terça-feira, 30 de agosto de 2011

O MAGO - Espinho de Prata

Autor:   Raymond E. Feist           

Título original: Silverthorn

Na minha opinião aos dois livros anteriores desta saga, usei a palavra “Obrigatório”, não só porque preenchia o essencial para ser obra-prima do género como também era viciante ao ponto de o lermos de seguida e nos dar prazer ao fazê-lo. Com esta continuação levantei algumas dúvidas sobre o caminho que Feist poderia dar à saga mas não fiquei desiludido agora que o acabei, principalmente porque existe uma boa ligação com a história dos primeiros. Esta surpresa deve-se essencialmente ao facto de no fim de “O Mago – Mestre” ficar a sensação de que a história acaba, ficando apenas as personagens para em novos livros apresentarem novas histórias. Contudo a ligação é forte o suficiente para Espinho de Prata ser considerado uma verdadeira continuação. Esta ligação é um dos pontos fortes para quem gostou dos livros anteriores, como eu.
No entanto os desenvolvimentos calmos e pacíficos do início deste livro levam-nos para uma história mais negra, menos épica, sem a guerra generalizada dos livros anteriores mas com mais acção. É esta quantidade de acção que me fez ler o livro numa semana, quase sem parar. O ritmo que Feist dá a este livro é elevadíssimo, sem a necessidade de explicar ou apresentar personagens e mundos, como nos livros anteriores, Feist coloca a sua escrita simples numa história que não tem quebras de ritmo, e o resultado é um conjunto de 400 páginas incrivelmente viciantes onde um pequeno grupo de personagens se faz secretamente ao caminho, na busca de conhecimento e salvação, nos territórios inimigos. O facto de as personagens serem bastante bem conseguidas sem terem a complexidade de outras sagas, também ajuda a esse ritmo sempre elevado.
É bom matar saudades de algumas personagens, os fãs de Arutha ficarão bastante satisfeitos por este se tornar a personagens principal, mas é em Jimmy que está a grande surpresa nas personagens que se desenvolvem, tornando-se até o motor de desenvolvimento da história em certos momentos enquanto noutros se encarrega de nos obrigar a um sorriso com as suas piadas que ajudam a desanuviar. Já Tomas e Pug, personagens principais nos livros anteriores, perdem esse protagonismo para Arutha e Jimmy, mas não deixam de aparecer. Tomas aparece realmente muito pouco, com poucos momentos para recordarmos a sua personalidade, mas o seu “poder” está presente em vários momentos, não nos deixando esquecer das capacidades do poderoso guerreiro. Pug, por seu lado, tem direito a alguns capítulos centrados em si, e adianto já que são os melhores momentos deste livro. Muito dificilmente este livro seria tão viciante se não tivesse Pug a explorar a verdadeira natureza da magia que Feist implementou na sua saga. É na minha opinião o ponto mais alto do livro, com diálogos e acções bem construídas, aumentando o nosso conhecimento sobre o mundo mágico que Feist criou. São aliás, os capítulos de Pug que fazem esta história crescer para uma maturidade bem conseguida.
De realçar ainda que Feist começa e acaba o livro com dois capítulos muito interessantes, e numa história onde dezenas de perguntas se levantam e poucas são respondidas, a escada está lançada para a continuação da saga no último livro que está quase a sair.
Resumindo, este livro não é um livro que marca um género, como os dois anteriores fizeram, mas é uma boa continuação, extremamente viciante e que dá a ideia de servir como rampa de lançamento para o próximo livro que muitos dizem ser um final de saga fantástico. Um livro impossível de perder, principalmente pelos fãs de fantasia e da saga.
Aproveito ainda para elogiar a editora por dois motivos: o primeiro pelo excelente trabalho, na minha opinião, das capas desta saga, simples, coerentes e que chamam a atenção. O segundo agradecimento para a editora por ter arriscado em editar esta saga, quando nenhuma outra o fez. Esperei muitos anos pela edição no nosso país de dois livros, O Mago e Duna, e esta foi a única editora que arriscou em trazer para a nossa língua estes dois livros tão aclamados pelas críticas internacionais.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

PASSATEMPO "A Dança dos Dragões"

O Blog Ler y Criticar em parceria com a editora Saída de Emergência dão-te a oportunidade de ganhar 2 exemplares do livro do ano!

