sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O JOGO DE RIPPER


Autor: Isabel Allende

Título original: El juego de Ripper



Sinopse: Indiana e Amanda Jackson sempre se apoiaram uma à outra. No entanto, mãe e filha não poderiam ser mais diferentes. Indiana, uma bela terapeuta holística, valoriza a bondade e a liberdade de espírito. Há muito divorciada do pai de Amanda, resiste a comprometer-se em definitivo com qualquer um dos homens que a deseja: Alan, membro de uma família da elite de São Francisco, e Ryan, um enigmático ex-navy seal marcado pelos horrores da guerra.
Enquanto a mãe vê sempre o melhor nas pessoas, Amanda sente-se fascinada pelo lado obscuro da natureza humana. Brilhante e introvertida, a jovem é uma investigadora nata, viciada em livros policiais e em Ripper, um jogo de mistério online em que ela participa com outros adolescentes espalhados pelo mundo e com o avô, com quem mantém uma relação de estreita cumplicidade. Quando uma série de crimes ocorre em São Francisco, os membros de Ripper encontram terreno para saírem das investigações virtuais, descobrindo, bem antes da polícia, a existência de uma ligação entre os crimes. No momento em que Indiana desaparece, o caso torna-se pessoal, e Amanda tentará deslindar o mistério antes que seja demasiado tarde.



Este não é um livro que um início fácil. Allende começa com uma narrativa lenta, dando espaço a descrições e à introdução de várias personagens, e que pode desmoralizar o leitor que procura um thriller rápido. Aqui Allende dá destaque ao detalhe e apenas na segunda metade do livro percebemos o porquê de o enredo demorar tanto a arrancar.

Apesar de ser um thriller onde o objetivo do leitor, e também das personagens principais, é descobrir o assassino, a verdade é que a qualidade desta obra está nas personagens. Umas oferecem qualidade ao livro pela sua profundidade, outros pela superficialidade que a autora consegue criar de forma inteligente. E assim, este é um livro que se centra nas suas personagens, no seu passado, na forma como interagem entre si e como olham de forma diferente para um mesmo problema. Todavia, tal facto cria uma sensação estranha porque estando a ler um thriller, pensamos que a atenção deveria estar centrada na investigação, mas aqui isso é secundário na primeira metade do livro, pois o ideal é conhecermos o elenco deste livro.

Na segunda parte do livro a investigação ganha força, apesar de ser nas personagens que Allende sustenta o seu enredo, e nota-se que existe uma mestria nessa investigação, onde em vários momentos a autora consegue não revelar algo para depois nos surpreender. Isto é notório apenas no fim do livro quando vemos que certos fatos que deveriam ser óbvios, nunca foram revelados pela autora, e esses detalhes podem fazer a diferença, e assim, aquilo que foi suposto e parecia garantido, na realidade não o é.

Tentando não revelar nada sobre a história, existem alguns momentos surpreendentes, outros que parecem forçados, e um final que agradará à grande maioria dos leitores. No entanto Allende escreve um thriller que saí da base do género para criar algo sustentado nas personagens e no que as move e as torna humanas, quase reais. Pelo meio existe um foco especial para a forma como comunicamos num mundo onde atualmente qualquer distância é pequena e a informação corre a uma velocidade que não conseguimos acompanhar. 

Resumindo, e sem revelar nada, o final é bastante bom e torna o livro melhor. O início lento e detalhado demonstra que Allende é uma grande escritora que não se limita a escrever algo rápido e direto até ao fim. Estranha-se ler um thriller assim, podem até perder a vontade nas primeiras páginas, mas a última metade irá compensar o leitor que lá chegar. Eu não adivinhei o final e essa sensação é sempre muito boa! Recomendado, não por ser um grande thriller de ação frenética e constante, mas porque é um livro com muita qualidade e demonstra o quanto Allende é uma excelente contadora de histórias.  

