamento, matar o Conde de Renar, o responsável pelas mortes da mãe e do irmão, pelas suas cicatrizes e pela sua alma vazia.
Ao longo de quatro anos, Jorg cresce no seio de batalhas sangrentas, amadurece em guerras impiedosas, torna-se um guerreiro cruel e vai ganhando o respeito dos seus irmãos até que se torna o seu líder. Agora, um reencontro vai levá-lo de volta ao castelo onde cresceu e ao pai que abandonou. O que vai encontrar não é o mesmo sítio idílico de que se lembra, mas o príncipe que agora retorna também não é mais a inocente criança de outrora, é o Príncipe dos Espinhos. 



Fazendo uma pausa em livro mais factuais, decidi regressar à fantasia para começar a ler esta saga que tem dividido os leitores. Ao fim de ler este primeiro livro percebo essa divisão, pois o livro tem pontos fortes e outros fracos, mas já la vamos, pois no global é um livro bastante viciante.

Existem dois factores que distinguem este livro: a escrita do autor e o seu personagem principal. Começando pela escrita, o autor quer manter o ritmo sempre elevado e consegue, levando a que qualquer leitor acaba por agarrar-se à história e se entregue a uma leitura feroz. O problema é que o autor mantém o ritmo sempre elevado, mesmo nos momentos em que deveria travar e explorar mais um momento emocional ou os motivos de uma personagem. Existem, pelo menos, duas ou três vezes em que senti que o autor deveria ter abrandando e explorado melhor o que estava a acontecer, pois tinha a base para melhorar aquele momento.

Tirando a questão do ritmo, que tem tanto de benéfico como de prejudicial em alguns momentos, o autor consegue, e bem, criar um mundo bastante coerente, apesar de sempre sombrio, algo que poderá não agradar a todos os leitores mas que encaixa perfeitamente no ambiente do livro, principalmente porque estamos perante a visão de um personagem, e esse mundo sombrio é a forma como ele o vê.

E é essa personagem o trunfo do livro. O nosso Príncipe é um inteligente anti herói com uma linha mural questionável, pois os seu métodos são justificados pela necessidade de algo. Com este personagem, o autor consegue criar um livro que aos poucos é quase tão psicológico como é de fantasia. é este equilibro inteligente que nos faz continuar a ler, pois queremos ver como este rapaz evolui, até onde irá, onde irá falhar. É esta mistura em "O Príncipe" de Maquiavel e "O Conde de Monte Cristo" de Dumas que se equilibra e torna o livro bastante viciante.

Existem ainda outras personagens e uma história interessante e coerente na maioria das páginas, mas é este personagem que dá o toque de entusiasmo que um livro de fantasia deve ter. Sendo o primeiro livro de uma trilogia, muito fica por dizer, mas a base e a evolução da personagem, juntamente com algumas questões que ficam no ar, leva-me a acreditar que o próximo livro será melhor. Para já, estou a gostar e quero ler os próximos! 

Luís Pinto

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

OS FACILITADORES


Autor: Gustavo Sampaio





Sinopse: Ajustes directos, contratos swap, PPP (nos sectores da saúde, educação, águas, resíduos, vias rodoviárias e ferroviárias, etc.), privatizações de empresas públicas, concessões e subconcessões, contratos de exploração a meio século, auto-estradas com portagens virtuais, rendas excessivas no sector energético, mais-valias decorrentes da venda de gás natural não partilhadas com os consumidores, aumentos das taxas nos aeroportos nacionais, direitos adquiridos sobre pontes e aeroportos que ainda não foram construídos, indemnizações devidas por causa de projectos adiados, ou mudanças de sede fiscal para a Holanda ou para a Zona Franca da Madeira... Quase todos estes contratos, negócios e direitos adquiridos foram assessorados, intermediados, aconselhados, estruturados, facilitados pelas principais sociedades de advogados que operam em Portugal. As que mais facturam. Quer do lado do Estado, em representação do interesse público, quer do lado do sector privado, defendendo os interesses empresariais dos respectivos clientes. Ou em ambos os lados, muitas vezes em simultâneo, por entre indícios de conflitos de interesses. O jornalista Gustavo Sampaio, autor do bestseller Os Privilegiados, apresenta uma investigação jornalística rigorosa e inédita que, pela primeira vez, revela e sistematiza as listas de clientes das maiores sociedades de advogados, as interligações políticas e empresariais (desde o recrutamento de ex-políticos ou políticos no activo até à acumulação de cargos de administração em grandes empresas), as participações no âmbito da produção legislativa ou da actividade regulatória, entre outros elementos.



Esta foi mais uma leitura interessante dentro do seu género e que me fez questionar algumas coisas. Em primeiro lugar é preciso evidenciar que o autor faz um bom trabalho de investigação, principalmente ao ligar factos que à primeira vista podem parecer dispersos. Aliás, o principal trunfo deste livro está no facto de se basear em factos sem sustentar ideias que sejam apenas teorias. Com esta tendência o livro torna-se mais coerente, mesmo que possa ser menos entusiasmante em alguns momentos.

Sendo um livro de investigação que tenta ligar acontecimentos e pessoas, não é, nem pode ser, um livro de ritmo elevado. A verdade é que apesar de ser um livro pequeno, pode não ser fácil de se ler de seguida, no entanto em nada isso é prova de o livro não ser bom, é apenas o resultado de uma investigação meticulosa. A forma como o autor explora os vários temas e factos está bem conseguida, principalmente porque consegue ir explicando e aprofundando alguns conhecimentos necessários a uma melhor compreensão e que o leitor poderá não ter.

Tendo já lido outros livros que roçaram este tema, mas que nunca o aprofundaram como este, é impossível não afirmar que aprendi bastante com este livro, principalmente porque não há muita investigação sobre estes temas. A escrita é acessível e o livro está bem estruturado, sendo fácil ir percebendo o próprio desenrolar da investigação e os factos de forma cronológica. Sobre a investigação em si não vou revelar nada, mas vale a pena ler. Se procuram um livro dentro deste género e se a sinopse vos deu interesse, então vale a pena ler estas páginas e saber um pouco mais sobre como alguns negócios são feitos em Portugal.

Luís Pinto