Para te habilitares a ganhar basta leres a amostra do livro que disponibilizamos neste link e responder correctamente às nossas cinco perguntas. 

 Para evitar qualquer tipo de roubo de respostas ou erros a submeter as mesmas, pedimos que as enviem para o nosso mail: lerycriticar@gmail.com com as respostas devidamente numeradas, nome e morada. Boa sorte e boas leituras!

Perguntas:

1: Quem consegue submeter à sua vontade qualquer animal e tornar sua a sua carne?
2: Não sabendo o destino da sua viagem, Tyrion preferia ir para onde?
3: Qual a frase que Tyrion recorda como uma das últimas que o seu pai disse?
4: Onde foi treinada a rapariga que Illyrio enviou a Tyrion?
5: Illyrio e Tyrion falam de um salvador vindo do outro lado do mar. De quem se trata?



Condições do passatempo: 

O Passatempo termina às 00:00 de 31 de Agosto.
A Editora Saída de Emergência sorteará os dois vencedores entre os participantes com respostas correctas
O envio dos exemplares é da responsabilidade da editora (correio registado)
Em caso da improvável ruptura de stock os vencedores deverão escolher outro livro do catálogo da editora
Só serão aceites participações de Portugal (continente e ilhas)
Só será aceite uma participação por pessoa
A Editora não se responsabiliza por extravio dos CTT, moradas incorrectas ou envios não reclamados


PARTICIPEM E GANHEM ESTE MAGNÍFICO LIVRO PELO QUAL TODOS ESPERAM!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O TERROR - vol.1 de 2

Autor: Dan Simmons                    

Título original: The Terror

Sinopse: Na primavera de 1845, Sir John Franklin comanda uma expedição de dois navios e 130 homens numa viagem arrojada para o distante e desconhecido Árctico. O seu objectivo: encontrar e mapear a lendária Passagem do Noroeste que, supostamente, ligará os oceanos Atlântico e Pacífico. Dois anos depois, a expedição, que começou sob um espírito de optimismo e confiança, enfrenta o desastre. Franklin está morto. Os dois navios (o Erebus e o Terror) estão fatalmente presos nas garras do gelo. As rações e o carvão escasseiam e os homens, mal preparados, lutam diariamente para sobreviver ao frio letal. Mas o seu verdadeiro inimigo é bem mais aterrorizador. Existe algo à espreita nas trevas glaciais: um predador oculto que captura marinheiros e abandona os seus corpos na vastidão de gelo...