Luís Pinto

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Novidade: Novo livro de Richard Zimler

A Sétima Porta, de Richard Zimler

Nova edição de um dos grandes romances do autor americano radicado em Portugal.

Depois de A Sentinela e O Último Cabalista de Lisboa, a Porto Editora publica, a 7 de março, A Sétima Porta, um dos quatro romances de Richard Zimler inspirados nos manuscritos do cabalista Berequias Zarco que o autor encontrou em Istambul.

Com a Alemanha dos anos 30 como pano de fundo, a história deste livro é protagonizada por Sophie Riedesel, uma jovem ariana, católica e com um forte carácter. À sua volta, encontramos diversas personagens, umas mais caricatas, outras mais frágeis, e ainda as que, a seu tempo, serão consideradas de “raça impura”. Com a ascensão de Hitler ao poder, ela vai lutar contra a perseguição de que os seus amigos e família são vítimas e revoltar-se contra os que, sem força, se juntam ao regime.

SINOPSE

Em 1990, Richard Zimler encontrou, numa cave de Istambul, sete manuscritos do século XVI escritos pelo cabalista Berequias Zarco. Um deles narrava o pogrom de Lisboa e o autor utilizou-o para cenário do seu livro O Último Cabalista de Lisboa. Mas, o que revelavam os outros seis manuscritos?
Em Berlim, na década de trinta, Isaac, um descendente de Berequias Zarco e detentor dos manuscritos, está determinado a descobri-lo. Convencido de que o pacto entre Hitler e Estaline anuncia uma profecia apocalíptica prestes a concretizar-se, Isaac Zarco procura arduamente descodificar aqueles textos cabalísticos medievais para assim salvar o mundo.
Passado durante a ascensão de Hitler ao poder, e coincidente com o período da perseguição nazi aos portadores de malformações físicas, A Sétima Porta junta Sophie Riedesel – uma jovem ousada, sonhadora e ambiciosa – a um grupo clandestino de ativistas judeus e antigos artistas de circo liderado por Isaac Zarco, numa luta contra as políticas antissemitas. Mas quando uma série de esterilizações forçadas, estranhos crimes e deportações dizimam o grupo, Sophie ergue-se num combate solitário contra aqueles que ameaçam destruir tudo o que ela mais ama na vida.
Um romance emocionante carregado de simbolismo e uma verdadeira lição de História e de humanidade sobre as muitas vítimas sem rosto de um dos regimes mais implacáveis de todos os tempos.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A QUEDA DE ARTUR


Autor: J. R. R. Tolkien

Título original: The Fall of Arthur



Não existe nenhum livro de Tolkien onde a sua genialidade não se sinta. Neste caso, estas quase 250 páginas, com a versão original e a traduzida, são uma obra de arte de Tolkien ao pegar na lenda de Artur e a tornar numa poesia que consegue ser, ao mesmo tempo, vibrante e calma.

Não sendo grande apreciador de poesia, nem grande conhecedor do género, este não foi um livro fácil de ler, sendo recomendado a quem gostar do género ou esteja curioso para ver como Tolkien sai do seu mundo de fantasia para moldar à sua imaginação a lenda do Rei Artur.

O enredo está perto do que conhecemos, mas Tolkien oferece-lhe um toque épico que o torna único, um ambiente fantástico, tantas vezes presente nas suas outras obras, e que torna esta leitura portentosa. No entanto, esta leitura leva tempo a quem não esteja habituado a poesia. No meu caso, foi uma leitura agradável, apesar de lenta, e devo enaltecer a qualidade da tradução, que, certamente, não foi fácil. Todavia, é no inglês que está a magnífica obra que Tolkien começou e infelizmente não terminou. Não sendo um conhecedor profundo de inglês antigo para perceber todos os significados sem ter de pesquisar na internet, a verdade é que é notório a mestria de Tolkien no domínio da língua e na forma como consegue produzir uma sonoridade que até eu, um português, conseguiu sentir ao ler alguns versos.