Quando peguei neste livro voltei a reparar que na sua capa estava escrito “Baseado numa história verídica.” Este tipo de histórias sempre me deixou algo apreensivo visto que por vezes o resultado é muito bom, outras vezes desastrosos. Não basta ter uma boa história de base, é preciso percebê-la e criar então algo novo que se destaque. Dan Simmons detém um número significativo de prémios importantes e nomeações para olharmos a sua obra e sabermos que tem qualidade, mas conseguiria ele viciar-me nas suas quase 800 páginas (soma do volume 1 e 2)? Teria Simmons um livro interessante ao ponto de me fazer ler tantas páginas quando a acção do livro se passa sempre no mesmo local?
Na minha modesta opinião, quando um escritor começa um livro que tem como base uma história verídica, grande parte do trabalho está feito à partida: o tema base, o ambiente que envolve a história, as personagens são por vezes históricas, com personalidades e experiências de vida bem delineadas. Por outro lado tal livro necessita sempre de um grande trabalho de investigação sobre cada linha que se escreve, e nesse ponto Simmons fez um grande trabalho ao contrário de muitos outros escritores que pegam numa história, “metem” uma quantidade de magia e monstros e acham que chega. Simmons tem um conhecimento profundo da história, do ambiente e mentalidades, e da arte da navegação, conhecimentos meteorológicos, do próprio gelo, sobrevivência em condições de enorme frio e até construção de barcos. No mínimo senti que se tratava de um verdadeiro conhecedor a falar sobre a sua arte, Simmons está de parabéns.
Simmons escreve palavras fáceis que empolgam à leitura e este aspecto para mim é importantíssimo: sendo este um livro de Terror, penso que uma escrita fácil e apelativa é sempre mais eficaz para criar o ambiente pretendido, pois na minha opinião uma escrita muito complexa e elaborada deixa para trás essa sensação de medo a meio da frase. O autor cria um livro que imediatamente agarra, pois a cada capítulo saltamos cronologicamente entre o Passado e o Presente, e se no Presente começamos a perceber que algo está mal, é no Passado que o vamos perceber. Neste aspecto muito jeito me deu o mapa da viagem, com as suas datas e percursos. De realçar ainda a mistura de capítulos que relatam a acção normal dos acontecimentos com outros capítulos que se apresentam em forma de diário de um tripulante. Uma mistura agradável que ajuda a desanuviar graças a dois tipos de escrita que se mostram bem diferentes.
Simmons consegue realmente agarrar-nos com o seu ambiente, com o instinto de sobrevivência das suas personagens, com o limite que qualquer um de nós alcançaria para viver, e é esse ponto de desespero que eleva a história, o querer sobreviver. Infelizmente achei que algumas personagens foram pouco desenvolvidas. Simmons concentra-se essencialmente na acção, na dúvida e suspense que nos tenta transmitir e apesar de ter boas personagens penso que as podia explorar mais. Mas como apenas li o primeiro volume de dois ainda é cedo parar retirar qualquer tipo de opinião sobre se será bom ou mau o pouco desvendar das personagens, ou mesmo se tal irá mudar ou se fará parte do próprio suspense.
Sem falar muito da história devo dizer que até agora me agradou. Simmons começa por nada desvendar nas primeiras páginas, mas o leitor percebe que algo não está bem. Nas últimas páginas deste livro muito é revelado e tal facto levantou-me a questão de que talvez estas revelações sejam o início de um novo ritmo para o próximo livro.
Como estou a meio é difícil dizer que Simmons criou um livro que considere realmente bom, mas o facto é inquestionável para quem apenas leu metade da história: Simmons tem um trabalho muito bem conseguido na investigação de detalhes preciosos, criou uma fantasia que para mim (para já) se enquadra na perfeição com a história verídica que tem como base e agora apenas espero que as personagens se desenvolvam. Talvez o crescente medo em cada uma delas sejam o necessário para conhecermos mais profundamente estes marinheiros, em especial Crozier que considero até agora a melhor personagem.
Darei uma opinião mais objectiva quando acabar de ler o volume dois e consequente fim da história, e acreditem que não demorarei muito a fazê-lo, pois realmente foi um livro que apreciei pela qualidade.
Uma última palavra para a editora que nos oferece uma capa muito bem conseguida, muito diferente de qualquer outra que tenha visto.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A GLÓRIA DOS TRAIDORES