De enaltecer ainda todo o texto criado pelo seu filho, Chris Tolkien, para nos explicar muito do que Tolkien fez, como este livro foi reorganizado e possíveis explicações para vários factos sobre o livro, sendo um deles a necessidade de tentar perceber o porquê de Tolkien nunca ter acabado este livro.

Sempre gostei bastante da lenda do Rei Artur e foi um prazer lê-la desta forma. Provavelmente, sendo poesia, não o teria feito se não fosse obra de Tolkien, mas valeu a pena. Mas, tal como disse antes, não é um livro que recomende a todos os leitores. Com Artur e Mordred bem recriados, Tolkien centra-se no enredo que é suportado por estas duas personagens e sua rivalidade. Pelo meio, tal como um grande poema épico, Tolkien descreve cenários com uma paixão que se sente, e novamente dou os parabéns à tradução que na maioria dos casos consegue transmitir essa emoção que, certamente, Tolkien gostaria que todos os leitores sentissem.

Tolkien foi um daqueles génios que quando nos deixou, o mundo ficou mais pobre. A sua genialidade é tão palpável que torna a sua obra obrigatória, mesmo para quem não aprecie fantasia. Neste caso, Tolkien está fora do mundo que criou mas conseguiu agarrar-me, mesmo conhecendo a história. Não é um livro fácil, nem é para todos, mas a sua qualidade é inegável.  

Luís Pinto

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

VIDA ROUBADA


 Autor: Adam Johnson

Título original: The Orphan Master's Son



Sinopse: Vida Roubada segue a vida de Pak Jun Do, um jovem no país com a ditadura mais sombria do mundo: a Coreia do Norte.
Jun Do é o filho atormentado de uma cantora misteriosa e de um pai dominante que gere um orfanato. É nesse orfanato que tem as suas primeiras experiências de poder, escolhendo os órfãos que comem primeiro e os que são enviados para trabalhos forçados. Reconhecido pela sua lealdade, Jun Do inicia a ascensão na hierarquia do Estado e envereda por uma estrada da qual não terá retorno. Considerando-se “um cidadão humilde da maior nação do mundo”, Jun Do torna-se raptor profissional e terá de resistir à violência arbitrária dos seus líderes para poder sobreviver. Mas é então que, levado ao limite, ousa assumir o papel do maior rival do Querido Líder Kim Jon Il, numa tentativa de salvar a mulher que ama, a lendária atriz Sun Moon.
Em parte thriller, em parte história de amor, Vida Roubada é um retrato cruel de uma Coreia do Norte dominada pela fome, corrupção e violência. Mas onde, estranhamente, também encontramos beleza e amor.



O que é "liberdade"? Um conceito? Um ideal? Um direito? Uma realidade ou uma miragem? Este é um livro sobre a liberdade que alguns nunca terão, simplesmente porque não nasceram no sítio certo. Este é um livro que demonstra, de forma atroz, o quanto estamos cego e a facilidade com que nos esquecemos. Nós vemos, transtornados, o que outros povos sofrem... comentamos, achamos injusto, questionamos como certas coisas ainda podem acontecer no nosso tempo, e depois, esquecemos. Outras pessoas não esquecem, porque vivem nesses locais.

Com uma linguagem que consegue ser, simultaneamente, bela e aterradora, o autor mostra-nos uma realidade inquietante sobre um país que não conhecemos. A forma como a manipulação de massas é feita, é, na realidade, apenas uma parte do problema, e aqui fica bem exposto como se consegue convencer as pessoas, usando uma teia demasiado vasta para ser explicada em poucas palavras. Expondo um pouco esta realidade, o autor cria um livro que vence por ser ambicioso e audaz, enquanto nos envolve num romance que demonstra o poder que o amor tem... capaz de vergar o que parece inquebrável. 

Apresentando-se com uma primeira metade mais próxima da mente do personagem principal, vemos como governo e povo se ajudam, de forma natural e automática, a sustentar esta forma de vida, como se fosse natural, talvez por desconhecimento do que está para lá da fronteira, talvez por resignação, certamente por medo. A nossa personagem principal é mais um dos que vive, sem na realidade viver mais do que o lhe é permitido, e é pelos seus olhos, que lentamente se abrem, que vemos as barreiras levantadas à volta de uma nação, que não deixam espaço para sonhar. 

No entanto, podemos sempre questionar até que ponto certos acontecimentos podem ser reais, mas a forma segura com que Johnson as descreve leva-nos a aceitar a realidade deste livro, porque, aos poucos, tudo faz sentido neste enredo inteligentemente sustentado e coerente. E pelo meio, enquanto nos sentimos rodeados por uma narrativa que vai crescendo de intensidade, quase nos esquecemos que esta obra tem um objetivo que é mais forte do que expor um regime, e esse objetivo é mostrar o melhor e o pior de quem habita o mesmo mundo que nós. E no fim, os dois extremos tocam-se neste enredo, mostrando o ódio e o amor que o ser humano pode sentir, e talvez seja isso que nos faz humanos. 

Adam Johnson criou um dos melhores livros dos últimos anos e os prémios que venceu são a prova. A forma detalhada com que descreve os vários locais e etapas da vida da sua personagem leva-nos a perceber a escala da máquina que controla um país, e, simultaneamente, a enorme discrepância entre os que controlam e os que são controlados, mesmo sem terem essa noção. No início pode existir alguma confusão, devido aos saltos que a narrativa dá entre narradores e espaço temporal, mas a escrita é simples o suficiente para nos canalizar a atenção para o que é importante, e a partir do momento que nos agarra, é difícil resistir a este livro que deve ser lido.

Tentando não falar nem uma linha sobre a história, pois este é um enredo que deve ser lido sem qualquer revelação, tudo o que eu possa enumerar não é mais do que pequenos detalhes num livro que respira qualidade em todas as suas páginas. Ainda é cedo para dizer se será o melhor livro de 2014 lido por mim, mas será, certamente, um dos melhores do ano. Vencedor do Prémio Pulitzer em 2013, este livro é mesmo muito bom. Inteligente, forte, marcante, revelador... totalmente recomendado.

Luís Pinto

Podem saber mais sobre o livro no site da editora, aqui.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Novidade: Isabel Allende - novo romance


A 21 de fevereiro, chega às livrarias portuguesas O Jogo de Ripper, o
novo e muitíssimo aguardado romance de Isabel Allende. 

A chilena é uma das escritoras mais populares do mundo, tendo já ultrapassado os 60 milhões de livros vendidos.
Autora de êxitos incontornáveis, como A casa dos espíritos, Eva Luna e Paula, Isabel Allende oferece aos leitores o primeiro policial da carreira. O sucessor de O Caderno de Maya é um romance surpreendente, narrado com a prosa única que deu fama a Isabel Allende.

O JOGO DE RIPPER

Indiana e Amanda Jackson sempre se apoiaram uma à outra. No entanto, mãe e filha não poderiam ser mais diferentes. Indiana, uma bela terapeuta holística, valoriza a bondade e a liberdade de espírito. Há muito divorciada do pai de Amanda, resiste a comprometer-se em definitivo com qualquer um dos homens que a deseja: Alan, membro de uma família da elite de São Francisco, e Ryan, um enigmático ex-navy seal marcado pelos horrores da guerra.
Enquanto a mãe vê sempre o melhor nas pessoas, Amanda sente-se fascinada pelo lado obscuro da natureza humana. Brilhante e introvertida, a jovem é uma investigadora nata, viciada em livros policiais e em Ripper, um jogo de mistério online em que ela participa com outros adolescentes espalhados pelo mundo e com o avô, com quem mantém uma relação de estreita cumplicidade. Quando uma série de crimes ocorre em São Francisco, os membros de Ripper encontram terreno para saírem das investigações virtuais, descobrindo, bem antes da polícia, a existência de uma ligação entre os crimes. No momento em que Indiana desaparece, o caso torna-se pessoal, e Amanda tentará deslindar o mistério antes que
seja demasiado tarde.
 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O JOGO