Autor: George R. R, Martin                       

Título original: A Storm of Swords

Após acabar o 5º livro (primeiro volume do 3º livro na versão original) comecei este cheio de expectativas visto que Martin tem deixado sempre o melhor para o fim. Mas conseguiria este 6º livro ser melhor que o anterior? Conseguiria ser tão bem construído e consistente? A resposta é “sim”.
Martin consegue neste livro um efeito em mim que não esperava alcançar a meio de uma saga, porque se este é o fim do 3º livro e possivelmente serão 7, então ainda nem a meio vou! Mas já voltamos a este assunto, primeiro vamos ao porquê de o livro ser realmente tão bom, e o preferido da grande maioria das pessoas que lê esta saga.
Na minha opinião, até ao livro anterior, esta saga tinha sido sobre personagens. Apesar de a história ser muito boa, o que marcava a diferença eram as personagens, tudo o que engloba as suas personalidades, a “profundidade” que Martin alcançara. É isso que eu mais recordo, alguns pensamentos, algumas decisões, é isso o tema de conversa com os meus amigos. Mas, neste livro é diferente. A qualidade das personagens mantem-se, Martin já mostrou que não deverá falhar nesse aspecto, mas a história apesar de muito boa, era quase secundária em qualidade, tal é realmente a qualidade das personagens. Agora a história eleva-se a um novo patamar, destruindo, em muitos casos, aquilo que fomos construindo na nossa mente nos livros anteriores. Martin volta a arriscar, volta a surpreender e neste momento a questão é se irá parar, ou se um dia eu irei ler as suas páginas e pensar “isto foi previsível”, porque até agora quase nada o foi. É este o seu segredo, o que nos leva a ler mais e mais. Primeiro faz-nos gostar das personagens, depois faz-nos temer por elas. Um personagem, mais ou menos importante, que numa página está reunido com os seus amigos, divertido e sem preocupações, na página seguinte está morto. A imprevisibilidade da vida está tão presente em cada capítulo que já não me dou ao trabalho de tentar adivinhar o que está para vir, limito-me a ler e a aproveitar cada reviravolta acreditando que haverá sempre mais no futuro, tal como há na própria vida.
Em termos de personagens há algumas que me espantam cada vez mais. Começo, sinceramente, a ficar fã de Jaime enquanto Tyrion e Jon conseguem manter o nível dos anteriores livros. Achei que em termos de número de páginas Daynerys perdeu algum do peso que tinha, mas os seus capítulos são bem preenchidos, com decisões difíceis de tomar e boas revelações, o que compensou. Os capítulos de Arya surpreenderam-me, e se houve um momento em que achei o seu “regresso” a casa com um ou outro acontecimento mais “forçado”, neste livro perdi essa sensação e gostei sinceramente.
No entanto o que marca neste livro é o que acontece em 5 ou 6 momentos. Martin dá um murro no estômago de todos aqueles que leram este livro e a mim convenceu-me. O último capítulo é a prova do que falo. Martin dá-nos um fim fabuloso e garanto-vos que se tivesse o próximo livro já o estaria a ler!
No entanto há algo que devemos pensar: neste 6º livro Martin ainda não vai a meio da sua saga. Conseguirá ele manter este nível? Este ritmo? Este desenrolar frenético de acontecimentos? Sinceramente acho que não por dois motivos. Primeiro, porque esta qualidade é muito difícil de se manter, não por Martin não o conseguir, mas porque a própria história não o permitirá, em alguma altura terá de abrandar até para reflexão do que se passou. Nenhuma saga pode manter um nível tão elevado. Em segundo penso que Martin não irá manter este ritmo, porque sinceramente não o deve fazer. Se este ritmo se mantivesse durante muitos livros, iria exasperar todos os leitores que acabariam a pensar “já estamos aqui a enrolar, tanta coisa, tanta coisa e isto nunca mais acaba”. Penso sinceramente que Martin será obrigado a desacelerar e acredito que a série não perderá qualidade.
Quando li o 4º livro disse que “era o melhor livro da saga até então”, depois disse o mesmo sobre o 5º e agora voltarei a repeti-lo neste. A Glória dos Traidores é na realidade a Glória de George Martin. Um livro que está a outro nível, coroando Martin como o grande escritor da actualidade neste ramo. A sua complexidade é extraordinária e o trabalho para produzir e “movimentar” tal universo de personagens é de louvar. Este é, sem qualquer dúvida, uma obra-prima da fantasia, um dos melhores livros de sempre. Depois de colocar Tolkien na prateleira tornou-se difícil ser surpreendido pela qualidade de uma fantasia, mas Martin conseguiu.

Deixem-me as vossas opiniões!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Desafio: Leituras de Verão

Em parceria com o blog "GataPreta Artesanato" foi organizado um desafio relacionado com leituras!

Passo a explicar. Terão de:
1- GOSTAR das páginas GataPreta Artesanato e Ler y Criticar no facebook.
2- Partilhar ou Sugerir ambas as páginas no vosso Mural ou a Amigos.
3- Completar a frase "Uma boa leitura transporta-me para..." que estará presente no facebook da GataPreta Artesanato.
4- Adivinhar qual a personagem preferida de autor do blog Ler y Criticar. A resposta terá de ser enviada para o seguinte mail: lerycriticar@gmail.com (assim evitam-se os copianços!!!).
5- A frase com mais GOSTOS ganha, por isso peçam aos vossos amigos para votar!; Quem acertar na resposta correcta também ganha. Em ambos os casos, se houver empate será feito um sorteio.
Apenas será contabilizada uma resposta. Mais de uma resposta da mesma pessoa invalida as respostas anteriores.

E qual é o prémio perguntam vocês?!
Não é um, mas dois prémios:
Uma capa para livros e um livro surpresa: o primeiro irá para a frase com mais Gostos no facebook da GataPreta Artesanato; o segundo para quem acertar na resposta correcta (ou quem for sorteado).

Poderão concorrer para este desafio a partir de hoje até dia 9 de Setembro.
Os vencedores serão anunciados dia 10 de Setembro.
Estes desafios apenas são válidos para Portugal Continental e Ilhas.