Autor: Anders de la Motte

Título original: Geim


Este livro começa de forma rápida, indo direto ao que será o tema base do livro: um rapaz encontra um telemóvel que lhe pergunta se quer jogar um jogo. Este jogo tornar-se-á perigoso e descontrolado, levando o jogador e o leitor num ritmo alucinante até ao final.

As duas personagens principais, HP (o jogador) e Rebecca, não são personagens com as quais tenha simpatizado no início, mas no fim percebemos que a forma como o autor as criou está bem pensada e encaixa no que o enredo precisava. A isto junta-se o grande trunfo do livro, que é o ritmo. Aqui o autor, que ganhou com este livro o prémio de Melhor Livro pela Academia Sueca de Escritores, usa um ritmo sempre elevado, sem grande tempo para descrições desnecessárias, pois aqui todas as palavras do autor servem para desenvolver personagens e enredo. E assim, com este ritmo elevado e uma ideia base interessante, o livro agarra-nos com facilidade, principalmente porque queremos saber qual é o objetivo de quem criou o jogo.

Fazendo parte de um trilogia, o livro teria de nos deixar suspensos no enredo, e consegue-o. Fiquei com bastante vontade de ler os próximos e espero que o autor mantenha o ritmo neste nível, porque é a sua escrita simples e direta que me fez continuar facilmente. No entanto, este ritmo elevado, graças a descrições mais rápidas e objetivas, também leva ao pior que este livro tem, e que são as coincidências. Existe uma grande parte do enredo, tanto no que acontece como nas decisões das personagens, que tornam o livro forçado. São vários decisões tomadas e que o autor não explora o porquê de as terem feito. A isto juntam-se os acontecimentos que parecem forçados, levando-nos até ao final sem questionar nada. Este facto no entanto pode ser atenuado nos próximos livros, onde o autor terá de explicar o porquê de vários acontecimentos que claramente nos levam até a este final de primeiro livro e que apresenta boas reviravoltas.

Destaque ainda para as personagens secundárias, que aqui apresentam boa qualidade, com momentos interessantes e coerência fácil de se identificar tendo em conta que estamos perante um livro tão rápido. O enredo é o principal deste livro, porque nos mantém em constante suspense, mas como disse antes, parece forçado e precisa de explicações nos livros futuros. Todavia, este é um livro que os fãs do género irão gostar bastante e que irão ler à velocidade da luz. Pelo meio algumas decisões complicadas para as personagens, algumas reviravoltas inesperadas e um final que abre muitas portas para o futuro da saga.

Sendo um livro agradável, não estamos perante uma obra prima nem algo revolucionário, mas também não é o que os leitores costumam procurar neste género. Queremos divertimento e um livro que nos vicie. Se gostam do género e de uma leitura de ritmo elevado, este livro é uma boa escolha, mostrando o porquê de ter ganho os prémios que ganhou.  

Luís Pinto

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A COMPANHIA DO DIABO


Autor: David Liss

Título original: The Devil's Company


Sinopse: 1722, Londres. Benjamin Weaver, judeu português, espadachim destemido, antigo pugilista e mestre do disfarce, vê-se aprisionado num jogo mortífero contra uma das figuras mais enigmáticas do seu tempo: Jerome Cobb. Chantageado a roubar documentos com segredos valiosos da poderosa Companhia Britânica das Índia Orientais, cedo Benjamin se apercebe que esse roubo é apenas o primeiro passo numa audaciosa conspiração. Para salvar os seus amigos das garras de Cobb, Benjamin terá de infiltrar a Companhia, manipular vários dos seus mais influentes membros e desvendar uma trama secreta que envolve rivais, espiões estrangeiros e oficiais do governo. Com milhões de libras e a segurança da nação em jogo, Benjamin enfrentará conspirações secretas, inimigos formidáveis e aliados inesperados. Numa pesquisa história escrupulosa de David Liss, A Companhia do Diabo retrata o nascimento das corporações modernas, numa narrativa de grande suspense.


Sendo o 3º livro desta saga, acreditei que sentisse uma falha de conhecimento por não ter lido os dois anteriores, no entanto, sendo todos eles livros independentes, não existe uma necessidade de ler os livros anteriores nem pela ordem cronológica. É claro que se tivesse lido os anteriores o meu conhecimento sobre as personagens seria maior, mas o autor, durante o enredo, revela o que é importante saber-se sobre o passado das personagens, principalmente de Weaver, personagem principal. 

Em primeiro lugar devo salientar o detalhe que o autor oferece com a sua escrita, sendo fácil perceber a investigação histórica feita para a criação deste livro. Existe detalhes a cada instante, quer seja sobre política, religião ou outros temas que o autor consegue encaixar muito bem na época do romance. É fácil visualizar alguns detalhes, quer seja uma simples rua de uma cidade ou a complexa rede política que move este livro.

Outro ponto de grande qualidade nesta obra é a forma como o autor se liga ao leitor. São várias as vezes em que Liss nos escreve como se fosse um amigo nosso a contar-nos a história, criando uma ligação entre o leitor e a personagem principal. Esta ligação é bastante importante neste livro, pois sendo um personagem que passa por momentos de perigo, preocupamo-nos com a mesma, apesar de ser quase óbvio que no fim se irá salvar. Todavia, não é neste suspense que a qualidade do livro se sustenta, mas sim na conspiração, complexa e imprevisível, que este enredo apresenta. Neste aspeto, e uma vez mais, nota-se o conhecimento histórico do autor para criar esta rede de conspirações, interesses e manipulação política, económica e religiosa. Dentro deste tema é preciso salientar a parte económica, com o autor a explorar o conceito de empresas/corporações usadas naquela época com um grande detalhe.   

Este é um dos melhores romances históricos que li nos últimos anos. É divertido, cheio de humor negro, com um enredo complexo, surpreendente, e que é, principalmente, inteligente. Este é um autor para voltar a ler, foi uma das maiores surpresas que tive nos últimos tempos, e aplaudo a forma como me surpreendeu no fim e misturou vários temas, tornando a história sólida e coerente. No fim fica a sensação que este enredo tornar-se-á ainda melhor quando ler os dois livros anteriores, e é o que vou fazer.

Luís Pinto


Podem ler mais sobre o livro no seu espaço no site da editora, aqui.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A RAPARIGA QUE ROUBAVA LIVROS


Autor: Markus Zusak

Título original: The Book Thief


Um livro durante a 2ª Guerra Mundial onde o narrador é a Morte...tal ideia base foi o suficiente para me deixar curioso, no entanto apenas agora, com o lançar do filme, é que li este livro, um verdadeiro sucesso por onde quer que passe.

Ter um livro onde o enredo, passado na 2ª Guerra Mundial, é narrado pela Morte, é algo diferente, e neste caso, que vale a pena ser lido. Esta é uma obra, que apesar de não ser tão marcante quando "A Lista de Schindler" ou "O Pianista", a verdade é que estamos perante um excelente livro, que mesmo não tocando de forma tão brutal o que aconteceu neste momento da história da humanidade, consegue arrepiar o leitor e tornar a leitura emotiva.  