Qualquer dúvida ou questão sobre o desafio, como se faz a partilha/sugestão a amigos no Facebook, não hesitem em contactar (gatapretaartesanato@sapo.pt) ou para (lerycriticar@gmail.com)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Autor: Thomas Harris

Título original: The Silence of the Lambs

Pouco tempo após acabar Dragão Vermelho peguei neste livro, o segundo da saga de Lecter (se não tivermos em conta que o último livro a ser publicado é na realidade o primeiro cronologicamente). Tal como acontecera no anterior, ainda não tinha visto o filme, e devorei estas páginas com a esperança de conhecer mais de Hannibal Lecter e tal aconteceu para enorme satisfação.
Lecter passa de personagem muito secundária do livro anterior para a personagem que é o grande motor deste livro. Uma vez mais será pedida ajuda ao Canibal na procura de um serial-killer, desta vez de nome Buffalo Bill. Começando pelo serial killer, achei-o pior do que a Fada dos Dentes, serial-killer do anterior livro. O autor dá-lhe menos importância, menos detalhe e acho que os motivos se perderam um pouco, mas devo salientar que a descrição da suposta transformação desta personagem em certa altura do livro está muito bem conseguida. Outro aspecto que me desagradou ligeiramente foi o facto de este serial-killer também ter como objectivo a “transformação” para algo mais belo ou superior, tal com acontecera no anterior livro. Contudo é um pequeno detalhe que não estraga o livro.
A personagem principal deixa de ser Will e passa a ser Clarice, e aqui há uma evolução (e reparem que apreciei bastante Will, principalmente pelos traumas inerentes à captura de Lecter). Clarice foi uma personagem que me fascinou, pelo seu passado, pelos seus medos e traumas de infância. De Will pouco sabíamos enquanto passado, e os seus medos eram quase todos ligados a Lecter, que apesar de muito bem construídos, deixam algum vazio. Com Clarice o medo a todo o mito "Lecter" está presente mas são os seus anteriores traumas que ganham magnitude e ajudam-nos a conhecer esta mulher e a perceber as suas acções durante o livro.  
Mas o que torna este livro imperdível é Hannibal. É na minha opinião uma das melhores personagens que já li, diferente de todas as que conheço, e pelo que vejo, será sempre o grande trunfo da escrita de Thomas Harris. Falando um pouco da escrita de Harris, no livro anterior achei-a um pouco básica, apesar de se notar conhecimento na área em que escrevia, mas sentia que faltava aquela capacidade de criar um verdadeiro terror no leitor. Claro que é apenas uma opinião pessoal. Neste livro Harris evolui muitíssimo, criando momentos de puro suspense, que quase nos fazem não respirar e ler à velocidade da luz. Não é fácil esquecer o momento em que Clarice percorre o corredor até encontrar Hannibal pela primeira vez. Aqui sim, senti o medo da personagem, bem vivo e vincado, o terror sufocante que tanto me agradou. Os diálogos entre Hannibal e Clarice são fantásticos, bem criados e com significado escondido, tudo graças às palavras de Lecter. Esta é daquelas personagens que partilha a capacidade clarividente que apenas um autor pode dar a uma personagem.
Tentando não estragar qualquer momento de suspense a quem ainda não leu o livro, devo apenas dizer que há realmente momentos que ficam marcados na nossa memória, desde o início até ao fim, como o quase interrogatório de Hannibal a Clarice, feito por pura curiosidade que nos leva a suspeitar do futuro entre os dois, enquanto Clarice revela pormenores da sua infância que dão o nome ao livro.
Depois de ler o livro acabei por ver o filme. A adaptação está muito boa, com uma ou outra mudança que não retiram qualidade. No entanto o livro prima por nos dar mais a conhecer de Clarice, muito mais (e aqui aplaudo Thomas Harris por entrar de forma brilhante dentro da mente feminina), ficarmos a saber muito mais sobre Jack Crawford e principalmente de Hannibal. Um livro recomendado mesmo a quem já tenha visto o filme.
Voltarei um dia a ler este livro, agora com a voz e olhar de Anthony Hopkins na minha memória. Quem sabe se não voltarei a arrepiar-me quando ler a frase: “Hello Clarice”. Voltarei certamente a tirar prazer da leitura, irei provavelmente descobrir novos significados das falas de Hannibal, que irá sempre espantar-me.
Se gostam de thrillers e de personagens marcantes, com personalidades únicas, então este livro não pode ser perdido.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ARCANUM

Autor: Thomas Wheeler

Título original: Arcanum

Antes de dar a minha opinião sobre este livro quero apenas explicar que este livro que vos trago hoje também pode ser encontrado nas livrarias pelo nome “Clube Arcanum”. Trata-se do mesmo livro, editado em momentos diferentes, com nome e capa diferente. Como tal deixo-vos aqui as duas capas para que percebam que se trata do mesmo livro.

Falando agora do livro devo começar por explicar que o autor deste livro traz-nos personagens reais como Sir Arthur Conan Doyle, H. P. Lovecraft ou ainda Houdini. Tais personagens, se bem construídas, dariam a este livro o essencial para ser lido.
O início é cheio de acção mas é com a introdução das personagens principais que este livro ganha interesse. Distintas, com personalidades fortes, a interacção é bem conseguida durante todo o livro. Contudo, achei que estas personagens acabam por perder algum do fulgor com o passar das páginas. Tanto Houdini como Doyle, mostram-se no início como homens de fabulosas capacidades, principalmente para antever acções ou decisões no ambiente que os rodeia. Se tal no início é muito bem conseguido e me fascinou, já no fim pareceu-me que essa capacidade desapareceu, tornando-os quase vulgares tendo por comparação aquilo que demonstram até pelo menos meio do livro.
A história é bem conseguida e de fácil leitura. Uma escrita que nos dá menos descrições e mais acção, ao estilo de Dan Brown, Wheeler consegue prender-nos ao livro se gostarmos do género. Estes thrillers sobrenaturais estão, na minha opinião, muito batidos e é raro aparecer algo que se destaque, principalmente se tiver como base a luta entre o Bem e o Mal, o Céu e o Inferno. Arcanum é dentro do seu estilo um bom livro, que nos leva para uma América que em 1919 ainda vive dos traumas da Grande Guerra (Primeira Guerra Mundial), oferecendo um ambiente interessante. Para quem não aprecie este género de livros Arcanum poderá ser apenas mais um livro, sem grandes aspectos a serem recordados. Eu apreciei-o por ser um livro rápido, sem tempos mortos, cheio de adrenalina e suspense, um bom livro de férias, onde não precisamos de pensar muito para percebermos o que o livro nos está a oferecer. No entanto este livro poderia ter sido algo mais, as suas personagens assim o exigiam, principalmente no fim, onde se pedia algo de genial a ser feito por Houdini, Doyle ou Lovecraft. Tal, na minha opinião não acontece, e deixou-me desiludido, principalmente quando a personagem de Houdini se mostra com um ego tão grande (e incrivelmente divertida devido a isso mesmo), esperava algo mais, ou pelo menos algo diferente.
Se gostarem de thrillers que tenham algo de sobrenatural, então este livro não desiludirá graças ao seu ritmo e personagens cativantes com bons diálogos e muita acção. Se este género for algo que nunca tenham apreciado, não será este o livro que vos fará mudar de ideias.
Este é um livro que por vezes é mais um filme pela acção do que um livro pelas descrições e tal facto agradará a uns e desiludirá outros.
Deixo-vos aqui a sinopse para que possam decidir se poderá ser uma boa aquisição.

Estamos em 1919 e a Grande Guerra chegou ao fim. Mas nas sombras da civilização as mortes apenas acabam de começar. Nestes tempos perigosos em que a linha entre ordem e caos ameaça extinguir-se, um grupo de visionários jura proteger a humanidade. São conhecidos como Arcanum. Quando Konstantin Duvall, o fundador do Clube, morre de forma suspeita em Londres, cabe ao mais antigo membro, o famoso escritor Sir Arthur Conan Doyle, investigar o caso. Pois da biblioteca secreta do morto desapareceu o artefacto mais poderoso do mundo: o Livro de Enoque. Este é um crime que ameaça ser muito mais do que uma guerra entre seitas ou nações, mas sim a derradeira batalha entre o Céu e o Inferno. Arcanum é um thriller brilhante e original sobre o religioso e o sobrenatural. Repleto de drama, suspense e algumas das personagens mais marcantes da história, como o mágico Houdini, o estranho escritor H. P. Lovecraft e o engenhoso Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes.   

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Senhor dos Anéis Vs A Guerra dos Tronos

Primeiro que tudo devo dizer que já li O Senhor dos Anéis mas ainda só li os 3 primeiros livros da saga Game of Thrones (os 6 livros da edição portuguesa) e como tal farei este texto com base no que li até agora.