A grande diferença esta no facto e a grande maioria dos grandes livros sobre esta época serem o ponto de vista de judeus ou de alemães que se transformam em pessoas melhores enquanto vêem as atrocidades que os rodeiam. Aqui temos o olhar de uma criança, criada na Alemanha, e à qual é incutida a mentalidade de Hitler, mas que a enfrenta, pensando por si. Este é um dos pontos que mais gostei nesta leitura: vermos como o povo era manipulado, desde pequenos, para acreditarem numa ideia base que empurrava o país para a guerra e inevitável glória, segundo a propaganda. Vemos como vizinhos, pais e professores explicam aos filhos o porquê do que está a acontecer e do orgulho que devem sentir, enquanto do outro lado temos a nossa personagem principal, uma rapariga ensinada a pensar por si, capaz de perceber o que a rodeia.

Os livros sempre foram fonte de cultura, e este romance é sobre essa singular capacidade que um livro tem de nos ensinar, de passar pensamentos, experiências de vida ou filosofias, ou então, e talvez o mais importante... um livro tem uma capacidade, deveras singular, de nos fazer sonhar. Leva-nos num mundo diferente, catalisa a nossa imaginação, leva-nos a acreditar em algo melhor. E num momento de guerra, todos devem sonhar com algo melhor, com a passagem daquele tempo sombrio em que homens esquecem os seus valores e desperdiçam as vidas que povoam os nossos países, retirando o valor ao que deveria ser essencial.

Este é um livro repleto de esperança, de sorrisos, e do olhar de uma criança na qual cresce uma bondade que o mundo esqueceu. É este contraste que marca o enredo tal como o queimar dos livros marca esta criança. Entre linhas, a Morte narra com subtileza, até com desilusão pelo que a humanidade está a fazer. A personalidade que o autor dá à Morte oferece qualidade ao livro e leva-nos a gostar daquela criança que rouba livro, mas que na realidade recolhe conhecimento e esperança em cada página.

No global, o que temos nestas palavras é um livro que tenta mostrar o brilho na mais negra das épocas, e com a dor e esperança nos comovemos e continuamos a ler, porque a esperança desta rapariga é a nossa esperança enquanto leitores. O final, marcante, demonstra uma das lições mais importantes que podemos aprender na vida, e que aqui não irei revelar. Cabe a cada leitor não deixar escapar este livro, porque aqui está o melhor e o pior que a humanidade é capaz de fazer, e todos nós devemos saber o que isso é.

Luís Pinto 

  Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A ÁGUIA E OS LOBOS


Autor: Simon Scarrow

Título original: The Eagle and the Wolves


Este é o 4º livro desta saga e é o melhor até agora por diversas razões. Começando pelo ritmo, o autor acelera em alguns momentos tornando o enredo mais objetivo. Scarrow é um autor que consegue criar bons diálogos, um bom enredo, mas o seu forte foi sempre as batalhas e a forma como as descreve, e por isso, muitas vezes o melhor do livro estava nos momentos mais lentos, em que o autor nos leva a visualizar os pormenores das batalhas e o medo ou coragem dos soldados.

Agora, Scarrow consegue dinamizar o enredo e torna-o no ponto mais alto do livro, talvez porque também foge um pouco à fórmula base usada nos livros anteriores, causando alguma surpresa em certos momentos, mas principalmente porque se afasta ligeiramente dos olhos de Macro e Cato par nos dar um ponto de vista mais global das conquistas romanas. Graças a este aspeto, o livro parece ser o ponto de viragem da saga. Se antes toda a narrativa nos dava a ideia que os romanos eram os bons, e o povo conquistado os maus, agora a narrativa leva-nos ao outro lado, e apesar de continuarmos a simpatizar com os dois romanos principais, a verdade é que se começa a adensar a imagem negra deste império e se começa a desvendar que o que está para lá de Roma não é tão bárbaro como a propaganda tenta transmitir. Claro está que esta imagem nós já a tínhamos enquanto leitores, mas agora recebemos essa noção porque os personagens também a recebem.

Este é, também, o livro mais sangrento da saga até agora, com as batalhas a ganharem outra dimensão e com o autor a ser mais duro nas suas descrições, tentando transmitir ao leitor a perda que existe em cada batalha. Pelo meio está o peso das decisões, muitas vezes tomadas por quem não participa nas batalhas, ficando a ver de longe, protegido, planeando os próximos passos independentemente das perdas.