Foram várias as pessoas que nos últimos tempos me perguntaram: É a saga Guerra de Tronos (GOT) melhor do que O Senhor dos Anéis (LOTR)? Qual é o melhor livro da fantasia? Eu não darei a resposta, mas deixarei aqui aquelas que serão para mim as principais diferenças.
Primeiro deixem-me explicar porque não irei responder a essa pergunta e porque é que nunca o fiz de forma objectiva… porque para mim uma saga é um todo, e GOT ainda não acabou. Quando Martin acabar de escrever a sua saga então eu terei a minha opinião bem definida, até lá não o farei.
Em segundo lugar existe o problema de comparar duas sagas que pouco, ou quase nada têm em comum. Primeiro temos LOTR, escrito na fase da Segunda Guerra Mundial, numa altura em que ninguém lia fantasia e quando criar uma história onde árvores falavam e andavam era no mínimo impensável. GOT por seu lado é escrito numa altura em que a fantasia cresceu, é aceite pelo público e muito graças a LOTR. Outro ponto onde diferem é sobre a base da história, o que a faz ser única. LOTR é uma história sobre a guerra entre o bem e o mal, mas o que a torna única é o mundo, o Universo que Tolkien criou, que revolucionou toda a fantasia e que até hoje nunca ninguém conseguiu chegar perto. Neste ponto, a minha opinião é que Martin está muito longe de atingir a quase perfeição do mundo que Tolkien inventou.
Mas GOT não tem como base um mundo, mas sim as suas personagens, credíveis, humanas, quase sem percebermos de que lado estão a jogar. E aqui, nas personagens, Martin vence Tolkien.
O terceiro ponto onde estas duas sagas diferem (pelo menos na minha opinião) é aquele ponto que todos forçam comparar, na fantasia. Neste ponto darei a minha opinião objectiva: Tolkien inventou um livro de fantasia, o melhor, o que revolucionou tudo… Tolkien escreveu um livro de fantasia puro, Martin não o faz. Aliás, a fantasia que Martin criou no seu livro não traz nada de novo, e já muitos outros fizeram algo parecido. Não, para mim, Martin escreveu um livro que tem algo de fantasia, mas não é isso o seu livro, o seu livro é um entrelaçado de personagens realistas com os seus interesses, medos e destinos incertos. A fantasia aparece apenas de vez em quando e não marca. Esta é para mim a grande diferença.
Passemos a outras mais óbvias: as personagens de Tolkien são mais previsíveis, mais estereotipadas, ao contrário de em GOT onde a mudança de lado e o realismo está presente em cada personagem, e muitas vezes não o percebemos. Neste aspecto prefiro GoT, pois ao olharmos para LOTR percebemos que Sam será sempre amigo de Frodo, que Boromir mais cedo ou mais tarde acabará por tentar roubar o anel, que Faramir nunca o fará, entre muitas outras coisas. Em GOT tal não acontece, pois a cada página uma personagem pode “mudar de lado” devido a uma necessidade de algo, de cumprir um objectivo, seja ele qual for.
Esta imprevisibilidade nas personagens de Martin é o espelho da sua escrita, imprevisível. Uma vez mais difere de LOTR porque a verdade é que qualquer personagem, por mais principal ou adorada que seja, poderá morrer na página seguinte. Uma vez mais, trata-se de uma escrita mais próxima da realidade se olharmos ao “desenrolar da história”. Martin arrisca em certas mortes e tramas, e arrisca bem!
Ainda no tipo de escrita, Tolkien escreve uma história com descrições extensas, por vezes belas, por vezes alegres e tristes. Martin corta com esse conceito e dá-nos um lado visual mais adulto, com a violência normal numa guerra, com sexo e com todo o ódio e desprezo que a mente humana é capaz de produzir. Nas descrições outra diferença importante é que Tolkien criou um mundo mais do que uma história, e como tal são muitas as páginas que a sua mente prodigiosa criou sobre as descrições dos locais, do passado, da cultura, dos hábitos… Martin não o faz. Usa descrições rápidas, sem grande beleza ou magnitude, mas nunca me senti perdido ou a achar que algo faltava.
Outra diferença importante é como as personagens nos são “dadas”. Tolkien descrevia-as, falando-nos sobre as suas mentalidades, medos, passado, traumas, etc… Martin não o faz da mesma forma. O que faz é dar-nos a história pelos seus olhos, aproximando-nos da personagem em questão a cada capítulo. Desta forma a personagem é-nos dada a conhecer enquanto a história se desenvolve, sem grande quebra de ritmo e sem cansar o leitor. Claro que este tipo de dar a conhecer as personagens ajuda-nos a perceber algo mais profundo, aquilo que falta a outros livros e aqui Martin é mestre por nos revelar o intimo de cada mente. Ao sabermos mais sobre as suas personagens percebemos cada vez mais que existem menos diferenças entre elas do que aquilo que nos é dado no início. Aliás, são muitas as personagens que ainda não percebi se encaixam no lado “bom” ou no “mau”. A questão é: existe uma diferença entre o bem e o mal em GOT? Em LOTR essa diferença é marcada bem cedo e são poucas as personagens que mudam de lado, já em GOT uma vez mais existe um realismo associado a certas necessidades, como a sobrevivência, que levam muitas personagens a mudar de lado enquanto outras caminham sempre na linha que separa o bem do mal.