E é essa a realidade da guerra: os soldados lutam muitas vezes por algo em que acreditam, mas nunca tomam as decisões. E no final, para quê? Pela glória? Pela riqueza de outros? Pela fé? Com um final inesperado, Simon Scarrow prepara o seu próximo livro e está construída uma base de sub-enredos que poderá dar muita qualidade à continuação da saga. Para tal, muito contribui o aprofundar de personagens fora do exército romano, que nos mostram tradições e diferentes formas de pensar, ajudando a que o livro não nos guie sempre na mesma linha de pensamento.

Tentando não revelar nada a quem ainda não tenha chegado a este livro, devo concluir esta crítica dizendo que este livro poderá não ser o favorito dos fãs, mas é o mais consistente, melhor estruturado e que abre um leque de possibilidades futuras. Os fãs irão gostar e de certeza que saltarão já para o próximo livro, tal como eu vou fazer.

Luís Pinto

Mais informação sobre o livro na sua página, aqui.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Passatempo: A rapariga que roubava livros - vencedor

PASSATEMPO

A rapariga que roubava livros

Vencedor!

Chegou ao fim mais um passatempo em parceria com a Editorial Presença. A todos os que participaram, agradecemos e desejamos melhor sorte para a próxima!


Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

E o vencedor é:

 Catarina Susana Gonçalves Pereira

Parabéns à vencedora! 

Estejam atentos aos próximos passatempos!


domingo, 2 de fevereiro de 2014

REGRESSO AO FUTURO III


Autor: Craig Shaw Gardner

Título original: Back to the Future III



O 3º e último livro desta saga continua rápido, divertido e simples. Novamente, tal como acontece nos livros anteriores, o livro consegue oferecer mais do que o filme, tanto no enredo como na construção das personagens, aproveitando a sua maior duração em relação ao filme que conhecemos. 

Marty viaja no tempo uma vez mais, e com a complexidade a aumentar, também os erros aumentam. Tal como indiquei no livro anterior, o facto de ter visto estes filmes há muitos anos dá-me a oportunidade de conhecer os seus erros e perceber que alguns foram suavizados nestes livros, mas claro que para não fugir ao enredo principal, os erros sobre as viagens no tempo estão presentes.

Todavia, a diversão que é este livro continua inalterada e quem nunca tiver visto os filmes tem aqui uma trilogia que se lê rapidamente e com grande facilidade. As personagens continuam bem conseguidas nesta adaptação, novamente com destaque para uma maior profundidade nas personagens secundárias que pouco aparecem no filme, e o ritmo continua alto, levando o leitor a continuar. No meu caso, mesmo conhecendo toda a história, a leitura nunca foi difícil. 

Em relação aos anteriores livros nota-se que o autor tenta explicar alguns motivos das ações das personagens, levando-nos a conhecê-las melhor, talvez para percebermos o que as levou até este fim desta saga onde muitas decisões são tomadas e algumas não são fáceis. Pelo meio o enredo leva as personagens a questionarem-se sobre temas do universo, as forças que conseguimos estudar e ainda aquela força que ninguém consegue decifrar: o amor. 

O que poderia dizer sobre esta saga está nas análises aos seus três livros. No meu caso a leitura foi feita com um sorriso nos lábios pois revivi grandes momentos, recordei cenas que vi na juventude e diverti-me bastante. Nenhum destes livros é uma obra prima mas aconselho a todos os que não conheçam os filmes ou que se queiram iniciar na ficção científica com livros mais leves. Para os fãs dos filmes será sempre uma leitura interessante se quiserem ver o enredo e personagens mais explorados. Dentro dos filmes que passaram a livro, esta saga é das melhores adaptações que já li e foi uma agradável surpresa.

Luís Pinto