Como disse antes, não vou aqui dizer qual é o melhor no global, essencialmente porque são livros demasiado distantes na sua base e porque GOT ainda não acabou. Não faria sentido dizer agora que GOT era melhor ou pior sem saber o seu final e até que ponto Martin terá a genialidade necessária para dar a este seu mundo um final que seja ao nível do que nos habituou.

Mas há algo que posso fazer para já, dizer num ou noutro aspecto o que acho se os tentarmos comparar: nas personagens Martin ganha, pela sua maior riqueza, realidade e complexidade.
Na história em si Martin ganha por um único motivo: é imprevisível.
Na forma como escreve Martin volta a ganhar porque descreve enquanto desenvolve a história, não quebrando o ritmo e porque tem o golpe de génio de nos dar cada capítulo pelos olhos de uma personagem diferente, e assim conseguimos conhecê-la melhor, perceber as suas acções e acima de tudo, faz-nos gostar, em alguns casos, tanto dos supostos bons como dos maus.
No mundo onde a história se desenrola Tolkien é Rei, e na minha opinião não existe sequer comparação. O mundo de Tolkien é tão soberbamente rico e tão inovador para a altura que até faz confusão tal ser criado naquela fase da história da humanidade. A fantasia criada por Tolkien é aquela que marcou todo o género literário até agora e por mais ramificada que esteja actualmente, é raro o livro da fantasia onde não vemos um ou outro ponto onde pensamos “Tolkien está aqui”.
Se tentarmos dizer qual o melhor livro de fantasia de sempre, é indiscutivelmente O Senhor dos Anéis, porque é o melhor em todos os parâmetros da fantasia. Got não é, por comparação um livro de fantasia. GoT tem dragões, tem uns mortos que voltam à vida (não irei aqui revelar tudo o que acontece de fantasia) e pouco mais… é preciso explicar aqui tudo o que LOTR tem de fantasia nas suas páginas?
Mas se retirarmos da pergunta inicial a palavra “fantasia” tudo muda. Qual é o melhor livro? A minha resposta, não sendo objectiva, é a seguinte: LOTR é o livro mais vendido e mais aclamado que existe, posto constantemente em primeiro lugar por leitores ou críticos como a maior obra-prima da literatura… durante todos estes anos muitos foram os que esperaram por algo que se pudesse comparar, nunca ninguém conseguiu. Agora Martin chegou e as comparações e as questões levantaram-se… Martin pode nunca bater Tolkien, como também o pode superar, para mim não é essa a questão… o que devemos pensar é: o que Martin escreveu ao ser comparado a LOTR tem, obrigatoriamente, de ser bom, muito bom. Nós nunca comparamos o que é bom com o que é mau. E como tal, Martin tem uma fabulosa saga, que ficará na história (se conseguir manter o nível) e que será lida e recordada durante muitos anos. Eu para já estou a adorar, estou completamente viciado e admirado pelo grande trabalho de Martin, porque é a melhor saga dos últimos anos e ninguém a deve perder.
Esqueçam a resposta sobre qual é a melhor, leiam os dois e decidam por vós próprios… é o que eu estou a fazer.

Espaço ainda para pedir desculpa pelo texto tão grande, mas seriam vergonhoso falar destas duas sagas em apenas algumas linhas. Deixem-me as vossas opiniões, digam-me o que gostaram mais nos livros, quer tenham lido as duas sagas ou apenas uma.